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Cidades

Indústrias e Governo querem "laçar" não vacinados com pacote de medidas

Unificação de regras de biossegurança, passaporte da vacina e selo "livre da covid" são projetos em estudo

Nyelder Rodrigues e Gabriela Couto | 27/09/2021 12:44
Autoridades políticas, de saúde pública e do setor da indústria reunidas em evento nesta segunda-feira (27) no Albano Franco. (Foto: Marcos Maluf)
Autoridades políticas, de saúde pública e do setor da indústria reunidas em evento nesta segunda-feira (27) no Albano Franco. (Foto: Marcos Maluf)

"A pessoa tem o direito de não se vacinar, mas eu também tenho o direito de não querer essa pessoa na minha indústria. Não quer se vacinar? Fique em casa". A frase de impacto é do presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Sérgio Longen, durante discurso em evento nesta segunda-feira (27), que discutiu temas como passaporte da vacina, defendido pela maioria, mas ainda em estudo.

Proprietário de uma das principais indústrias locais do ramo alimentício, a Semalo, Longen encabeça uma das campanhas para buscar os que se negam a se vacinar, em parceria com o Governo do Estado, que lançou programas que visam "laçar" os não vacinados e estimular a economia estadual em um período de retomada.

"Vamos buscar no laço um a um. Temos que cobrar isso da população, pois é uma ignorância não vacinar diante de uma crise desse tamanho que enfrentamos. A minha empresa já cobra o passaporte e monitoramos a situação de todos", destaca Longen.

A temática Passaporte da Vacina dominou as conversas e discursos no evento desta manhã, no Pavilhão Albano Franco - um dos principais polos de vacinação contra a covid-19 em Campo Grande, que não teve o funcionamento interrompido, mesmo durante o evento.

"Nós empresários defendemos o passaporte e entendemos que essa é a maneira correta de avançar para a imunidade de toda nossa sociedade", conta o presidente da Fiems, que completa. "Precisamos convencer que vacinar é importante. Muitos não sabem que estão contaminados, entram em estabelecimentos e passam para outras pessoas".

O posicionamento de Longen e da Fiems vai contra o posicionamento de outros líderes e instituições que representam o comércio, como é o caso da CDL (Câmara de Dirigentes Logístas), Acicg (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande) e Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), em Mato Grosso do Sul.

Quanto as penalidades que as pessoas podem sofrer, Longen é contra multas, por exemplo, afirmando ser a favor do livre arbítrio de cada um. Contudo, ele reafirma que são necessárias ações para "buscar os mais resistentes".

Geraldo Resende (ao centro), chefe da pasta estadual de Saúde, ao lado de José Mauro Filho, chefe da pasta municipal de Saúde, assistem apresentação no Albano Franco. (Foto: Marcos Maluf)
Geraldo Resende (ao centro), chefe da pasta estadual de Saúde, ao lado de José Mauro Filho, chefe da pasta municipal de Saúde, assistem apresentação no Albano Franco. (Foto: Marcos Maluf)

Autoridades públicas também participaram do encontro no Albano Franco, como o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, e o pré-candidato tucano à sucessão de Reinaldo Azambuja (PSDB) ao Governo do Estado em 2022, Eduardo Riedel - que também é chefe da pasta de Obras e liderou a gestão estratégica do Governo por anos.

"É obrigação de todos os setores buscarem o alvará sanitário, testagem em massa e o selo da indústria e comércio livre da covid, que são programas que estamos lançando para ajudar na contenção da doença neste momento", explica Geraldo. Tais ações já haviam sido antecipadas por ele em entrevista ao Campo Grande News na semana passada.

Enquanto o Passaporte da Vacina visa criar regras de movimentação e aglomeração de pessoas pautadas na caderneta de vacinação de cada uma delas, há ainda a possibilidade de se apresentar, em breve, o projeto de biossegurança que vai delinear e unificar as regras relativas à prevenção da covid-19 em todo o Estado.

"Já não existe escassez [de vacinas] como no passado. Agora, é preciso buscar quem de fato não quer se vacinar, avançar nos índices de adolescentes vacinados, as doses de reforço em idosos até que alcancemos a imunidade coletiva", conclui Geraldo.

Mais ponderado que Geraldo, Riedel defende que o passaporte precisa de uma discussão mais ampla, antes que qualquer decisão seja tomada. "Não dá para dizer ainda que ela será implementada, nem que não será", comenta o secretário, que continua.

"Vamos privilegiar a liberdade individual. Temos que levar em consideração que é uma minoria que não está tomando a vacina. Se após essa discussão, entendermos que seja necessário por algum motivo, uma decisão balizada pela ciência, conhecimento e resultados, nós não exitaremos em aplicá-la", diz Riedel sobre o passaporte.

Para o tucano, primeiro é necessário fazer um trabalho de conscientização da minoria ainda resistente à vacinação, mostrando que elas tem responsabilidade, apesar da liberdade individual de cada um, colocando em risco a saúde pública.

Índice de imunização em adultos no Vacinômetro marcando 74,74% nesta segunda-feira em Mato Grosso do Sul. (Foto: Marcos Maluf)
Índice de imunização em adultos no Vacinômetro marcando 74,74% nesta segunda-feira em Mato Grosso do Sul. (Foto: Marcos Maluf)

Levantamento feito na semana retrasada pela reportagem do Campo Grande News indicava que cerca de 130 mil pessoas em Mato Grosso do Sul ainda não tinham tomado nenhuma dose da vacina contra a covid-19. Atualmente, 94% da população dos adultos - 18 anos ou mais - e grupos prioritários já tomaram ao menos uma dose.

Já 74% dos adultos - que representam 2 milhões de pessoas - estão imunizados no Estado, enquanto os números gerais ficam na marca dos 76% de vacinados e 56% de imunizados (que são aqueles que tomaram a dose única da Janssen ou completam o ciclo de duas doses da Pfizer, Coronavac ou Astrazeneca, vacinas disponibilizadas no Brasil.

Os dados são disponibilizados pelo painel Mais Saúde, mantido pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) e que ainda indicam que dos 447 mil idosos que precisam da dose de reforço, apenas 31% tiveram a terceira dose aplicada. Já entre adolescentes sem comorbidades - 12 a 17 anos - o índice é de 63% dos 278 mil listados.

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