Alta de suicídios: rotina agrava estresse e pressiona saúde mental de policiais
“São formados na academia para ser máquina robótica”, diz presidente de associação
Em trinta dias, cinco suicídios de profissionais da segurança pública. A triste estatística em Mato Grosso do Sul reforça um ponto já bem claro para quem atua na saúde mental: o grau de estresse de certas profissões agrava sintomas preexistentes.
“A gente precisa de maiores pesquisas nas áreas, mas médicos, policiais militares, civis, agentes penitenciários sofrem grau de estresse que pode agravar sintomas. Não significa que a profissão em si vai causar isso, mas ela tem grau de estresse capaz de agravar ou desencadear sintomas preexistentes. E o risco de suicídio é maior nos quadros graves”, afirma o psiquiatra Marcos Estevão.
Independente da categoria profissional, o especialista destaca que amigos e familiares precisam se atentar a declarações como: “minha vida não vale a pena”, “sou um estorvo para a minha família”. De acordo com o psiquiatra, essas frases são sinais de alerta.
“Amigos e familiares devem estimular a procura por atendimento especializado. Um tratamento integrado com psiquiatra e psicólogo”, afirma Marcos Estevão.
Máquinas – Presidente da ACS (Associação e Centro Social dos Policiais Militares e Bombeiros Militares), Mário Sérgio do Couto afirma que os policiais são treinados como máquinas, têm apenas três segundos para decidir entre decisão letal ou não letal e são pressionados pelo regulamento disciplinar.
“O estresse é enorme, chega na faixa da exaustão. Vem a depressão, que leva ao suicídio. O policial militar tem três segundos para tomar uma decisão. Imagina, passar 20 anos decidindo em três segundos. O delegado tem 40 dias para fazer um inquérito, um juiz tem seis meses para julgar”.
Conforme Couto, também falta regulamentação da carga horária. “São formados na academia para ser máquina robótica. Treinado para não falar. Vai acumulando e o corpo não suporta”. A associação representa 3.400 policiais e oferece atendimento psicológico.
A Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) informa que "cada força que compõe a Segurança Pública possui o serviço de atendimento psicossocial específico".
Casos - No dia 20 de janeiro, o tenente Edson Henrique Yamamoto Thomaz, 31 anos, foi encontrado morto em um quarto de hotel, na Avenida Calógeras, no Centro de Campo Grande. Ele era comandante do 3º Pelotão de Paraíso das Águas.
Nesta mesma data, o ex-guarda municipal da Capital, Neiton de Assis Alves de Paiva, de 38 anos, foi encontrado morto na casa onde vivia, no Jardim Petrópolis. Neilton sofria de depressão.
Quatro dias depois, a perita papiloscopista Viviane Jesus de Souza, de 35 anos, foi encontrada morta com tiro na cabeça, em um motel no Jardim Paulista, em Campo Grande.
Em 4 de fevereiro, o policial rodoviário federal André Cassiano Messias Valdameri, de 28 anos, foi encontrado morto em um imóvel no Bairro Santa Fé, na Capital.
Aluno do curso de formação para sargentos da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, o cabo Alcieides Fialho Araújo, de 45 anos, foi encontrado morto na noite de domingo (20), na cidade de Buritama, no interior de São Paulo. O militar estava na corporação há 17 anos.