Após 35 anos, Cetremi atende mais população de rua do que estrangeiros
Segundo a SAS, algumas famílias estrangeiras resistem ao atendimento e preferem a 'mendicância' nas ruas
Em 1989, Campo Grande recebia em média 250 migrantes por mês. Arquivo do SNI (Serviço Nacional de Informações) mostra a situação dessas pessoas que vinham principalmente dos estados de Mato Grosso, São Paulo e do interior de Mato Grosso do Sul em busca de trabalho na cidade. Dados atualizados da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) revelam que apesar da presença nítida de famílias estrangeiras em semáforos e ruas da Capital, hoje o lugar virou parada para que vive perambulando sem casa, inclusive, campo-grandenses.
No período de 2021 até os primeiros meses de 2024, os migrantes seguem liderando as estatísticas de atendimento feito pela UIAFA I (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias), antigo Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante e População de Rua).
No primeiro ano, por exemplo, dos 900 atendimentos, 456 corresponderam a migrantes, 104 a estrangeiros e 340 a campo-grandenses. Em 2024, 538 atendimentos foram contabilizados, sendo 538 referentes a migrantes, 193 a estrangeiros e 164 campo-grandenses.
Os campo-grandenses em situação de rua atendidos pela instituição ficaram à frente dos estrangeiros de 2021 a 2022 e somente nos últimos dois anos a ordem se inverteu. De 2023 para cá, os imigrantes estão em maior número, porém a diferença é mínima. Exemplo disso são os dados deste ano que apontam que passaram pela UIAFA I 193 estrangeiros e 164 campo-grandenses.
Esse cenário não se alterou nem em 2022, que foi o ano com maior registro de assistência: 1590. Na verdade, o balanço de atendimento aos campo-grandenses foi maior do que aos imigrantes. Na época, os respectivos perfis corresponderam a 433 e 323. O número de migrantes atendidos foi 833.
Situação dos estrangeiros - Nos últimos quatro anos, 960 pessoas originárias de outros países passaram pela UIAFA I. Por sexo, os homens são maioria representada por 656, enquanto as mulheres estão em menor grupo com 264. Por país, a Venezuela fica em primeiro no ranking com 578 pessoas dessa nacionalidade.
Na sequência vem a Colômbia (170), Bolívia (42), Argentina (35), Haiti (26), Peru (22), Chile (11), Equador (10), Paraguai (10). Os dados apontam que também passaram pessoas nascidas em Cuba (7), Uruguai (7), Guatemala (1) e Espanha (1).
Clandestinidade - A situação dos migrantes que vinham na maior parte de São Paulo e Mato Grosso para Campo Grande em junho de 1989, conforme o relatório, mostra que a maioria procurava a cidade na expectativa de serem empregados. Mas, nem todos fixaram residência por não terem essa demanda atendida.
“A Coordenadora MARIA ROSELEUSA atribuiu o elevado índice de retorno dessas pessoas, aos seus locais de origem, em função de que a maioria vem acompanhada de uma família numerosa na esperança de conseguir o emprego desejado e se fixar. No entanto, os empregadores, em sua maioria fazendeiros, não querem contratar a família, e sim, apenas a mão-de.-obra que necessitam”, descreve o documento.
Enquanto alguns retornavam para os respectivos estados, outros caíam na ‘clandestinidade’. Ou seja, os migrantes acabavam fixando moradia nas periferias. Naquela década, no mês de maio, a Secretaria Municipal de Bem Estar recebeu 265 migrantes. No final do relatório, o número volta a ser mencionado para justificar o aumento ‘crescente’ das favelas e que o crescimento populacional da cidade estava em torno de 10% ao ano.
Outro fato importante é que a Secretaria Municipal de Bem Estar explica que a média mensal não incluía ‘aqueles que procuram outros órgãos para pedir ajuda, ou que acabam fixando moradia pelas periferias da cidade formando as favelas’.
35 anos depois, o cenário é semelhante levando em conta que só são levados para as unidades de acolhimento institucional aqueles que aceitam o serviço. Essas pessoas que passam pela UAIFA I E UAIFA II entram para as estatísticas e não é possível estimar ao certo quando migrantes, estrangeiros e campo-grandenses vivem em condição de rua e, no caso dos estrangeiros, quantos estão ilegais no País.
A reportagem questionou a SAS sobre ter uma recusa ou não por parte das pessoas não brasileiras no atendimento oferecido. Em resposta, a secretaria comenta que existe certa resistência. “A equipe do SEAS oferece o serviço para os migrantes que não tem moradia, porém, existe a recusa. Eles optam em ficar nas ruas em busca de recursos financeiros”.
Além daqueles que estão com famílias nas ruas ‘para praticar a mendicância’, outros casos são de famílias que têm moradia ou estão acolhidas geralmente na Casa de Passagem Resgate.
Serviço - O Serviço funciona, ininterruptamente, nas unidades de Acolhimento Institucional, 24 horas por dia e se assemelha ao de uma residência (com quartos, ambientes para estudo, sala de estar, sala de jantar/copa, cozinha, banheiros, área de serviço, área externa, área técnica e área administrativa).
A instituição oferece atendimento personalizado, utilização dos equipamentos e serviços disponíveis na Unidade, atividades psicossociais, socioeducativas, proporcionando o convívio comunitário e humanizado. O objetivo é reestabelecer o convívio familiar e social do indivíduo.
Hoje, através de equipes que atuam 24 por dia, nos sete dias da semana, o SEAS (Serviço Especializado em Abordagem Social) realiza abordagens nas sete regiões da Capital.
As ações do Serviço Especializado em Abordagem Social, são realizadas por meio de buscas ativas, denúncias pelos dois celulares e mapeamento das regiões conforme as demandas, a fim de ofertar os serviços às pessoas em situação de rua. Para denunciar pessoas em situação de rua, basta acionar o Seas pelos telefones (67) 99660-6539 e 99660-1469.
O indivíduo tem por opção aceitar ou não o acolhimento. As recusas de atendimento por parte da população em situação de rua são um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.