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Baixa aprovação no Revalida é desafio extra para quem faz Medicina fora do País

Apenas 13% são aprovados na primeira etapa da prova que permite exercer profissão no Brasil

Por Natália Olliver | 15/12/2023 12:49
Thais, estudante de Medicina no Paraguai durante aula prática (Foto: Arquivo pessoal)
Thais, estudante de Medicina no Paraguai durante aula prática (Foto: Arquivo pessoal)

O Paraguai virou destino para a realização de um sonho. Com a concorrência cada vez maior por uma vaga no curso de Medicina em universidades públicas e mensalidades que chegam a R$ 20 mil nas instituições privadas, cruzar a fronteira é a solução mais fácil para quem busca a carreira médica. Mas vale a pena? O problema é a baixa aprovação no Revalida, exame que autoriza o profissional a trabalhar no Brasil. A quantidade de pessoas aprovadas na primeira etapa da prova é quase nove vezes menor que a de inscritos, apenas 13%.

Em 2023, 9.917 alunos realizaram a inscrição no Revalida. Desses, 9.097 compareceram, mas só 1.221 passaram no exame teórico, a primeira fase do teste. O número na segunda etapa, prática, é ainda menor, 12,74%, ou seja, 1.074. Os dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Apesar do cenário, estudantes optam pelo curso no exterior como mais uma chance de alcançar o tão esperado diploma médico. Além do Paraguai, países como Argentina e Bolívia também são destino dos brasileiros. Diante de tudo, vale mesmo a pena fazer Medicina nos países vizinhos?

Thais Aparecida Souza Gomes, de 43 anos, afirma que sim, vale a pena. Ela está no internato de clínica geral, na UCP (Universidade Central do Paraguay). Para ela existem prós e contras da decisão de estudar no país. Entre elas, a dificuldade de estudar em outra língua, além do alto custo de vida.

“É complicado, lá eles cobram em dólar. Pra viver bem mal eu gastava no começo, mais ou menos, R$ 1.800 com aluguel, água, luz e comida, fora a mensalidade de R$ 1.200 no início. Hoje, pra você viver com um certo conforto, acredito que o valor seja, no mínimo, R$ 3.500.”

Aula de primeiros socorros, curso de medicina no Paraguai (Foto: Arquivo pessoal)
Aula de primeiros socorros, curso de medicina no Paraguai (Foto: Arquivo pessoal)

Para tentar ajudar os estudantes e ganhar uma graninha, proprietários de imóveis resolveram fazer casas pequenas, as famosas quitinetes voltadas aos estudantes. “Muitas pessoas fizeram uma casa padrão para acomodar a gente, mas o valor que paga em uma casa em Campo Grande não paga lá. O outro contra que eu acho é a questão da burocracia, sofri muito com isso. Tem que saber bem aonde ir, onde fazer e em quem confiar. Eles não dão suporte. As universidades do Paraguai não recebem muito bem os brasileiros”.

Revalida - A estudante ressalta que o exame de fato não aprova muito. Mas com esforço é possível passar na prova. “A pessoa tem que se dedicar muito pra passar. É como se fosse uma OAB [prova feita por estudantes de Direito que desejam ser advogados após término do curso]. O pessoal da minha sala, pelo menos metade conseguiu. Eu ainda não fiz, mas sei que são duas etapas. Uma é escrita, outra é prática, eles montam laboratório e a banca fica analisando. Um paciente descreve os sintomas e você tem que aplicar o diagnóstico e tratamento”.

Ela compara os sistemas aos de vestibulares brasileiros e alega que a diferença, nas universidades do Paraguai, não influencia o ensino, apesar de ser ministrado em outro idioma.

“Ter que estudar em outra língua não é fácil, mas já pesquisei bastante e o ensino é o mesmo, a grade, quem tem o interesse consegue ir bem. Você tem a facilidade pra entrar, mas pra sair não tem. Se não se dedicar não vai, mesma coisa que no Brasil. Agora realmente é muito mais fácil você entrar de uma forma que não precisa se matar tanto como é no Brasil, mas o estudo e dedicação tem que ser o mesmo”.

Thais em simulação de atendimento (Foto: Arquivo pessoal)
Thais em simulação de atendimento (Foto: Arquivo pessoal)

Dificuldades - Para ir até a faculdade, Thais já chegou a andar 16 km, ida e volta. “Já morei em casas precárias. Fome não passei, mas não tinha muita coisa não. Tive que sustentar na cara e na coragem. Graças a Deus essa fase passou, mas hoje no internato as coisas melhoraram. Tem muita gente que trabalha até final de semana, madrugada e não dorme, além de não ter vida pessoal. A maioria que está lá é gente que tem dinheiro. Quem tem vai de boa, quem não tem passa uns perrengues complicados”.

Apesar disso, ela acredita que vale a pena o sacrifício. “Tem sim a questão financeira e a pessoa tem que ter um psicológico muito bom pra ficar longe de família. Pra mim valeu a pena. O lugar é muito bom pra se viver, apesar dos perigos que tem no Paraguai”.

Faculdades e valores - As mensalidades no Paraguai variam de R$ 930 a R$ 1.300 no início do curso. As universidades mais procuradas são UCP (Universidade Central do Paraguai), UPE (Universidade Privada Del Este), UMS (Universidade Maria Serrana), UPAP (Universidade Politécnica e Artística do Paraguai) e UNINTER (Universidade Três Fronteiras).

Revalida outros países - Os paraguaios foram responsáveis por 25 das aprovações no exame em 2023. Isso significa que eles também tentam realizar a prova em solo brasileiro. O índice era de 156 candidatos. Já na Bolívia, o número é muito maior. Ao todo, foram 686 inscritos e 70 aprovados na primeira etapa da prova, na segunda foram 63 de 103 inscritos.

Os argentinos também representam número baixo quanto ao valor de aprovação e inscrições. Em 2023, na primeira etapa foram apenas 49 candidatos e 10 aprovados. Na segunda, 17 inscritos e 8 aprovados.

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