Tortura até a morte e facadas: 2022 destruiu famílias de vítimas de feminicídio
MS registrou aumento de 38,70% em casos de feminicídio em comparação a 2021; na Capital aumento foi de 500%
Em 2022, 43 crimes mulheres foram assassinadas em Mato Grosso do Sul, um aumento de 38,70% se comparado ao ano de 2021, quando houve 31 registros de feminicídios. Se foram avós, mães, filhas, irmãs e com a partida delas, famílias ficaram dilaceradas.
Os casos chamam a atenção pela crueldade, como o que aconteceu com Francielli Guimarães Alcântara, 36 anos, torturada por quase um mês antes da morte ou com Rosiclei Paredes, 39, cujo corpo foi jogado em fossa.
Ambos os casos foram os primeiros registros de 2022, no mês de janeiro, e um deles já teve desfecho com a condenação de Adailton Freixeira da Silva, a 24 anos e 2 meses de prisão pelo assassinato da esposa Francielli, no dia 21 de novembro. O crime chocou a população de Mato Grosso do Sul, pois a mulher foi torturada com choques, facadas e pancadas até ser morta na residência no Bairro Portal Caiobá, na Capital.
Depois da criação da Lei 13.104, que prevê pena aumentada em casos de feminicídio, no ano de 2015, 249 mulheres foram mortas em Mato Grosso do Sul, de com os dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Isis Caroline da Silva Santos, 22 anos, foi a primeira a ser assassinada no Estado, depois que matar mulheres pelo simples fato de serem mulheres ganhou punição maior.
Apesar dos anos, a dor ainda se faz presente na mãe de Ísis, Margareth Oliveira da Silva, 58 anos. Ela não gosta de trazer à tona os momentos que passou, mas em 2022, falou com o Campo Grande News sobre como é viver sem a filha. "Não é fácil. Tô dando essa entrevista porque não quero que isso seja esquecido. Isso não é gente, é animal. Eu vejo que esse tipo de crime não tem como ir a júri, tem que ter prisão perpétua sem direito a nada. Nem visitas. Os homens acham que são donos das mulheres. Que só tem uma no mundo. Que eles podem dominar".
E os números da triste estatística só aumentam no Estado. Dos 43 feminicídios registrados, seis foram em junho, mês com maior incidência. Desses casos, 12 aconteceram em Campo Grande. Se comparado ao ano de 2021, os registros na Capital representam aumento de 500%.
Uma das vítimas foi Rosiclei Paredes, assassinada em janeiro, na casa onde vivia, no Bairro Jardim Alvorada, em Bandeirantes. Eduardo Gomes Rodrigues, 53 anos, foi preso pelo crime e confessou. Ele alegou que perdeu a cabeça depois de uma discussão. Para a polícia, contou que, no dia do crime, manteve relação sexual com a vítima, que em seguida, foi morta a facadas e jogada em uma fossa.
Na mesma semana, a adolescente Vitória Caroline de Oliveira Honorato, de apenas 15 anos, foi encontrada morta, em Ivinhema. O suspeito, Nilton Fernandes de Souza, 39 anos, também confessou o assassinato. Ele era conhecido da família e viu Vitória crescer. Nilton teria ficado com ciúmes da jovem, depois que ela se encontrou com outro homem, então a levou à força para uma casa abandonada perto da residência que Vitória morava. Lá ele a matou estrangulada.
Também em janeiro, Marta Gouveia do Santos, 37 anos, foi encontrada morta no anel viário de Nova Andradina. O filho dela, Matheus Gabriel Gonçalves dos Santos, 18 anos, preso pelo crime, nega envolvimento até hoje. Contudo, a polícia afirma que existem provas suficientes contra Matheus, que foi indiciado pelo feminicídio. Marta foi morta com 30 facadas, sendo 24 no pescoço e 6 na região da cabeça.
Em fevereiro, Natalin Nara Garcia de Freitas Maia, 22 anos, foi morta com golpe de mata-leão pelo companheiro, ex-militar da Aeronáutica, Tamerson Ribeiro Lima de Souza, 32 anos, e depois teve o corpo jogado às margens da BR-060, saída para Sidrolândia, área rural de Campo Grande. O crime ocorreu após uma briga do casal, segundo Tamerson, que foi condenado a 23 anos e 4 meses de prisão, em novembro.
No mês de março, a polícia registrou mais um feminicídio na Capital. Eloisa Rodrigues de Oliveira foi morta a facadas na frente dos filhos, de 1 e 8 anos de idade, na casa onde morava, no Bairro Parque do Lageado. O ex-marido, Fabiano Querino dos Santos, 35 anos, não aceitava o fim do relacionamento. Ele foi condenado, em novembro, a 26 anos e 5 meses de prisão.
Em abril, na cidade de Batayporã, Joana Silva Fernandes, 90 anos, e a cuidadora dela Maria Aparecida Luiz de Siqueira Matos, de 58, foram assassinadas a facadas pelo neto de Joana, Antônio Marcos Fernandes Gonçalves, 28. Ele se jogou na frente de uma carreta na MS-276 depois de cometer o crime.
