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Cidades

Intervalo de picos da covid são cada vez mais curtos e 3ª onda pode ser em junho

Demora no processo de vacinação e desrespeito de medidas preventivas ajudam a gerar variantes mais letais

Guilherme Correia | 18/05/2021 12:04
Homem, de máscara, caminha na frente de loja fechada no Centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Homem, de máscara, caminha na frente de loja fechada no Centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

Ainda que o Brasil apresente redução nas mortes por covid-19, o País tem maior índice de infecções por coronavírus em toda a pandemia, acendendo alerta para uma terceira onda de casos e óbitos pela doença, prevista para o mês de junho. A grande diferença entre os outros dois picos é o intervalo maior. Da primeira para a segunda onda foram 4 meses. Agora, a diferença deve cair pela metade, com alteração em 2 meses.

Ao Campo Grande News, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, ressalta que esse recente crescimento tem causado preocupação ao Estado. “Pode ser fruto desse afrouxamento em relação aos cuidados que já enumeramos diversas vezes, como a realização de aglomerações ou festas".

Temos preocupação não apenas das variantes circulando no Brasil como essa da Índia. Se chegar, vamos ter uma terceira onda muito forte, com um acréscimo de pelo menos 50% nos óbitos pela covid no Estado", alerta Resende.

Segundo ele, parte disso pode ser atribuído a uma parcela da população que não toma os cuidados necessários para reduzir danos da covid-19, como uso de máscaras, higienização adequada e distanciamento social. “Estão pouco se importando com o comportamento da doença. O modus operandi que a população está oferecendo é a que o vírus 'gosta' - sem uso de máscaras, participando de festas clandestinas, além de reuniões sem qualquer tipo de cuidados mais elementares para que o vírus não se propague".

Ontem, durante coletiva, a secretária-adjunta Crhistinne Maymone mencionou que a mutação do coronavírus originada na Índia depois do país asiático sofrer maior colapso sanitário em toda a pandemia, já foi verificada em países próximos ao Estado, com principal preocupação relacionada ao Paraguai - o país vizinho, aliás, sofre colapso na saúde pública e particular.

O titular da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Geraldo Resende, reforça que o crescimento de casos é potencializado pelas novas variantes da doença, que surgem justamente a partir da alta circulação de indivíduos.

Terceira onda - Considerando registros de cada região, é importante ressaltar que Mato Grosso do Sul não teve “ondas” em períodos semelhantes a outros estados brasileiros, bem como em relação à média nacional.

Segundo dados do Ministério da Saúde, analisados pela reportagem, o primeiro pico na média de infecções por dia aconteceu em 28 de agosto e o seguinte cerca de quatro meses depois, em 22 de dezembro - já em relação ao Brasil, a "segunda onda" se estende do final de novembro até os dias atuais.

Uma das hipóteses para essas oscilações é a capacidade que o vírus tem de se adaptar e reagir às formas de ataque como anti-virais ou vacinas, como explica o médico infectologista Rodrigo Nascimento. "O vírus procura se modificar para ter mais capacidade de sobrevivência. Outras variantes deverão aparecer ainda, já que o vírus está disseminado, e com isso outras ondas poderão ocorrer", diz.

Segundo ele, o coronavírus encontrou no ser humano o "hospedeiro ideal" e desde os primeiros casos, foram centenas de variantes descobertas após a primeira forma viral encontrada, que tiveram origem em vários lugares do mundo, como no Reino Unido, África do Sul ou no Amazonas - essas, inclusive, confirmadas em Mato Grosso do Sul.

Por aqui, dados indicam que casos tiveram novo crescimento acentuado em 1º de abril, pouco menos de quatro meses depois do pico anterior. O índice voltou a cair por algumas semanas e, atualmente, vem crescendo de forma exponencial, cada vez mais rápido.

"A gravidade dessas ondas vai depender da eficácia das vacinas, que tiveram de ser elaboradas em um curto espaço de tempo. Mas tudo vai depender se elas serão eficazes, porque é muito 'obscuro' ainda, continuamos aprendendo muito com o vírus", explica o médico Rodrigo Nascimento.

Ainda segundo os registros oficiais, houve aumento de óbitos por covid em meados de agosto do ano passado e depois houve redução que se estendeu entre final de outubro e início de dezembro.

Na sequência, as mortes começaram a ter a maior alta, até então, mas diferente da média nacional, Mato Grosso do Sul teve redução entre o fim de janeiro e quase todo o mês de fevereiro. A partir daí, março e abril de 2021 foram os meses mais letais da pandemia, e desde o final do mês passado tem havido uma lenta redução nos óbitos, ainda em alto patamar.

Vacinação - De acordo com boletim extraordinário publicado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o número de casos tem aumentado ligeiramente no Brasil, enquanto o número de óbitos por covid-19 apresentou uma pequena redução, mas que "ainda não representa uma tendência de contenção da epidemia”, conforme diz a publicação.

