A cada 2 dias, ao menos 1 desaparece na Capital e droga é principal motivo
De janeiro até agora, foram 39 boletins de ocorrência do tipo registrados por famílias desesperadas
Há dez anos longe de casa, João Carlos, de 30 anos, conta que o seu primeiro sumiço por causa de dependência química foi aos 12 anos. Perambulando pela região central da Capital com garrafa de bebida alcoólica em mãos, o rapaz disse que nos primeiros 5 anos ainda tinha contato com a família até viver de uma vez nas ruas e perder o vínculo. “Morava com os meus avós no Bairro Aero Rancho. Ficava um 1 mês com eles e depois sumia de novo. Na última vez, a minha avó não aceitou mais”, contou.
Assim começa a maioria de história sobre desaparecidos em Campo Grande, quase sempre relacionados ao uso de drogas ou álcool.
João admite que faz uso desenfreado de álcool e de pasta base de cocaína. “Isso aqui mata”, afirmou mostrando a garrafa descartável cheia de bebida. O rapaz ainda relembra que trabalhava com refrigeração, mas perdeu tudo por causa do vício. “Fico o dia inteiro na rua, depois arrumo um lugar para deitar”. Indagado se já foi internado para tratamento contra a dependência química, João Carlos respondeu que sim, citando o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e duas clinicas de reabilitação.
Dados da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) mostram que 98% dos encaminhados para comunidades terapêuticas retornam para ruas, ou seja, só 2% continuam com o tratamento.
De janeiro até agora, foram registrados 39 boletins de ocorrência por desaparecimento de pessoas na Capital, sendo 29 em janeiro e 10 em fevereiro, média de, pelo menos 1 a cada dois dias, segundo os dados divulgados pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). No ano passado, foram contabilizados 154 casos dessa natureza na cidade. Boa parte dos desaparecimentos se esclarece em dois dias.
Conforme o delegado Carlos Delano, titular da DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa), a maioria dos desaparecimentos está relacionado ao uso abusivo de drogas. A classificação da causa é feita depois que a pessoa aparece, com base no relato dela ou da família.
Porém, muitas vezes o real motivo do sumiço não é relatado pelo familiar por constrangimento. “Principalmente nos casos em que a família não lida bem com esta questão da dependência, não busca tratamento e não fala o motivo por vergonha, porque vai ficar registrado no sistema da polícia que a pessoa é usuária de droga”, explicou o delegado.
Além do abuso de drogas, o distúrbio mental também aparece nas estatísticas como uma das causas de desaparecimento. Caminhando pela Avenida Aracruz, na região do Parque dos Novos Estados, na saída para Cuiabá, Elson Augusto disse que estava há uma semana fora de casa, perambulando sem rumo e dormindo em calçadas de comércios.
Com os bolsos da calça cheios de lixo, o rapaz afirmou ter 30 anos e morar no Bairro Dom Antônio Barbosa com a mãe e o padrasto. Em alguns momentos durante a entrevista ele parecia desorientado, esquecia o que havia dito e arregalava os olhos como se tivesse voltado à consciência naquele momento.
A SAS não tem um número específico de pessoas vivendo em situação de rua. Mas afirma que de janeiro do ano passado a janeiro deste ano, foram acolhidos nas Uaifa's (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias) e na Casa de Passagem de Resgate, 1.600 pessoas, entre migrantes nacionais, internacionais e pessoas em situação de rua.
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