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Cidades

Áudio de operação cita depósito de R$ 30 mil para liberar carga de cigarro

Ação da PF foi contra grupo criminoso "extremamente empenhado na corrupção de agentes públicos"

Aline dos Santos | 12/08/2019 09:43
Justiça Federal de Campo Grande negou liberdade para preso na operação que investigou contrabando de cigarro e pagamento de propina a policiais. (Foto: Henrique Kawaminami)
Justiça Federal de Campo Grande negou liberdade para preso na operação que investigou contrabando de cigarro e pagamento de propina a policiais. (Foto: Henrique Kawaminami)

Alvo da operação Trunk, o grupo criminoso que explorava contrabando de cigarro é classificado em decisão judicial como “extremamente empenhado na corrupção de agentes públicos” e, num exemplo, há interceptação telefônica que cita depósito de R$ 30 mil na conta de um dos integrantes do esquema. O valor era para liberar carga apreendida em Sidrolândia. A operação também levou dois policiais rodoviários federais para a prisão e envolve vereador da Paraíba.

Na gravação, realizada em 31 de outubro de 2018, Francisco Job da Silva Neto, apontado com um dos chefes do esquema, pede para Paulo Henrique Xavier, sacar a quantia de R$ 30 mil, que teria sido depositada em sua conta corrente. De acordo com o relatório, a quantia era para tentar liberar carga apreendida pela Polícia Militar de Sidrolândia. O documento não informa se a ação foi bem sucedida.

No dia 31 de outubro do ano passado, Paulo teria atuado como batedor avançado de uma carga, na rota Campo Grande a Maracaju, trajeto que passa por Sidrolândia. Em outra interceptação, Paulo, também sob as ordens de Francisco, passou a atuar no transporte de cigarros por meio de carros de passeio. Os dois conversam sobre a viabilidade do transporte e da venda dos produtos. Paulo demonstra expertise sobre a comercialização dos cigarros contrabandeados em Campo Grande, citando as marcas de preferência.

Francisco Job foi preso no dia 31 de julho pela PF (Polícia Federa), em Ponta Porã, fronteira com o Paraguai. Ele passou por audiência de custódia na Justiça Federal de Campo Grande em primeiro de agosto. Na ocasião, utilizava tornozeleira eletrônica, faltando apenas 17 dias para completar seis meses de uso e se livrar do dispositivo de monitoramento eletrônico.

Já Paulo Henrique Xavier teve a liberdade negada no último dia 8 pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande. No pedido de revogação da prisão preventiva, a defesa de Paulo alegou que ele é primário, com bons antecedentes, tem ocupação lícita e se apresentou espontaneamente à Policia Federal.

Policiais Moacir (de camisa azul) e Alaércio (camiseta branca) chegando para audiência de custódia (Foto: Clayton Neves)
Policiais Moacir (de camisa azul) e Alaércio (camiseta branca) chegando para audiência de custódia (Foto: Clayton Neves)

Contudo, a decisão judicial aponta que Paulo Henrique tinha múltiplas funções na organização criminosa: batedor, motorista, na corrupção ativa de policiais e, por fim, às vezes, na venda dos produtos contrabandeados. “Percebe-se que ele atuava com plena confiança dos chefes da associação”, informa a decisão. Os chefes citados são Francisco Job e José Antônio Mizael Alves.

A prisão foi mantida para manter a ordem econômica, garantia da ordem pública e garantia da aplicação penal. “É possível constatar, durante toda a investigação, que o grupo criminoso é extremamente empenhado na corrupção de agentes públicos, dentre esses, como interesses manifestos, policiais rodoviários federais e estaduais, policiais militares e agentes da Receita Federal”.

Em 4 de fevereiro de 2019, Paulo foi barrado em barreira e teve carro e carga apreendidos após tentativa frustrada de corrupção dos policiais. O grupo investigado na operação da Polícia Federal atua desde 2015.

No período de julho de 2018 a março de 2019, foram aprendidos quatorze caminhões e dois carros de passeios, todos lotados de cigarro. Durante oito meses de investigação, o prejuízo ao erário público foi calculado em R$ 42 milhões.

Num único flagrante, a carga foi avaliada em R$ 3 milhões. A operação prendeu, em Dourados, os policiais rodoviários federais Moacir Ribeiro da Silva Netto e Alaércio Dias Barbosa. Nas gravações, o posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) é chamado de “casinha”.

Com o dinheiro da propina, Alaércio teria arrendado o Prime Motel e Pousada, localizado em Ponta Porã. A operação cumpriu mandados na Capital, Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Embu-Guaçu (SP) e São Bento (PB). O nome da operação faz referência ao modo de operação da quadrilha, que utilizava caminhão-baú para transporte do cigarro contrabandeado do Paraguai.

Motel em Ponta Porã foi arrendado por PRF suspeito de receber propina da Máfia do Cigarro. (Foto: Divulgação/PF)
Motel em Ponta Porã foi arrendado por PRF suspeito de receber propina da Máfia do Cigarro. (Foto: Divulgação/PF)
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