Com 109 anos de muita saúde, Angelina terminou sua história como vítima da covid
Filha de 70 anos, Maria Leda é só elogios à mãe, que faleceu no último domingo, sob suspeita de infecção pelo novo coronavírus
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. A passagem bíblica do livro de Romanos era frase contínua na boca de Angelina Oliveira Pinto. Em sua fala, a resposta também sempre vinha certeira: “ninguém!”. Aos 109 anos – sim, 109 - o criador a quem ela servia decidiu levá-la, depois de uma pneumonia que pode ter sido causada pela covid-19.
“Minha mãe viveu 109 anos com muita saúde. E nós, dentro das possibilidades que tivemos, cuidamos dela. Ela viveu o que a gente pôde proporcionar e isso nos conforta”, diz a filha Maria Leda Pinto, 70 anos, professora universitária aposentada.
Para ela, a longevidade da mãe decorre não apenas da genética – já que a mãe de dona Angelina morreu aos 104 anos -, mas das atitudes diante da vida. “Ela é de uma época de mulheres muito diligentes, muito fortes, trabalhadeiras, alegres”, sustenta.
Viúva desde os 75 anos de idade, Angelina cuidou dos três filhos que teve fazendo costura e trabalhando com moda. Mesmo com a idade avançada, mantinha atividades no crochê e “com 96 anos minha mãe fez cinco colchas de crochê sem emenda”, relembra Maria Leda, revelando como a Angelina ainda era ativa e esperta.
“Ela sempre costurou. Ajudou meu pai a nos criar e ajudou costurando. Era modista, fazia ternos masculinos muito bem feitos. Nós somos de Amambai e muitos noivos de Amambai casaram com ternos que ela fez”, conta a filha.
Maria Leda lembra ainda que Angelina trabalhava também com o tear, lã de ovelha, “sabia fazer uma série de coisas”, como crochê e “isso sem deixar de fazer as coisas de casa”, enfatiza a filha, que ainda ressalta outra qualidade da mãe: a sustentabilidade. “Tudo que tinha em casa, tecidos, roupa, alimentação, ela não deixava desperdiçar nem jogar fora. O que podia, ela reaproveitava”.
Dona de uma saúde muito boa até então, Angelina entrou para as estatísticas oficiais da covid-19 mesmo sem resultado efetivo. Em seu atestado de óbito, a morte pela doença é uma suspeita, e Maria Leda ainda aguarda resposta do exame. “Todos os cuidados que estão no protocolo, nós tomamos aqui em casa”, conta. Maria Leda e a mãe moravam na mesma casa desde que Angelina tinha 83 anos.
Por conta disso, a filha não acredita que o resultado do teste possa dar positivo para covid-19. “Para o médico dela, ela teve uma pneumonia, porque não temos confirmação ainda do que foi”, detalha. Para ela, o fato da mãe já aparecer nas estatísticas oficiais da doença, “é um erro do hospital”.
A filha conta que há duas semanas a mãe apresentou algumas alterações de saúde, com febre e então ela foi submetida a exame que identificou uma infecção bacteriana. “Entramos então com os antibióticos, ela melhorou, mas daí na quinta-feira (20) ela agravou e então internou”.
Levada para o Hospital Regional Rosa Pedrossian, Angelina ficou de quinta a domingo, 23, internada, quando faleceu, por volta das 7 horas. “É uma fatalidade, muito triste”, afirma Maria Leda.
Legado – apesar disso, a filha revela em palavras a admiração pela mãe, que também foi sempre bem-humorada, algo que para Leda, ajudou a mãe a viver mais.
“Ela foi um exemplo de pessoa. Toda vida foi muito forte, dedicada, equilibrada emocionalmente, amorosa, cuidadosa. Ela viveu tanto tempo por não parar, por ser tão bem-humorada”, relata.
Depois de uma vida regada a muito amor e fé, Angelina descansou e nas palavras de Maria Leda, só parou de ter atividades depois da pandemia. “Até os 109 anos ela sempre se alimentou de tudo, tomava pouquíssimos remédios. Até começar a pandemia, fazia fisioterapia, adorava passear e era muito vaidosa”.
Segundo a filha, Angelina, que deixa três filhos, sete netos e seis bisnetos, era “uma avó que agregava as pessoas, as crianças gostavam dela, os netos , os bisnetos. Ela era muito amada”.