Supremo revoga preventiva de preso por golpe com mais de 60 mil vítimas
Sidinei dos Anjos Peró deixou o Presídio de Trânsito, em Campo Grande, na última quinta-feira (dia 13)
Após um ano atrás das grades, Sidinei dos Anjos Peró, apontado pela PF (Polícia Federal) como um dos líderes de um golpe com 60 mil vítimas – investigado na operação Ouro de Ofir-, teve a prisão preventiva revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Na decisão, o ministro Ricardo Lewandowski determinou a substituição da prisão por medidas cautelares alternativas: comparecimento periódico em juízo, proibição de se ausentar da comarca sem prévia autorização judicial e de manter contato com os demais investigados, além da entrega do passaporte.
No Supremo, a defesa de Sidinei pedia a revogação da prisão preventiva devido a excesso de prazo para a formação da culpa. Esse pedido, para reverter negativa do STJ (Superior Tribunal de Justiça), não foi aceito pelo ministro, mas Lewandowski decidiu conceder a liberdade por meio de um instrumento chamado habeas corpus de ofício, por constatar flagrante ilegalidade e situação anormal.
“Em tese, o paciente pode, portanto, estar presos há exato 1 ano pelo cometimento do crime de estelionato, cuja pena varia de 1 (um) a 5 (cinco) anos, sem que sequer tenha sido encerrada a instrução processual”, afirma Lewandowski.
Conforme o ministro, não estão preenchidos os requisitos para a configuração do delito de organização criminosa, o qual pressupõe “a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”
O ministro negou pedido para estender a decisão que beneficiou Peró para Sandro Aurélio Fonseca Machado. Ele foi preso no mês de abril deste ano, em Brasília. Sidinei dos Anjos Peró deixou o Presídio de Trânsito, em Campo Grande, no dia 13 de dezembro.
Sistema - A operação foi deflagrada em 21 de novembro do ano passado, com as prisões de Peró, Anderson Flores de Araújo e terceiro investigado.
No mês seguinte, a denúncia foi transferida da Justiça Federal para a Justiça estadual. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), não ficou comprovado crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Na sequência, o MP/MS (Ministério Público Estadual) denunciou os presos por organização criminosa e estelionato. Anderson foi solto no mês passado.
Aportes - As vítimas eram convencidas a “adiantar” um aporte (geralmente R$ 1 mil) e em troca as pessoas teriam direito a receber mil vezes o valor antecipado. Os contratos eram, inclusive, registrados em cartório para aumentar a credibilidade.
A origem do dinheiro para pagar os investidores eram créditos de até R$ 1 trilhão relacionados com compra e venda de uma grande quantidade de ouro. Para repatriação, 40% ficaria com o governo federal, 40% doado como ajuda humanitária e 20% para a família Araújo. Peró é apontado como líder da operação SAP, cujo nome é formada pelas iniciais do seu nome.
O processo por estelionato e formação de quadrilha tramita na 4ª Vara Criminal de Campo Grande, que requisitou informações sobre a operação 27058 (Au Metal), liderada por Anderson e segundo suspeito, ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Banco do Brasil e Banco Central.
O nome Ouro de Ofir faz alusão a uma cidade mitológica, que produzia ouro de maior qualidade e beleza, mas nunca foi localizada.