Elenice Pinto Martins, de 48 anos, foi morta na noite de 13 de maio deste ano, na Vila Neusa, que fica na saída para Rochedinho, em Campo Grande, após uma discussão com o companheiro Delzimar Alves do Nascimento, 49 anos. O homem foi solto pela Justiça sete meses depois de cometer o crime. O juiz reconheceu laudo de insanidade mental instaurado pela perícia, em que atesta o acusado como inimputável. Diante da condição psíquica, ele não pode ser responsabilizado criminalmente.
No mesmo mês, um crime chocou Campo Grande. Antônio Benites, 38 anos, conhecido como "Ninho", confessou ter matado a irmã, Patrícia Benites Servian, 31. Ela foi asfixiada até a morte na casa onde vivia com os filhos pequenos, no cruzamento das ruas Dalva de Oliveira com Francisco da Silva, no Bairro Tiradentes, na Capital.
Em junho, Daniela Luiz, de 30 anos, e o filho dela, de 14, foram assassinados a facadas, em Ribas do Rio Pardo. O autor do crime era ex-marido de Daniela, João José Furtado Nunes, de 32 anos, que foi preso.
Oito dias depois, Vitor Cardoso, de 68 anos, foi preso em flagrante por matar a companheira Joana Darc Martins da Silva, 40, a facadas, em Ponta Porã. Ele ainda lavou a cena do crime para tentar despistar a polícia.
Grazielly Karine Soares Alves de Lima, de 28 anos, também foi assassinada a facadas na residência na Rua Edu Rocha, Bairro Popular Nova, em Corumbá, no dia 22 de junho. O ex-marido Edmilson Veríssimo dos Reis, de 33 anos, ainda teria ligado para um amigo do casal afirmando que fez uma besteira e fugiu. Ele atirou contra a própria cabeça depois do crime e morreu.
Em julho, Luciana Carvalho, 45 anos, foi assassinada em sua residência na Avenida Júlio de Castilho, na Vila Silvia Regina, em Campo Grande. O corpo foi encontrado na noite do dia 1 de agosto. Preso, o companheiro dela, açougueiro Inácio Pessoa Rodrigues, 47, admitiu que assassinou a vítima durante uma briga e que passou quatro dias com o corpo na casa.
No dia 3 de agosto, Reinaldo Rodrigues Arce, 30 anos, usou cordão de uma blusa para estrangular a esposa, Rosa Rodrigues, de 29, até a morte e depois alegou que ela teria cometido suicídio. O crime ocorreu em Amambai e Reinaldo foi preso por feminicídio.
Rebeca França Antônio, de 20 anos, foi o 29° feminicídio registrado no Estado. Ela morreu na manhã do dia 7 de setembro depois de levar várias facadas, em São Gabriel do Oeste. O suspeito é o ex-marido dela, Rafael Rocha de Moraes, também de 20 anos, que não aceitava o fim do relacionamento. Ele foi preso. A vítima deixou dois filhos pequenos.
No dia 11 do mesmo mês, uma adolescente indígena, de 13 anos, foi encontrada morta em Dourados. No pouco tempo de vida que teve, a garota sofreu violência sexual, foi ameaçada e por fim, estrangulada por outro adolescente, que tinha fixação por ela. Detido horas depois, o adolescente confessou o crime. "Ela não queria namorar comigo e queria ficar com outro guri. E aí eu matei ela [...] eu enforquei ela", disse.
Outro caso que comoveu a Capital foi o assassinato brutal de Geni da Costa Reis dos Santos, 56 anos, no dia 23 de setembro. Ela foi morta com sete facadas e uma delas, no pescoço, que quase a degolou. Após o feminicídio, Silço Donizeti Mendes Barboza, 55, ainda esfaqueou os filhos da vítima - incluindo uma grávida - e fugiu de carro, até o veículo colidir com uma carreta na BR-163 e pegar fogo. Silço morreu no hospital.
Na noite do dia 18 de outubro, Ana Carolina Jara, 26 anos, morreu depois de ser ferida por várias facadas. O marido, Nelci Cassimiro, de 46 anos, conhecido como "Kiko", se apresentou dias após o crime na delegacia e alegou arrependimento. O caso ocorreu em Ponta Porã.
Na madrugada do dia 13 de novembro, mais um feminicídio foi registrado em Campo Grande, quando Alexsandra Galvão de Arruda, 42 anos, foi atingida por golpes de faca no pescoço, na Rua dos Pinheirais, no Bairro Centro Oeste. O autor do crime, marido da vítima, foi preso em flagrante.
O caso mais recente ocorreu no dia 21 de dezembro. Claudia Franciele Cabreira Pereira, de 28 anos, foi encontrada morta a facadas em uma casa na Rua Pindaré, no Jardim Colúmbia. O marido é suspeito e morreu no mesmo dia ao colidir a motocicleta que conduzia em uma carreta. O caso foi registrado como feminicídio.