Partos prematuros são causa de superlotação em UTIs neonatais de MS
Pandemia restringiu acesso de gestantes a acompanhamento pré-natal adequado
A falta de acompanhamento pré-natal adequado aumentou o número de nascimentos prematuros em Mato Grosso do Sul, o que tem esgotado as vagas em leitos intensivos para recém-nascidos.
Ontem, o Hospital Universitário da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) informou que as internações na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal, que mantém dez leitos, está suspensa devido a superlotação. A situação permanece nesta terça-feira.
Conforme já mostrou o Campo Grande News há duas semanas, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) cobra na Justiça que o Estado e Campo Grande implementem mais leitos neonatais, sendo que além de Campo Grande, apenas Dourados e Três Lagoas têm vagas intensivas para recém-nascidos.
Em audiência na semana passada, MP, Governo de MS e município acordaram em suspender a ação por 45 dias para que se tente entrar em acordo – Estado e Capital – com relação ao cronograma de implementação desses leitos.
Entretanto, a situação piora e apesar de Três Lagoas ter recebido seis leitos no começo do mês e Campo Grande mais cinco na Santa Casa em fevereiro – totalizando 60 em todo Estado – a quantidade de vagas necessárias parece não ter fim.
Em suas alegações no processo, a Procuradoria Jurídica da Capital enfatizou que desde o ano passado tem se verificado aumento expressivo de partos prematuros decorrentes de falta de pré-natal, o que é confirmado por representantes da Maternidade Cândido Mariano ao MP, que desde 2021 investiga a falta de UTIs neonatais em MS.
Em reunião recente – 24 de janeiro – o diretor-presidente da maternidade, Daniel Miranda, afirmou que muitas pacientes que chegam para parto não realizaram o pré-natal adequando e assim, não realizaram todos os exames necessários durante a gestação.
“Tal fato acaba por gerar aumento no número de recém-nascidos prematuros que necessitam dos leitos de UTI neonatal”, cita trecho da ata registrada no encontro.
Para a procuradoria municipal, “tal situação fática é a principal causa de lotação nas UTIs neonatais, exatamente porque a ausência de acompanhamento médico durante a gestação aumenta o risco de doenças maternas e fetais”.
A manifestação municipal em processo ainda salienta que “esta ausência intensificou-se durante a pandemia (...). A consequência direta é a gestação de alto risco, o nascimento prematuro de crianças, e a longa permanência nos leitos neonatais”.
Em relato ao Campo Grande News, a defensora pública da saúde, Eni Maria Sezerino Diniz, afirma que “com a pandemia houve dificuldade que mães tivessem acesso a determinados exames e medicamentos para esse acompanhamento pré-natal e a gente observou que isso acabou levando a uma situação de índice maior de partos prematuros e são esses casos que precisam de uma UTI Neonatal”.
Números – o MPMS também acompanha a situação do aumento de partos prematuros, em inquérito ainda em andamento. Nele, resposta da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) mostra aumento expressivo na quantidade de consultas agendadas para gestantes de alto risco.
Em dezembro do ano passado, foram 171; em janeiro deste ano, 836; fevereiro, 979; e em março, o agendamento é para 1.115 grávidas.
Levantamento da mesma pasta, entre agosto e outubro de 2019 e agosto e outubro e 2021, identificou também aumento na demanda desse tipo de atendimento originário de cidades do interior.
De seis casos em 2019 vindos de Aquidauana, no ano passado foram 13; de São Gabriel, esses atendimentos aumentaram de 10 para 18. No total, o crescimento foi de 60%, saltando de 130 em 2019 e 208 no ano passado.