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Cidades

“Tio Arantes” foi entregue à PF ao lado de integrante de facção rival

Circunstâncias das prisões e história dos dois criminosos brasileiros têm algumas semelhanças

Anahi Zurutuza | 08/09/2023 16:26
 Dominik Mariano Pereira é integrante do Comando Vermelho, segundo polícia boliviana (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)
 Dominik Mariano Pereira é integrante do Comando Vermelho, segundo polícia boliviana (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)

Homem que chegou a ser considerado um dos mais influentes líderes do Primeiro Comando da Capital, José Cláudio Arantes, o “Tio Arantes”, foi entregue pela polícia boliviana à PF (Polícia Federal), em Corumbá, ao lado de Dominik Mariano Pereira, apontado como membro ativo do Comando Vermelho, facção rival ao PCC.

Dominik foi preso na Bolívia nesta quinta-feira, 7 de setembro, Dia da Independência no Brasil. Mas, fora o fato de estarem em lados opostos na disputa das organizações criminosas pelo poder, as circunstâncias das últimas prisões e história dos dois criminosos brasileiros têm algumas semelhanças.

Assim como José Cláudio Arantes, que vivia no país vizinho como Raildo Teixeira da Silva, Dominik também usava documento falso, em nome de Patrício de Araujo Emilson.

O integrante do Comando Vermelho era procurado da Justiça brasileira no mundo todo, através da difusão vermelha da Interpol (Polícia Internacional). Ele tem passagens no Brasil por homicídio e vilipêndio de cadáver, roubo e corrupção de menores, entre outras.

Outra coincidência biográfica entre Arantes e Dominik é que os dois já tiveram envolvimento com roubos a bancos.

De camiseta branca, "Tio Arantes" ao lado de Dominik, outro preso brasileiro entregue pelas autoridades bolivianas à PF nesta tarde (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)
De camiseta branca, "Tio Arantes" ao lado de Dominik, outro preso brasileiro entregue pelas autoridades bolivianas à PF nesta tarde (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)

O sul-mato-grossense é apontado como o responsável pelo assalto cinematográfico aos caixas eletrônicos do Banco do Brasil que ficaram dentro do Parque de Exposições Laucídio Coelho, em Campo Grande, em outubro de 2017. A logística dos bandidos incluiu troca de carros, “armadilhas” com pregos nas ruas do entorno do parque e técnica de explosão menos danosa às cédulas de dinheiro.

Já Dominik já era procurado pela Justiça do Rio de Janeiro quando se envolveu em tentativa roubo de caixa automático na cidade de Cobija, no departamento de Pando, na Bolívia, em julho de 2019. Câmeras de segurança gravaram o momento que os criminosos colocaram explosivos no equipamento e se afastaram. Como as bombas demoraram a explodir, um deles voltou no momento que houve a explosão. O homem ficou ferido e os comparsas, incluindo o brasileiro, fugiram sem o dinheiro.

Na Bolívia, "Tio Arantes" segura placa com informações da prisão (Foto: Direto das Ruas)
Na Bolívia, "Tio Arantes" segura placa com informações da prisão (Foto: Direto das Ruas)

A prisão - Procurado pelo mundo todo, José Cláudio Arantes era fugitivo da Justiça sul-mato-grossense, desde novembro de 2021, quando “desapareceu” da Colônia Penal Agroindustrial da Gameleira, unidade para o cumprimento de penas no regime semiaberto da Capital.

Ele foi preso em abordagem da FELCC (Fuerza Especial de Lucha contra El Crimen) da polícia boliviana, por volta das 18h30 de quarta-feira, dia 6, mas só na quinta-feira (7) a prisão foi divulgada. No início da tarde de ontem, foto de “Tio Arantes” segurando placa que informa a data da prisão começou a circular entre policiais de Mato Grosso do Sul. Aviso da prisão também chegou à PF de Corumbá, mas autoridades brasileiras ainda não haviam sido formalmente avisadas da captura. No banco de mandados de prisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), do Brasil, ainda havia dois mandados de prisão contra o criminoso que ainda aparecem como “pendentes de cumprimento”.

Em coletiva de imprensa, o comandante departamental da Polícia de Santa Cruz de La Sierra, coronel Erick Holguín, revelou que “Tio Arantes” foi abordado na Avenida Juan Pablo II e apresentou identidade brasileira. Ele foi chamado então para que sua situação migratória fosse verificada, mas ficou muito nervoso. “Esse sujeito, chamado José Cláudio Arantes, se identifica como Raildo Texeira da Silva, mostra seu documento, mas constatamos que era falso, motivo para a FELCC levá-lo à delegacia, mas no momento da prisão, essa pessoa se tornou violenta e tentou destruir um celular, o que chamou mais atenção", explicou.

O integrante do PCC foi entregue nesta sexta-feira, ao meio-dia, por policiais da FELCC e da Interpol à PF, em Puerto Quijarro, na fronteira com Corumbá, em Mato Grosso do Sul.

Mais de 600 dias em liberdade – A fuga de “Tio Arantes” foi constatada no dia 23 de novembro de 2021. Ele cumpria pena no regime semiaberto, no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande. “Coincidentemente”, o sistema de câmeras da ala que abrigava o detento deixou de funcionar horas antes de ser constatado o “sumiço”. Os cadeados da cela e da porta do pavilhão ocupados por José Cláudio desapareceram com ele.

Ficha extensa – José Cláudio é dono de uma extensa ficha criminal e tem condenações por roubo, tráfico de drogas e homicídios. Ele também ficou “famoso” por ter coordenado rebelião que resultou na morte do interno Fernando Aparecido do Nascimento Eloá, em 2006, no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a “Máxima”.

A rebelião começou em São Paulo, chegou a Mato Grosso do Sul e se espalhou por quatro cidades do Estado, Corumbá, Dourados, Três Lagoas e na Capital. Mas, foi na Máxima que a cena mais emblemática daquele dia 14 de maio aconteceu: grupo de presos do PCC em cima do telhado da unidade e nas mãos, uma cabeça decapitada e carbonizada, amarrada por uma camiseta.

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