“Aqui a vida não vale nada”, diz jornalista ameaçado pelo tráfico
O jornalista paraguaio Cándido Figueredo vive sob ameaças do tráfico na fronteira com Ponta Porã
“Aqui a vida não vale nada. Aqui morre uma pessoa importante e vira notícia cinco, quinze dias”. A constatação é do jornalista paraguaio Cándido Figueredo, que vive sob ameaças do tráfico e será intimado para prestar depoimento no inquérito que investiga a morte do jornalista Paulo Rocaro, morto a tiros em Ponta Porã.
Cándido é jornalista do ABC Color em Pedro Juan Caballero, cidade na fronteira entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul. Em janeiro deste ano, conforme noticiou o jornal em que Cándido trabalha, ele foi informado por agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), de que traficantes drogas que atuam na região da fronteira entre Brasil e Paraguai planejavam matá-lo.
O jornalista paraguaio lembra que os crimes de pistolagem, famosos na fronteira, terminam sem solução. Sobre Rocaro, que era editor-chefe do Jornal da Praça e diretor do site Mercosul News, Cándido afirma que o conhecia como colega de profissão e avalia que o crime não tenha relação com as ameaças dos narcotraficantes.
“Não tenho bola de cristal, mas o meu caso não tem nada a ver. Sempre trabalhei sobre narcotráfico e contrabando”, salienta. O jornalista tem uma coleção de 11 ossos e dois crânios humanos escavados em cemitérios clandestinos.
Segundo o delegado Odorico Mesquita, que investiga a morte de Rocaro, o jornalista poderá ir de forma espontânea à delegacia do lado brasileiro ou ser ouvido no consulado em Pedro Juan Caballero, cidade na fronteira com Ponta Porã. “Há possibilidade de que [o crime] tenha ligação com as ameaças que ele sofreu”, afirma o delegado.
Paulo Rocaro foi atingido por cinco tiros no domingo à noite, na avenida Brasil, que faz fronteira com o Paraguai, e morreu na madrugada de segunda-feira, no hospital. Ele foi abordado por uma dupla, que estava de motocicleta.
Em 2002, Rocaro publicou o livro “A Tempestade – Quando o crime assume a lei para manter a ordem”. A obra fala de pistolagem e da conivência policial num território dominado pelo tráfico.