“Parece filme”: campo-grandense fala como está a Ucrânia após ataque da Rússia
Moradores e estrangeiros se preparam para ocupar abrigos antibombas da 2º guerra, espalhados por toda parte
Sirenes tocando pela cidade, aeroporto fechado, pessoas indo para o interior e compartilhando informações sobre os abrigos antibombas da Segunda Guerra Mundial, que estão por toda parte. Há dois anos morando na capital da Ucrânia, Kiev, com a namorada, o intérprete campo-grandense Ross Kasakoff, de 30 anos, fala como está o clima entre os moradores, após a invasão da Rússia, que enviou tropas ao leste do país hoje (24).
Todos são orientados a irem para vários abrigos antibombas. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que essa é uma "operação militar especial" na região do leste da Ucrânia para defender separatistas, que já dominam um estado do país, mas ninguém sabe se isso pode ser um confronto maior.
O governo de Kiev fala em "invasão total", segundo correspondente da Folha de São Paulo em Moscou, na Rússia, mas ainda não se vivencia “o pânico veiculado pelas mídias brasileiras", segundo Kasakoff. Ele conta que não se sabe o número exato de mortes em confronto no leste, mas em Kiev, todos estão em estado de atenção.
Os aeroportos estão fechados e eles ainda não sabem se realmente há invasões próximo da Capital.
“Já começou aquele clima de apreensão que pode suceder algo mais profundo. A mobilização já começou, sirenes, convocação dos reservistas. A Ucrânia está se mobilizando para sua defesa, mas está tudo na mão dos russos agora. Os moradores, assim como eu, até pouco tempo, não acreditavam em uma invasão, inclusive, as pessoas do leste. Porém, agora, a perspectiva mudou e as pessoas estão bem mais atentas às mudanças e começando se organizar nos grupos de aplicativos caso a situação piore”, conta o campo-grandense.
Segundo Kasakof, há “declarações soltas” de que bombardearam uma instalação militar em um local próximo de Kiev, mas não há essa certeza. “Esse lugar é semelhante ao nosso Indubrasil de Campo Grande”, explica.
Ele conta que, em Kiev, existe também uma especulação de que tropas da Bielorrússia começam a entrar pela parte norte do país, porém nada confirmado.
Antes do confronto começar, ele pensou em sair da Ucrânia, mas se preocupa com o trabalho. Kasakof é intérprete em uma clínica que trabalha com barriga de aluguel, procedimento legalizado na cidade. Casais inférteis do mundo inteiro vão para Kiev procurar tratamento. “Tenho muita responsabilidade em meu trabalho colaborando com casais brasileiros, inclusive, com alguns agora aqui na cidade.”
Em grupos de WhatsApp, os moradores trocam informações sobre locais dos abrigos antibombas, atualizações de conflitos e também se ajudam, pois os que estavam fora do país não puderam voltar devido ao fato de terem cancelado todos os voos. Algumas pessoas já foram para o interior.
A orientação do governo é permanecer em casa. “Sirenes já começaram a soar, mas disseram que é apenas teste. Parece filme, nem dá pra acreditar”, comenta.
3ª guerra? - “Em Kiev, não se acredita em expansão de ataques no país todo, porém não acreditávamos na invasão até algumas semanas atrás”, avalia o campo-grandense.
“A Rússia teve oportunidade depois da invasão de 2014 em ocupar mais território e não o fez, esperamos que seja a mesma situação”, comenta.
Ele conta que a empresa em que trabalha tem dois abrigos antibombas preparados para os clientes, que são bem estruturados com comida e equipamentos de segurança, mas não tem certeza se as demais da cidade tem uma superestrutura. “Os casais são prioridades, depois, eu vejo o meu. Agora, é rezar e torcer pra melhorar”, diz Kasakof sobre os planos de se abrigar, caso tropas entrem em Kiev.