Só investimento no pré-natal pode acabar com caos em maternidades da Capital
Número de bebês prematuros subiu de 18% para 21%, em 2021, sendo que a média nacional é 12%, segundo médico
Mães com filhos que nasceram antes do tempo sofrem ao saber que a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal está lotada, enquanto outras vão chegando para parir e descobrem que as salas de parto estão ocupadas pelos bebês prematuros que não couberam na UTI. A situação na Santa Casa de Campo Grande não é nova. Na Maternidade Cândido Mariano o cenário é semelhante, segundo o secretário Municipal de Saúde, José Mauro Pinto de Castro Filho, que já entregou quatro novos leitos, trabalha para entregar mais onze até março e reclama da demanda do interior do Estado.
Com 80% de prematuros a mais do que é capaz de atender, a Santa Casa improvisa e só atende mães em estado grave, com sangramentos e pressão alta, e as prestes a parir. A orientação do hospital é que as mães procurem outros hospitais ou a UBS (Unidade Básica de Saúde).
Parece ironia do destino, mas a recomendação é para que as mães procurem justamente a unidade básica, onde o pré-natal não tem sido feito como deveria, segundo o secretário de Saúde e coordenador médico da Maternidade da Santa Casa, William Leite Lemos Júnior.
O hospital alega que já informou a prefeitura sobre a superlotação e espera que a UBS encaminhe as mães prestes a parir a outros hospitais.
Problemas do pré-natal - Os dois afirmam que o pré-natal da rede pública precisa melhorar, mas apontam causas diferentes para o problema. Para o secretário de Saúde, o pré-natal foi prejudicado pela pandemia.
“Muitas gestantes não fizeram corretamente o pré-natal pelo medo do contágio da covid”, destaca José Mauro, lembrando que municípios do interior também mandam pacientes para a Capital. “Em Três Lagoas, por exemplo, eles tem o Hospital da Cassems com 50% de ocupação e o município poderia contratar leitos, mas optam por demandar para Campo Grande”.
A supervisora de Enfermagem da Linha Materna e Infantil da Santa Casa, Keila Ângela Domingos, conta que muitas das mães têm diabetes gestacional e boa parte confirma que não fez todos os procedimentos que deveriam no pré-natal.
A justificativa das mães é que a pandemia tem dificultado o acesso ao atendimento. O acesso existe, mas tem que ser de qualidade. As gestações que chegam são de alto risco”, relata.
O coordenador médico da Maternidade da Santa Casa aponta outra causa para o pré-natal “mal feito”, que acaba gerando recém- nascidos e mães com problemas de saúde não tratados, superlotando as UTIs neonatais.
Segundo William, o número de bebês prematuros na Capital subiu de 18% para 21%, em 2021, sendo que a média nacional é 12%.
“A abertura de novos leitos são medidas de curto prazo. A longo prazo, precisamos evitar que esses bebês e as mães fiquem doentes e isso passa por um pré-natal adequado, educação de famílias e dos profissionais. Muitos profissionais que atendem a gestante na atenção básica, infelizmente, não têm a capacitação adequada. A maioria é de recém- formados sem capacitação em medicina de família e comunidade ou alguma especialidade como pediatria ou obstetrícia”, explica.