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Capital

Ambulatório transexualizador de MS está com remédios em falta

Problema é recorrente e pacientes precisam tirar dinheiro do "próprio bolso" para comprar medicamentos

Jéssica Benitez | 18/02/2023 13:35
Hoje ambulatório transexualizador é bancado por Hospital Universitário (Foto Kísie Anoiã/Campo Grande News)
Hoje ambulatório transexualizador é bancado por Hospital Universitário (Foto Kísie Anoiã/Campo Grande News)

Criado em novembro de 2016, único ambulatório transexualizador em Mato Grosso do Sul, implementado no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, enfrenta dificuldade para oferecer tratamento adequado às pessoas transexuais que precisam fazer terapia hormonal e preparo para cirurgia de mudança de sexo.

Segundo o coordenador do local, o médico chefe do setor de Ginecologia e Obstetrícia do hospital, Ricardo Gomes, existem medicamentos que nunca foram comprados pelo simples fato de não conseguir quem atenda a demanda, considerada pequena como é o caso do estradiol.

Cerca de 300 pessoas já passaram por tratamento no local ou ainda estão sendo atendidas, e segundo o coordenador não é possível oferecer toda medicação necessária. A compra fica totalmente por conta do Hospital Universitário.

“Na portaria do SUS [Sistema Único de Saúde] os hospitais habilitados têm que entregar a medicação, então o hospital fez essa programação de compra lá no início, quando a gente abriu o ambulatório, tivemos até uma verba que veio do estado para colaboração, mas depois nunca mais e a gente está insistindo para o estado entrar e ter a responsabilidade essas medicações”, contou ao Campo Grande News, complementando que não existe a obrigação de Prefeitura e Governo do Estado ajudarem na compra dos medicamentos.

Ricardo explica que em outros estados, como em Pernambuco, por exemplo, os ambulatórios são abastecidos pelos executivos estaduais, fato que possibilita a instalação de várias unidades em diferentes municípios: “Em Pernambuco tem 30 ambulatórios espalhados pelo estado e quem compra a medicação é o próprio estado”.

A habilitação por parte do Ministério da Saúde não é o problema, inclusive, de acordo com o médico, o hospital nem tem mais interesse em obtê-la. “Principalmente por essa questão da medicação porque a gente nunca conseguiu comprar todos efetivamente e os pacientes cobram com direito, né? Porque se eles vêm no ambulatório não tem como tomar medicação não tem efeito nenhum, então não está sendo feita a terapia”, explica o médico.

Mikaella é jogadora de vôlei e precisa bancar próprio tratamento (Foto Marcos Maluf/Campo Grande News)
Mikaella é jogadora de vôlei e precisa bancar próprio tratamento (Foto Marcos Maluf/Campo Grande News)

Adaptação – A saída encontrada para contornar paliativamente o problema é adaptar o tratamento hormonal do paciente substituindo as composições que estão em falta. No entanto como consequência o efeito colateral pode ser maior, por isso algumas pessoas optam por tirar do próprio bolso ou simplesmente não fazer tratamento.

“Às vezes tenho que dar medicação que não é a ideal para que as pacientes consigam comprar. Por exemplo, tive que trocar a ciproterona por espironolactona, mas teve paciente que optou por não tomar por conta do efeito que diurese (que é um diurético), mas teve paciente que queixou de ressecamento da pele, boca seca e mal estar mais geral”, conta Ricardo.

A ciproterona é usada juntamente com o estradiol no tratamento para mulheres transexuais e funciona como espécie de bloqueador do hormônio masculino. “Ficamos sem ciproterona por bastante tempo e agora veio”, explicou o médico. Já a testosterona é usada para homens transexuais e também fata de tempos em tempos.

Presidente da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), Mikaella Lima, é jogadora de vôlei amador em Campo Grande e precisa mensalmente apresentar exame hormonal para seguir jogando. Tanto a coleta de sangue quanto o próprio tratamento é bancado por ela.

“Gasto em média R$ 150 por mês, não é muito, mas é um gasto que eu não precisaria ter”, diz. Ela é uma das vozes que fortalecem o coro pelo efetivo funcionamento do ambulatório transexual.

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