Cansadas, famílias de MS preferem não acompanhar júri de caso da boate Kiss
Acusados de serem os responsáveis pelo incêndio, quatro réus serão julgados a partir desta quarta-feira
Passados quase nove anos do incêndio, que matou três jovens de Mato Grosso do Sul, entre as 242 vítimas na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), quatro réus vão a júri popular hoje (1º), no Foro Central de Porto Alegre. O júri está previsto para começar às 9h e deve se estender por vários dias.
Nascida em Chapadão do Sul, a 331 quilômetros de Campo Grande, Flávia de Carli Guimarães, na época, estava com 18 anos. O campo-grandense David Santiago Souza, com 23 anos, era acadêmico de Odontologia da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e Ana Paula Rodrigues, que estava com 21 anos, morava em Mundo Novo, a 463 quilômetros da Capital.
Diante da dor da perda, da revolta pela negligência dos acusados e demora da Justiça para julgar o caso, alguns dos familiares preferiram não ir ao júri. Prima de Flávia, Franciele Schultz conta que os parentes já desistiram de acompanhar os desdobramentos do processo.
“A mãe da Flávia já é falecida e a tia dela, minha mãe, preferiu não acompanhar o júri pela situação revoltante e pelo tempo do acontecido. Tanto ela quanto o pai da Flávia preferiram, já faz tempo, não mexer mais com isso. Eles moram em Palmeiras das Missões, onde a Flávia morava com eles”, conta Franciele.
Pai de Ana Paula, José Rodrigues, não irá ao júri e não sabe se os parentes em Santa Maria irão. “Minha enteada, que é irmã da minha filha, mora lá, mas não sei se vai acompanhar mais essa instância. É complicado pensar e lamentar o que aconteceu. Dinheiro nenhum traz minha filha de volta. Se tivessem tomado todas as providências legais, se tivesse extintor, nada disso teria acontecido”, lamentou o pai.
No dia 27 de julho de 2016, a Justiça de Santa Maria acolheu a denúncia do Ministério Público e proferiu sentença de pronúncia, determinando que os réus sócios da Kiss, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Augusto Bonilha Leão, acusados de serem os responsáveis pela tragédia, fossem julgados pelo Tribunal do Júri.
No mesmo ano do incêndio, foi criada a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, com mais de 28 mil assinaturas. Eles pediam apoio do Ministério Público para conseguir que fosse feita justiça.
Incêndio - No dia 27 de janeiro de 2013, a casa noturna no centro da cidade de Santa Maria pegou fogo depois que um sinalizador foi aceso. Sobreviventes disseram que o extintor de incêndio não funcionou. Faíscas atingiram o teto revestido de espuma e a fumaça tóxica deixou todos em pânico.
Superlotada, a boate tinha entre 800 e mil pessoas, sendo que a capacidade era para 690 pessoas. Sem saber o que acontecia, seguranças impediram a saída das pessoas.
Houve explosão e muitas pessoas tentaram buscar ar nas janelas do banheiro, mas morreram ali mesmo, enquanto alguns conseguiram sair. Muitos sobreviventes precisaram ficar hospitalizados e tiveram sequelas.