À beira do colapso, maternidade da Santa Casa tem 53 pacientes para 33 leitos
Salas cirúrgicas são usadas como UTI neonatal e pacientes estão em cadeiras e macas, aguardando liberação de vagas
A maternidade da Santa Casa de Campo Grande vive semanas de “caos absoluto”, com lotação dos 33 leitos destinados à assistência materna-infantil. Hoje, segundo a definição do coordenador do setor, o obstetra William Leite, o hospital chegou “à beira do colapso, com risco grave de desassistência”.
Neste domingo, há mais 20 pacientes aguardando liberação de vaga e até sala cirúrgica está sendo usada para acomodar os recém-nascidos. A informação é que a Santa Casa está recebendo toda a demanda de Campo Grande, assumindo carga que deveria ser dividida com Maternidade Cândido Mariano e HU (Hospital Universitário). No Hospital Regional, o setor foi desativado desde a pandemia da covid-19, já que a instituição é referência no tratamento da doença.
Leite diz que há três semanas contínuas que a Santa Casa está com todos os 33 leitos destinados às gestantes e puérperas (pós-parto) ocupados e que a situação é remediada com a alta diária de pacientes. Porém, há casos graves e crônicos que precisam permanecer internados, o que dificulta essa liberação.
A alta demanda, segundo o coordenador, é consequência direta da redução da capacidade de atendimento na Maternidade Cândido Mariano e do HU, o que obriga a Central de Regulação a direcionar as pacientes à Santa Casa.
O que já era difícil, hoje, alcançou o limiar do impossível. Todos os 33 leitos estão ocupados e 20 pacientes aguardam atendimentos; dessas, 14 foram internadas, porém, somente admitidas no setor, mas ainda estão sem leito.
Segundo o médico, 10 dessas que aguardam leito estão dentro do centro obstétrico, 4 delas em pleno trabalho de parto, improvisadas em cadeiras ou macas, aguardado espaço no centro cirúrgico. As outras 6 está à espera de vaga.
Em efeito dominó, o atendimento aos recém-nascidos também está à beira do colapso. Uma UTI neontal foi improvisada, montada dentro de salas cirúrgicas. “São duas salas bloqueadas, que não estão sendo usadas para parto, com recém-nascidos que necessitam de cuidados”.
Há ainda recém-nascidos no espaço denominado PPP, ambiente único que abrange o pré-parto, parto e o pós-parto normal, mas que , devido à lotação, virou sala para os bebês. Pacientes também ocupam a sala de recuperação pós-anestésica de forma permanente, sem espaço nas alas de parto ou pós-parto.
O médico diz que a Central de Regulação reconhece o estrangulamento ocorrido por conta de problemas na Maternidade Cândido Mariano e do HU e disse que a orientação é que a Santa Casa não recebe aquelas pacientes que chegam ao local por meios próprios, sem aviso prévio. “A totalidade que vêm chegando está em estado avançado de parto e não conseguimos referenciar de volta para unidade de onde veio”, diz.
“A definição, neste momento, como chefe da linha classifico como caos absoluto, à beira de colapso total. Colapso já estamos vivendo na assistência materno-infantil, porque não temos como absorver”, alerta.
A assessoria do HU informou que enfrenta dificuldades no atendimento desde o dia 6 de agosto, recebendo pacientes de forma limitada, pois 4 das 12 pediatras da instituição estão em licença maternidade, além de 1 em férias. Com isso, a escala está sendo coberta por apenas 7 profissionais.
Em nota, a assessoria da Maternidade Cândido Mariano informou que “não foi possível preencher a escala de plantonistas da pediatria na sala de parto”, das 13h de hoje até 7h de segunda-feira (17). O motivo desse não preenchimento não foi esclarecido.
A diretoria disse o hospital realizou plano de contingência, acionando plantonistas na pediatria da Unidade Neonatal para dar suporte ao atendimento das gestantes em casos de urgência. Por conta da situação, solicitou ao Samu, Corpo de Bombeiros e ao Core (Complexo Regulador Estadual) o encaminhamento a outras instituições nesse período.
A assessoria informa que a maternidade está trabalhando para resolver a situação “o mais breve possível”.
A reportagem também entrou em contato com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e aguarda retorno.
#matéria atualizada às 15h16 para acréscimo de informações