ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  08    CAMPO GRANDE 21º

Capital

Defesa tenta convencer que réu “só torturou”, mas júri condena por feminicídio

Adailton Freixeira da Silva foi condenado por manter a esposa em cárcere e torturar até a morte

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 21/11/2022 19:13
Advogados de defesa durante as alegações finais. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)
Advogados de defesa durante as alegações finais. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)

O soldador Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, foi condenado a 24 anos e 2 meses de prisão pelo assassinato da esposa Francielli Guimarães Alcântara, de 36 anos, que passou 27 dias sendo torturada, em sessões de violência que antes de lhe levarem a vida resultaram em dentes quebrados, perda da pele das nádegas por queimaduras devido a choques e perfurações de faca. A mulher foi encontrada morta em 26 de janeiro, em residência do Bairro Portal Caiobá.

Diante do júri, que durou cerca de 11 horas, o réu negou o crime. Ele afirmou que confessou, na época dos fatos, sob tortura policial, mesmo a confissão tendo sido durante depoimento prestado em juízo, no dia 9 de maio deste ano, surpreendendo até o advogado Caio Moura.

Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, durante o julgamento. (Foto: Paulo Francis)
Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, durante o julgamento. (Foto: Paulo Francis)

No julgamento, o soldador disse que Francielli cometeu suicídio. Alegou que a mulher já tinha tentado tirar a própria vida uma vez e que ela era doente. "Ela tentou se enforcar, presenciei e tirei", narrou. Ele completou afirmando que os dois brigaram por causa da enteada, confessou que apertou o pescoço da mulher “com apenas uma mão”, mas afirma que não a matou. Disse ainda que a vítima teria pedido “o remédio dela”, que ele saiu do quarto do casal por algum tempo e quando voltou, encontrou a esposa caída, chamando socorro.

Já o advogado Thiago da Costa Rech tentou convencer os jurados, nas alegações finais, que o cliente não tinha a intenção de matar a mulher. “É excessivo falar que alguém que chamou o filho, tentou fazer respiração boca a boca e massagem cardíaca, chamou o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], tenha querido matar alguém”.

O defensor admitiu que Freixeira quis punir a mulher. “Se ele quisesse matar, ele teria fugido e largado o corpo. Ele teria jogado o corpo longe, levado para um matagal, fatiado, sei lá. Ele não queria que ela morresse. A intenção foi agredi-la, por um viés de violência doméstica, por uma questão de puni-la de alguma forma. Ele a torturou”.

Na argumentação, ele afirmou que jurados estariam sendo vingativos caso condenasse o cliente por feminicídio. “Então excelências, não aceitem a teste de homicídio, porque não cabe neste caso e vossas excelências não estão fazendo justiça de entender dessa forma, estão fazendo vingança. Se vocês pensarem que houve um viés de vingança dele contra ela, vocês estarão fazendo o mesmo: vingança contra ele. O estarão punindo por 36 feminicídios na cidade. Estarão punindo eles para dar voz às mulheres, mas têm de puni-lo pelo fato. Dia 26 de janeiro, por volta da meia-noite e meia. É isso que está em julgamento”.

Já a acusação, conduzida pela promotora Luciana do Amaral Rabelo, frisou que estava claro que se tratava de um femicídio, porque o réu inclusive era o responsável por "tirar" de Francielli o que ela tinha de feminino.

A defesa não convenceu. O júri, composto por cinco homens e duas mulheres, acatou a tese da acusação de que Adailton cometeu homicídio qualificado por feminicídio (praticado em decorrência ao menosprezo à mulher), motivo torpe (desprezível), meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima - 18 anos e 4 meses. Ele ainda foi condenado pelos crimes de tortura (2 anos e 9 meses de reclusão) e cárcere privado (3 anos e 1 mês). As penas foram calculadas pelo juiz Matheus da Silva Rebutin.

A acusação - Segundo investigação da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), o soldador manteve Francielli em cárcere após descobrir traição por parte da esposa. No corpo, ela tinha várias marcas de queimaduras, hematomas e até dentes e cabelos arrancados.

A PM chegou a ir à casa do casal três vezes após receber denúncias, mas também conforme a apuração da Polícia Civil, Francielli, com muito medo das ameaças e torturas que recebia, dizia que estava tudo bem e dispensava o socorro.

Ela morreu estrangulada, conforme a acusação, na madrugada do dia 26 de janeiro deste ano. O caso chegou até à 6ª Delegacia de Polícia Civil depois que a equipe do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) viu os ferimentos no corpo.

Nos siga no Google Notícias