Calor exige irrigação extra de hortaliças e impacta vendas
Altas temperaturas provocam mais gastos de produção e armazenamento dos alimentos
O calor extremo e a sensação térmica acima dos 40ºC, que se tornaram rotina, obrigam horticultores a aumentar a irrigação da produção e até interromper a tradicional venda de hortaliças e vegetais in loco na Capital. As altas temperaturas forçam os produtores a manterem as vendas apenas pela manhã e utilizarem o período da tarde para irrigar e hidratar em especial as hortaliças que serão vendidas no dia seguinte. Junto com o irmão, Luciana Ortiz tem adotado a medida na horta da família, localizada no bairro Rita Vieira. Donos de um sítio em Sidrolândia, cidade a 71 quilômetros da Capital, os irmãos tomam conta do espaço há sete meses e explicam que o calor extremo forçou aumento nos custos para cultivo e conservação dos alimentos.
“Em Campo Grande, cultivar alface crespa e alface americana é um pouco inviável porque para esse tipo de alimento o solo tem de ser bem úmido, com terra mais fresca, o que tende a manter o solo mais conservado”, disse.
Jorge Ortiz disse que, além da medida, o calor provoca mais gastos de energia, uma vez que as altas temperaturas forçam os equipamentos que conservam os alimentos a gastarem mais energia, o que também ocorre com as bombas que irrigam a horta. “Por conta do calor, tem aumento de gasto na energia, temos que ligar mais vezes a bomba d'água para irrigar as plantas, sem falar as que queimam ou secam”, destacou. A reportagem do Campo Grande News percorreu ainda outras cinco hortas urbanas e todas estavam fechadas para irrigação.
De acordo com Luciana, a medida afeta as dinâmicas de venda e afasta os comerciantes que buscam o alimento mais fresco possível. “Todos procuram por coentro fresco, não importa quantas vezes você molhe, ele seca. A gente tem muito gasto e não consegue atender as pessoas que param aqui”, disse.
A dona do local destaca que outra alternativa encontrada para manter o negócio rentável foi comprar diretamente da Ceasa (Central de Abastecimento), entretanto, o preço de revenda não compensa, disse. “A gente até tentou comprar do Ceasa para revender, só que o gasto era muito maior. Uma caixa de alface americana com doze unidades, R$ 58 reais, alface crespa R$ 24, não rende”, falou.
A produtora disse que diante das mudanças causadas pelo calor, uma alternativa foi embalar os alimentos e vendê-los de forma mais prática para que os clientes possam cozinhar e preparar a comida de forma mais rápida. “Nosso carro-chefe é incrementar com outras coisas, legumes picados, couve, abóbora. No frio, as pessoas procuram legumes, e no calor procuram folhas, salada, suco, bebidas”, finalizou.
Com formação no curso de Recursos Naturais pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a arquiteta Ana Carolina Delphino disse que as medidas adotadas pelos produtores em reduzir vendas para poder irrigar a produção podem ser drásticas, porém necessárias para que possam se manter ativos.
“É uma medida drástica, com esse excesso de incidência solar, é natural que folhagens se fechem e precisem de maior irrigação. Se você faz esse processo à noite, há sobrecarga, à tarde não tem vantagem porque a planta pode cozinhar também e para a população não ver as plantas murchas”, disse.
Delphino disse que a embalagem dos alimentos minimiza danos, pois, em caso de retirada do alimento do solo, pode se degradar, o que faz com que o produtor perca clientes pela queda na qualidade do alimento.
“Ninguém vai para comprar embalado, e para embalar tem que hidratar o alimento. Não é a medida ideal, mas neste momento deve ser a melhor encontrada pelo produtor, já que utilizar isopor implica em questões de conservação, além disso, freezers e geladeiras demandam energia, já que o calor chega sempre aos 39ºC”, finalizou a pesquisadora, atualmente vinculada ao LabPa (Laboratório da Paisagem) e ao LabMAE (Laboratório de Metodologias Ativas para o Ensino de Engenharia) da UFMS.
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