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Capital

"Cannabis medicinal é tabu e alvo de muitos preconceitos", diz especialista

Audiência pública tratou sobre necessidade de facilitar acesso ao medicamento

Liana Feitosa | 27/04/2022 20:24
Membros da mesa em audiência pública sobre acesso à cannabis medicinal na Câmara de Vereadores da Capital. (Foto: Kísie Ainoã)
Membros da mesa em audiência pública sobre acesso à cannabis medicinal na Câmara de Vereadores da Capital. (Foto: Kísie Ainoã)

Pela primeira vez a Câmara de Vereadores de Campo Grande sedia debate sobre cannabis medicinal, substância derivada da planta popularmente conhecida como maconha, utilizada no tratamento de diversas doenças crônicas e que enfrenta diversos embates sociais e políticos. Na audiência pública ocorrida na noite desta quarta-feira (27), o recado ao público foi claro: “temos que informar as pessoas, quais são os riscos, quais os benefícios e separar a questão do uso medicinal do uso recreativo, que não é a pauta da discussão aqui (na Câmara)”, afirmou o médico psiquiatra Wilson da Silva Lessa Júnior.

De acordo com Lessa, que é professor do curso de Medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), no Brasil, atualmente é possível acessar o medicamento por meio de compras efetuadas diretamente em farmácias, mas sob custos muito altos. Também é possível importar, o que também demanda valores altos, ou ainda adquirir por meio de associações que tenham autorização ou liminar judicial.

Médico psiquiatra Wilson Lessa, professor da faculdade de Medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). (Foto: Kísie Ainoã)
Médico psiquiatra Wilson Lessa, professor da faculdade de Medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). (Foto: Kísie Ainoã)

“A gente quer facilitar o acesso à informação e ao medicamento para as pessoas. Podemos dizer que ele já existe nas farmácias, mas o produto que está nas farmácias de canabidiol puro custa R$ 2.400, o que é inviável para a maioria das pessoas. E se o governo comprar isso? Vai onerar ainda mais um governo que já está com dificuldades, então se tivermos plantio regularizado para cannabis medicinal com todo os regramentos necessários, vai baratear ainda mais o produto na comparação com o que vem de fora (importado)”, detalhou o médico ao Campo Grande News.

Para ele, o ponto principal de debates como esse é justamente facilitar o acesso ao medicamento e “separar o joio do trigo”, pontua. “Precisamos tratar desse assunto com naturalidade. Não podemos ficar vítimas de informações atrasadas e preconceituosas. O maior desafio é fazer com que as pessoas pensem o que Nicolau Maquiavel pensou uma vez: ‘os preconceitos têm raízes mais profundas do que os princípios”, amplia o especialista.

Mesa de especialistas - Participaram da audiência, além do médico, a diretora da Divina Flor, associação sul-mato-grossense de pesquisa e apoio à cannabis medicinal, Jéssica Luana Albuquerque Camargo; a médica de família e comunidade, Anana Chaves, que é preceptora da residência médica da Fiocruz/Sesau; o advogado Felipe Garcia do Nascimento, assessor jurídico da Divina Flor; Fabianne Rezek Silva, mãe de um paciente em tratamento com a medicação; e a vereadora Camila Jara (PT), presidindo a sessão, e também a única representante da Câmara a comparecer à audiência.

“Precisamos dar dignidade de acesso a tratamento e quebrar tabus. Quando nos isentamos de debater certos assuntos em uma Casa de Leis, a população sofre”, declarou a vereadora.

Advogado Felipe Garcia durante fala na audiência pública. (Foto: Kísie Ainoã)
Advogado Felipe Garcia durante fala na audiência pública. (Foto: Kísie Ainoã)

Cofres públicos - De acordo com o advogado Felipe Garcia, debater o assunto e buscar políticas públicas para facilitar o acesso ao medicamento significa evitar mais gastos na conta do poder público e, consequentemente, também à população. “A cannabis medicinal tem alto custo e isso onera os cofres públicos. Só nos últimos três anos (de 2019 a 2021), o valor total gasto pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em importação de cannabis foi de R$ 38 milhões”, detalhou.

Portanto, na compreensão do advogado, buscar maneiras de viabilizar a produção regulamentada e segura do medicamento no Brasil é o caminho mais seguro para o atendimento de pessoas que necessitam da substância.

De acordo com Jéssica Luana, é justamente isso que a associação Divina Flor busca. O trabalho da entidade desonerou o Estado no último ano em R$ 7 milhões ao ofertar o medicamento de maneira acessível a pacientes.

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