"É nojo", diz aluna de 4 anos sobre escola municipal no Caiobá
“O banheiro é nojo. Meus amiguinhos caem nas pedras e se machucam”. É assim que a pequena Alana, de 4 anos, apresenta o anexo da Escola Municipal Lopes Lins, no Bairro Caiobá, em Campo Grande, onde estuda desde o início do ano.
As reclamações da menina vão desde o calor extremo dentro das salas de aula até a falta de local adequado para brincar. “A gente brinca de castelo ali”, disse ela apontando para um caixa d'água vazia – que fica embaixo de uma árvore no pátio coberto de pedras –, e para várias estruturas de ferro empilhadas no local. “Nossa, olha o perigo. Imagina a situação com o tanto de alunos que tem aqui”, afirmou a mãe da menina, Rosângela Cheres.
Alana fez questão de mostrar o banheiro “nojo”, que fica do lado de fora da escola e em dias de chuva é de difícil acesso. “É muito fedido. Mas eu faço xixi aqui sim”.
A unidade tem 560 alunos e fica na Rua Ilha de Marajó, esquina com a Rua Pilares, a dez quadras do prédio oficial da escola, onde estudam outras 1,9 mil crianças. O local chamado de “anexo”, funciona em um galpão improvisado há quatro anos. E lá tudo tem problemas.
Além dos riscos externos por conta do pátio e do banheiro “nojo”, apontados por Alana, em uma rápida vistoria realizada na escola, hoje (19), o prefeito Alcides Bernal (PP) confirmou que as reclamações tinham fundamento. “Olha esse piso, as crianças podem se machucar. O local é muito quente”, disse ele, que prometeu tomar providências “urgentes”.
Mas a "visitinha" do prefeito à escola só aconteceu porque a mãe da pequena estudante, Alana, resolveu se manifestar durante a fala dele na “Ação Pop”, evento promovido pela Prefeitura – durante todo este sábado – no prédio oficial da escola.
“Eu gritei pra todo mundo ouvir, disse que é uma vergonha os alunos estarem em um lugar desses. Só assim para escutarem a gente”, disse Rosângela, que já tinha denunciado o problema para o MPE (Ministério Público Estadual).
Enquanto apresentava os problemas para o prefeito, o diretor da escola, Adão Luiz de Jesus, explicou todas as gambiarras realizadas para tentar dar um pouco mais de conforto aos alunos. “Fizemos divisórias, colocamos ventiladores. O parquinho fica em cima das fossas, colocamos areia e arrumamos como conseguimos”.
Pais de alunos, vizinhos do prédio e moradores do bairro afirmam que a situação do “anexo” é preocupante. Além de todos os problemas estruturais com falta de circulação (as janelas são altas demais), ventiladores que não funcionam, falta de espaço externo adequado para as crianças brincarem, banheiros insalubres e sem acesso coberto para os dias de chuva, o prédio não tem segurança. O local é alvo constante de furtos. Este ano já foram três, quando levaram botijão de gás, alimentos e itens da cozinha.
“Este mês entraram três vezes, no ano passado foram duas. São os funcionários que tentam resolver, colocando barreiras nas portas. Mas já roubaram alimentação das crianças, carne. Não tem segurança nenhuma, nem guarda municipal nem nada”, disse a moradora Ana Paula Luz, 27 anos, que tem uma sobrinha que estuda no local.
O presidente do Bairro Caiobá, Jafé Santos, afirma que a escola municipal (que inclui o anexo) é a única de toda a região que tem aproximadamente dez bairros e um total de 46 mil habitantes. “Só temos esta escola e uma creche. E o anexo está nessa situação precária, é uma vergonha”.
Enquanto o problema não é resolvido a pequena Alana só quer mesmo um banheiro melhor na escola. “Eu gosto da escola, mas o banheiro é nojo mesmo”, afirmou. O banheiro problemático não pode ser fotografado, pois após o prefeito deixar o local sem ver a maior reclamação de Alana, os funcionários da escola não permitiram que a equipe do Campo Grande News continuasse na escola.
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