Mesmo que a pequena queda nas mortes possa ser atribuída ao início do processo de imunização, inicialmente muito restrito a grupos mais vulneráveis à doença, vale ressaltar que o cenário não é favorável. Atualmente, o Mato Grosso do Sul tem menos de 10% de sua população imunizada com duas doses, sendo praticamente um consenso entre especialistas que a pandemia só será contida quando esse índice beirar os 80%.

"A observada manutenção de um alto patamar, apesar da ligeira redução nos indicadores de criticidade da pandemia, exige que sejam mantidos todos os cuidados, pois uma terceira onda agora, com taxas ainda tão elevadas, pode representar uma crise sanitária ainda mais grave”, publicou a Fiocruz.

O médico Rodrigo Nascimento explica que a dificuldade na fabricação de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), para que as doses sejam produzidas, faz com que haja atraso no processo de vacinação, única solução verdadeiramente eficaz para controlar a covid-19. "Não há insumos suficientes para a demanda exigida, há poucos países produtores de insumos. Países da Europa, de primeiro mundo, ficaram sem vacinas", comenta.

Além disso, ele também ressalta que o Brasil demorou a dar início na campanha de vacinação, por uma série de fatores como questões burocráticas para a liberação do uso de imunizantes. "A explicação que veio sobre a demora tinha a ver com exigências da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], de qualidade e segurança das vacinas".

O infectologista também comenta que outros países, que começaram a vacinação mais cedo, já começam a liberar atividades em geral sem restrições. "Países como os Estados Unidos ou outros lugares estão voltando com público em atividades esportivas, em outros lugares não há necessidade mais de máscaras".

Por isso que uma campanha de vacinação tem que ser em curto espaço de tempo, na maior quantidade de pessoas possível para não dar tempo a essas modificações", diz o especialista.

Considerando essa capacidade que o vírus tem de se modificar, principalmente onde a circulação de pessoas é alta e as medidas sanitárias não são praticadas de forma adequada, a pandemia pode vir a tomar novos rumos nos próximos meses. "Já conhecemos de muito tempo, de outras doenças - esses microrganismos procuram se modificar para se adaptar ao hospedeiro. Tão logo a gente comece a tentar destruir, ele vai tentar se modificar", finaliza.

Mato Grosso do Sul tem menos de 10% da população imunizada com as duas doses de vacina contra a covid (Foto: Kísie Ainoã)
Mato Grosso do Sul tem menos de 10% da população imunizada com as duas doses de vacina contra a covid (Foto: Kísie Ainoã)

Prevenção - O infectologista Rodrigo Nascimento comenta que mesmo que a sociedade aprenda diariamente novas particularidades da covid-19, já se sabe que por se tratar de uma doença viral de transmissão respiratória, é necessário praticar medidas de prevenção. "As pessoas precisam ficar distanciadas para evitar o contágio, principalmente quem tiver tossindo ou falando, sobretudo sem máscara. É fundamental manter essas condutas, e serviços podem até funcionar, desde que as normais sejam seguidas à risca".

Vale ressaltar que a pandemia não interfere exclusivamente em quem se infecta com coronavírus, mas também influencia em outros aspectos da saúde pública. Um dos vários fatores a serem avaliados é o índice de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) dedicados à doença.

De acordo com o periódico da Fiocruz, os gestores teriam de ampliar a capacidade de testagem e rastreio de casos, de forma a evitar novos doentes e reduzir a pressão sobre os serviços hospitalares.

"Os locais e atividades de interação social, principalmente em ambientes fechados, com grande número de pessoas e pouco arejados, devem continuar a ser evitados, seja no transporte público, eventos de massa e pontos comerciais. Somente essas medidas, aliadas à intensificação da campanha de vacinação, podem garantir a queda sustentada da transmissão e a recuperação da capacidade do sistema de saúde", diz a publicação.

Em outras oportunidades, foi esclarecido pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) que a ocupação hospitalar depende de outros fatores como doenças que não sejam a covid-19, disponibilidade de profissionais de saúde e avaliações hospitalares e clínicas de cada paciente.

Foi dito pela pasta municipal há algumas semanas que  a situação hospitalar em Campo Grande - município que recebe pacientes de pelo menos outras 30 cidades próximas, seguindo o fluxo da macrorregião de saúde - está em nível "controlado", sobretudo na comparação com meses anteriores.

"O município encaminha em média 100 pacientes por dia para os hospitais pertencentes à rede conveniada. Cabe ressaltar que, no último ano, Campo Grande triplicou o número de leitos de UTI, saindo de 116 para 337 leitos contratualizados na rede pública, privada e filantrópica para assegurar a assistência adequada à população", dizia nota encaminhada pela Sesau.

Conforme boletim estadual divulgado nesta terça-feira (18), mais de 267,6 mil pessoas tiveram covid-19 em algum momento da pandemia, sendo que 6.280 delas não resistiram e foram a óbito.

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