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Em 5 anos, além de prender “intocáveis”, Omertà rendeu 269 anos em condenações

No dia 27 de setembro de 2019, manchete do Campo Grande News foi a prisão de Jamil Name e do filho

Por Anahi Zurutuza | 27/09/2024 18:23
Jamil Name Filho deixa Tribunal do Júri algemado após condenação em 19 de julho de 2023 (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Jamil Name Filho deixa Tribunal do Júri algemado após condenação em 19 de julho de 2023 (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

No dia 27 de setembro de 2019, Campo Grande acordou com notícia de sobressaltar qualquer um: Jamil Name e o filho, Jamilzinho, estavam presos sob a acusação de comandar milícia responsável por execuções em série na cidade. Há cinco anos, a sociedade campo-grandense conhecia a Operação Omertà, a força-tarefa que uniu polícia e Ministério Público em investida contra organização criminosa ativa há décadas, batizada com termo italiano que faz referência à lei do silêncio imposta pela máfia.

Às 6h39, o Campo Grande News noticiou que efetivo policial pesado estava na mansão do poderoso empresário no Jardim São Bento, e às 7h25 daquela sexta-feira ensolarada, a capa do jornal já estampava: “Empresário Jamil Name e filho são presos em operação contra milícia”.

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Jamil Name à direita do filho, Jamilzinho, em foto de família (Foto: Reprodução)
Jamil Name à direita do filho, Jamilzinho, em foto de família (Foto: Reprodução)

De lá para cá, além de levar “intocáveis” para a prisão e ir às ruas sete vezes em combate ao grupo, a Omertà se desdobrou em 21 ações penais que denunciou os líderes e envolvidos pelos crimes de organização criminosa, obstrução à justiça, extorsão, posse e porte ilegal de armas, receptação, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e homicídio.

“Configurou-se em uma das maiores ofensivas contra o crime organizado já realizada em Mato Grosso do Sul, dedicada à desarticulação de milícia armada conectada à exploração do jogo do bicho, atuante há décadas, sem enfrentamento pelo Poder Público. Pior que isso: com agentes de segurança pública cooptados para usar o treinamento obtido nas academias mantidas pelo Estado para proteger, e praticar, um rol variado de ilícitos penais, inclusive crimes de sangue, a conhecida pistolagem, com uso de armamento pesado”, descreveu o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) ao divulgar balanço dos cinco anos da operação.

As investigações conduzidas pela Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), da Polícia Civil, e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), braço do MP, viraram processos que resultaram em condenações a 17 pessoas, sendo 11 agentes da segurança pública – entre policiais civis, militares e um federal, guardas civis metropolitanos e um delegado – punidos.

Jamil Name no dia de sua prisão, em 27 de setembro de 2019 (Foto: Valdenir Rezende/In memorian)
Jamil Name no dia de sua prisão, em 27 de setembro de 2019 (Foto: Valdenir Rezende/In memorian)

Personagem principal na trama desvendada pela Omertà, Jamil Name morreu no dia 27 de junho de 2021, aos 82 anos. Após deixar a casa no condomínio de luxo, naquela sexta-feira, sob forte escolta policial, o empresário nunca mais voltou. Réu em 13 ações penais, aguardava julgamento em cela da Penitenciária Federal de Mossoró, quando foi acometido pela covid-19 e morreu em hospital da cidade do interior do Rio Grande do Norte. O acusado de uma vida de crimes passou 639 dias preso e não enfrentou nenhum júri popular.

Extinta a punibilidade do pai, em decorrência da morte, Jamil Name Filho enfrentou “sozinho” o peso de dois veredictos vindos de “juízes do povo” o considerando culpado por ordenar assassinatos. A sentença mais recente rendeu a Jamilzinho 15 anos de prisão por mandar matar Marcel Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”.

“Ao levar para a prisão pessoas de sobrenome influente e seus comandados, a Omertà trouxe – além de mais de 269 anos de reclusão em condenações – os sentimentos de justiça, alívio e esperança para famílias que sofreram com a violência e os desmandos perpetrados para assegurar os negócios ilícitos ou, ainda, se vingar de inimigos por questões banais”, também delineou MP na “prestação de contas” de aniversário.

Agente do Gaeco e viatura da Garras dentro do condomínio no Jardim São Bento onde moravam Jamil Name e Jamilzinho (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Agente do Gaeco e viatura da Garras dentro do condomínio no Jardim São Bento onde moravam Jamil Name e Jamilzinho (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Para o MPMS, a força-tarefa cumpriu a missão constitucional do órgão investigativo, de proteger os direitos dos cidadãos e produziu efeitos que vão além de encarcerar criminosos.

Mexeu-se com nomes antes ‘intocáveis’. Mudou-se o olhar de resignação, e medo, gerado pela impunidade de longo prazo. Produziu-se, como poucos acreditavam, um impacto humano capaz de marcar a Omertà na memória da sociedade, notadamente para as famílias atingidas pelos crimes cometidos”, definiu o Ministério Público nesta sexta-feira.

O balancete também lembra que da operação, derivaram outras investigações e ofensivas contra grupos interessados em ocupar o espaço deixado pelos Name, como a Operação Successione no ano passado e nesta quarta-feira (26), a Operação Forasteiros.

Para o conjunto de integrantes do Gaeco, conforme a publicação de hoje, a Omertà operou transformação social. “Para Mato Grosso do Sul, se apresentou como disruptiva ao status quo, à visão de mundo que usualmente favorece os grupos dominantes nas relações de poder, os quais parecem inatingíveis, e não raras vezes de fato o são, justamente diante da sua imensa articulação pública e política e sua intrincada relação na tessitura social”.

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