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Cidades

Para tirar discussões apenas de novembro, Coletivo Aiê quer "aquilombar" MS

Mostra com curtas metragens será realizada neste domingo (21), estreando publicamente o coletivo audiovisual

Aletheya Alves | 20/11/2021 06:30
Cena do curta "As Invenções de Akins", de Ulísver Silva, integrante do coletivo. (Foto: Divulgação)
Cena do curta "As Invenções de Akins", de Ulísver Silva, integrante do coletivo. (Foto: Divulgação)

“O coletivo é esse lugar, o nosso quilombo, onde vamos construir, tomar porrada e lutar juntos”. Cineasta e um dos fundadores do Coletivo Aiê de Cinema Negro, Raylson Chaves, de 23 anos, explica que o grupo foi reunido para fortalecer pessoas racializadas no espaço audiovisual. Trazendo para o dia de hoje (19) a reflexão de que discussões sobre a temática não podem ficar isoladas em novembro com o Dia da Consciência Negra.

Idealizado desde março, o coletivo será lançado publicamente amanhã com uma mostra de curtas-metragens. Explicando sobre o nome do grupo, Raylson relata que o motivo da escolha toma como referência a mitologia Yorubá, “escolhemos esse nome pela importância de demarcar os territórios nesse nosso mundo, pois na mitologia Yorubá, “Aiê” fala de terra, do mundo físico, o outro lado de Orun, o mundo espiritual”.

Raylson Chaves é um dos fundadores do Coletivo Aiê de Cinema Negro. (Foto: Divulgação)
Raylson Chaves é um dos fundadores do Coletivo Aiê de Cinema Negro. (Foto: Divulgação)

Atualmente, o coletivo é formado por nove pessoas de Campo Grande e, de acordo com o cineasta, a ideia é expandir para todo Mato Grosso do Sul. “Pensamos em criar um espaço nosso, um espaço de pessoas pretas que tenham interesse no cinema em MS. Fazer cinema em geral é difícil, fazer cinema negro em MS é mais ainda”, diz.

Com as discussões de novembro, Chaves conta que a mostra de domingo irá aproveitar para ampliar as percepções sobre o movimento negro. “Queremos falar sobre a temática do próprio cinema. Há um discurso de que pessoas pretas só podem falar sobre racismo no audiovisual, se elas falam sobre outras coisas, elas não estão fazendo cinema negro. Aproveitamos o gancho e um dos nossos objetivos é lançar gente nova, criar portfólio”.

Seguindo com a argumentação, Raylson explica que as movimentações do coletivo querem ampliar o campo de questionamentos através do cinema. “Só nesses momentos [Dia da Consciência Negra], essas pessoas aparecem. A ideia do coletivo é manter a mostra uma vez ao mês para levantar o debate. Queremos mostrar na arte que a gente é muito mais do que a temática do racismo”.

Participantes do coletivo em evento com o Grupo Trabalho e Estudos Zumbi. (Foto: Divulgação)
Participantes do coletivo em evento com o Grupo Trabalho e Estudos Zumbi. (Foto: Divulgação)

Além de trazer reflexões em eventos abertos ao público, Chaves argumenta que o coletivo busca, em sua base, oferecer oportunidades. “Nos organizamos enquanto grupo, enquanto pessoas racializadas, para produzir e reivindicar os editais de cultura. As pessoas que ganham costumam ser sempre as mesmas e as equipes são compostas em sua maioria por gente branca. Queremos lutar por um audiovisual que possamos falar que é nosso”.

Aquilombamento - Estudante de Arquitetura e um dos participantes do Coletivo Aiê, Leonardo Sales, de 28 anos, narra que antes das discussões propostas pelo grupo, não se imaginava fazendo cinema. “A gente consome essa coisa bem hollywoodiana e não pensa sobre um cinema mais acessível, mais próximo. Mais possível para a nossa realidade. Graças ao coletivo, eu estou escrevendo meu primeiro filme”.

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É a questão do aquilombamento, de ter pessoas que se fortaleçam, que se ajudem e que contribuam para o crescimento. Que abram as portas para outras pessoas, porque se não for esse trabalho de formiguinha que estamos fazendo, ninguém vai dar esse passo pela gente", Leonardo relata.

Sobre a importância de um espaço voltado para o cinema negro, Sales explica que a necessidade é maior do que para os próprios participantes. “É importante para outras pessoas que estão vindo. Temos várias pessoas pretas no curso de Audiovisual e os editais não costumam abrir espaço para elas. É uma coisa de tomar esse espaço mesmo, porque ninguém vai nos dar”.

Lançar para o mundo - De acordo com Leonardo, domingo (21) será o dia de iniciar os trabalhos do coletivo publicamente. “Queremos mostrar para as pessoas que é possível produzir cinema e que a gente pode”.

A Mostra Aiê de Cinema Negro será realizada no Laricas Cultural, que fica localizado na Rua Antônio Maria Coelho, número 1663. O bar estará aberto às 17h30min com entrada gratuita. Serão apresentados os curtas-metragens “Gente Humilde” de Gabriel Lima, “Luzes Debaixo”, de Tero Queiroz, “A Margem é o Centro”, de Thauanny Maíra e “Emfrente”, de Livia Lopes.

Agenda extra - Além do Coletivo Aiê de Cinema Negro, outras organizações também estão produzindo eventos. Hoje (20), o Sarau Remi terá atrações especiais para o Dia da Consciência Negra, contando com o Projeto Kzulo, Feira Unegro, capoeira, teatro, performances artísticas, arte urbana, grafite e exposição de arte terena, além de fotografias.

A Cufa (Central Unificada das Favelas) também terá evento com programação diversa em sua sede, entre as 16h e 22h, com entrada gratuita. O encontro será marcado por apresentações musicais, arte urbana, feira de artesanatos e oficina para tranças em cabelos crespos.

Na Comunidade Quilombola Furnas do Dionísio, será realizado o 1º Sarau Cultural Consciência Negra. O evento tem início às 8h30min neste sábado (20). Conforme divulgado, o sarau irá contar com apresentação do ofertório, do Engenho Novo, assim como das artesãs das Peneiras, de capoeira e música ao vivo.

Durante o período da tarde, o evento cultural continua com apresentação de dança dos alunos da Escola Estadual Zumbi dos Palmares e desfile afro. Às 16h, o sarau irá terminar com show de Tony Massa.

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