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Cidades

Psiquiatra é luxo nos rincões, mas cidade pequena traz exemplo contra suicídio

"Existem tabus para todos os lados, do gestor, da sociedade", diz coordenadora da SES

Aline dos Santos | 25/02/2022 07:36
Campanha contra suicídios mostra mensagens de esperança e apoio. (Foto: Reprodução)
Campanha contra suicídios mostra mensagens de esperança e apoio. (Foto: Reprodução)

O retrato da saúde mental em Mato Grosso do Sul revela que somente 25 dos 79 municípios têm Caps (Centro de Atenção Psicossocial), local com atendimento multidisciplinar para os pacientes, e que psiquiatra é artigo de luxo pelos rincões do Estado. Mas também há bons exemplos: como a estrutura em Anastácio, cidade de 25 mil habitantes.

Dado de 2017, o último disponível pelo governo federal, aponta MS com a terceira maior taxa de suicídios no comparativo nacional. No ano passado, foram notificadas à SES (Secretaria Estadual de Saúde) 1.508 tentativas e 214 óbitos por suicídio.

“Ninguém dava muita importância para a saúde mental. A demanda é grande há anos. A pandemia só mostrou o quanto as pessoas sofrem e não procuram ajuda. Existem tabus para todos os lados, do gestor, da sociedade”, afirma a coordenadora da Rede de Atenção à Saúde, Michele Scarpin.

A rede de Caps é curta e, por exemplo, apenas Campo Grande conta com locais que atendem 24 horas. O cenário é decorrente da dificuldade de obter apoio do Ministério da Saúde para abertura de novos serviços e até da resistência dos gestores em investir na saúde mental. Nos municípios sem Centro de Atenção Psicossocial, a rede de cuidados se limita à atenção primária, onde os postinhos não contam com psicólogo e psiquiatra.

“Nos municípios pequenos, psiquiatra é artigo de luxo”, lembra a coordenadora. Com o número restrito, a SES tem três eixos de atuação na saúde mental. O primeiro ponto é a melhora na coleta de informações.

“A qualificação da informação tenta melhorar os nossos dados de notificação de tentativa de suicídio. Para conhecer a população mais impactada. Se é homem, mulher, escolaridade. Ter dados mais fidedignos dessa realidade”, diz Michele.

Série histórica mostra que homens se matam mais dos que as mulheres. (Arte: Thiago Mendes)
Série histórica mostra que homens se matam mais dos que as mulheres. (Arte: Thiago Mendes)

O segundo eixo é a prevenção, com ações em ambiente escolar, incluindo a capacitação dos educadores, além do envolvimento da comunidade. Os professores são orientados sobre quando acionar profissionais da Saúde e da Assistência Social.

Na gestão de cuidados, equipe da SES vai aos municípios com taxa alta de mortalidade por suicídio. “Auxiliamos na organização da rede. Avaliando o que tem disponível e como posso melhorar. Não tem psicólogo, assistente social? Qualifica o clínico geral, o enfermeiro para ofertar esse atendimento”. Em média, um mesmo paciente tenta suicídio por três vezes.

Nesse quadro de escassez de estrutura, Anastácio, a 122 km de Campo Grande, se destaca na atenção à saúde mental. “Anastácio é referência no Estado para prevenção ao suicídio, uma experiência exitosa. Com uma taxa alta e número de tentativas grande, o gestor contratou dez psicólogos na atenção primária, conseguiu montar uma rede e organizar o fluxo. O prefeito é bem atento a essa questão da saúde mental”, afirma a coordenadora.

Tabela mostra série histórica de suicídios por faixa etária em Mato Grosso do Sul. (Foto: Thiago Mendes)
Tabela mostra série histórica de suicídios por faixa etária em Mato Grosso do Sul. (Foto: Thiago Mendes)

Com população de 25.356 pessoas, Anastácio ainda não tem Caps. No estado, as 25 cidades que ofertam o serviço são: Água Clara, Aparecida do Taboado, Aquidauana, Bataguassu, Bela Vista, Bonito, Caarapó, Camapuã, Campo Grande, Cassilândia, Chapadão do Sul, Corumbá, Costa Rica, Coxim, Dourados, Maracaju, Naviraí, Nioaque, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã, Rio Verde de Mato Grosso, São Gabriel do Oeste, Sidrolândia e Três Lagoas.

Os Centros de Atenção Psicossocial contam com equipe multiprofissional e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental.

Onda da Baleia Azul - Secretária de Saúde de Anastácio e psicóloga, Aline Cauneto afirma que em 2017, quando assumiu a pasta, o quadro era de apenas um psicólogo e uma demanda reprimida de atendimento.

“Em paralelo, tínhamos uma demanda de adolescentes com tentativa de suicídio e autolesão. Nossa região já tinha altos índices e, naquela época, começou a onda da ‘Baleia Azul’. Logo após o suicídio consumado de uma adolescente resolvemos iniciar o processo de implantação da Rede de Atenção e Prevenção ao Suicídio de Anastácio”, diz a secretária de Saúde.

Em 2017, o jogo da Baleia Azul despertou a preocupação de pais e professores no mundo todo por incitar adolescentes a cometerem automutilação e suicídio. A estrutura de atendimento  na cidade conta com uma psiquiatra e 11 psicólogos.

“Ampliar o serviço de saúde mental é necessário, pois nossa região é carente desses serviços e precisamos aprender que saúde mental também é prioridade no SUS e toda gestão deveria ter esse olhar. Minha formação em Psicologia me ajuda a olhar para essa área com mais cuidado, de que é preciso se fazer algo para essa população que está em vulnerabilidade”, destaca Aline.

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