Abandonado, patrimônio histórico de ferrovia se transforma em "favelinha"
Área localizada ao lado da Feira Central está sendo ocupada por barracos e seria reduto de usuários de drogas.
Reflexo de anos de abandono e descaso, a área que foi um dos principais impulsionadores do desenvolvimento de Campo Grande, a Estação Ferroviária, está se transformando numa pequena "favela". Localizada no bairro São Francisco, a garagem que já abrigou vagões no passado, hoje é ocupada por barracos e, segundo relatos, seria ponto de venda e uso de entorpecentes.
Na tarde desta quinta-feira (16), encontramos alguns barracos erguidos bem ao lado de um dos mais importantes pontos turísticos da cidade, a Feira Central. Em meio à madeirites, plásticos, papelões e até restos de carros alegóricos deste Carnaval, é difícil contar o número de moradias. Nossa equipe tentou conversar com alguns moradores, mas foi hostilizada.
"Me deixem em paz. Vocês não são bem-vindos. Saí das ruas e agora tenho meu cantinho. Dizem que vão tirar a gente daqui. Estou aqui só esperando", esbravejou uma cadeirante, conhecida como Verônica, sem informar "quem" faria a transferência, nem para onde.
Outros moradores dos barracos também não quiseram conversar. A maioria das portas estava fechada. De acordo com os vizinhos, que residem em uma espécie de vila na área lateral à garagem, pelo menos 5 pessoas moram na pequena “favela”. "Mas esse número varia muito. Não temos muito contato. Ficam na deles", disseram.
Nessa área que serpenteia a "favelinha", vivem cerca de 10 famílias nas casas de alvenaria que, no passado, abrigavam os trabalhadores da ferrovia.
“Viemos pra cá por causa da situação difícil que a gente estava passando. Muito caro pagar aluguel e outras contas”, afirma Samuel Evangelista Ribeiro, 30, que saiu da periferia da cidade para dividir uma das casas com o pai, há pelo menos 12 anos.
“Uns dizem que a área é da União, outros da Prefeitura. Eu não sei ao certo, mas desde que moro aqui não tenho dor de cabeça com isso", esclarece. Questionado sobre os moradores dos barracos e o aumento da violência, Samuel diz que os vizinhos não incomodam e que não percebeu mudanças.
Mas essa opinião não é unânime. Uma mulher que reside próximo à garagem da estação, e que não quis se identificar, garante que há não somente o consumo, mas também a venda de drogas no local.
“Vai tudo quanto é tipo de gente comprar droga, a toda hora. Muitos consomem ali mesmo ou na rotunda. Direto sai briga feia, com faca, gente drogada gritando, muita confusão. A polícia e a guarda municipal passam por lá, sim, fazem rondas, mas quando saem, tudo volta. A situação é de muita insegurança; tudo pode acontecer. Penso em mudar”, desabafa.
Rotunda abandonada - Alguns metros adiante da antiga garagem dos vagões, na rotunda da esplanada ferroviária, o abandono do local fica evidente no chão cheio de lixo, nas paredes pichadas e no mau cheiro que exala do ambiente.
Moradores dos bairros que rodeiam a área circular, que já serviu como depósito das locomotivas, relatam que usuários de drogas e de bebidas alcoólicas constantemente utilizam o lugar e fazem muita "baderna". O espaço é deserto, pouco iluminado e sem qualquer controle de acesso, já que não há cercas, muros ou fiscalização.
No momento da reportagem, uma dupla de guardas municipais fazia ronda no local. Eles informaram que a guarda passa pela região durante todo o dia e que é comum a abordagem a usuários de drogas tanto na garagem quanto na rotunda, por ser uma área isolada.
Moradora da Rua dos Ferroviários, que passa nos fundos da Feira Central de Campo Grande, Elaine Aparecida Cabreira, de 38 anos, nasceu e foi criada no bairro.
Ela conta que a violência aumentou consideravelmente de uns 2 anos para cá. "Ainda bem que nunca aconteceu nada com minha família, porque a gente toma muito cuidado, não fica muito aqui na frente”, diz.
“Está tendo muito mais assalto, roubo e usuários de drogas passando por aqui o tempo todo”, observa a diarista, que mora com a mãe, o irmão e dois filhos.
O Campo Grande News entrou em contato com a Prefeitura para obter informações sobre os moradores do local e se providências estão sendo tomadas em relação à destinação da área, mas até o fechamento desta reportagem não houve retorno.