Com água batendo no peito, moradores revivem drama de enchente na Popular
Em 2014, quando o córrego Imbirussu expulsou 30 famílias de casa, o relato de moradores era de água pela cintura
Moradores da avenida José Barbosa Rodrigues, via da Vila Popular que fez fama em episódios de alagamentos enquanto ainda se chamava Rádio Maia, usam o corpo para medir a força das águas do córrego Imbirussu.
Na manhã desta quarta-feira (dia 13), Zélia da Silva Lima, 64 anos, conta que dessa vez, por volta das 5 horas da manhã, a água chegou na altura do peito. Levando em consideração sua altura, o cálculo é que a enchente tenha atingido um metro. Em 2014, quando a enchente expulsou 30 famílias de casa, o relato de moradores era de água pela cintura.
Depois do susto de acordar com o alerta da vizinhança, quando a água ainda estava na altura de seu tornozelo, Zélia se emociona ao recordar o desespero e que a prioridade era ajudar as duas bisnetas. “Me sinto humilhada. Sou idosa, pago os impostos em dia e mesmo assim tenho que passar por essa situação”.
Ela é proprietária de uma vila de casas, onde moram 12 pessoas, entre inquilinos e seus familiares. A avenida, que faz a divisa entre o parque Imbirussu e os imóveis, amanheceu coberta por lama, recobrindo, inclusive um cachorro que circulava por lá. “Perdi a compra do mês, colchão, armário, guarda-roupa”, diz Zélia que mora na Vila Popular desde 1989.
Depois de contabilizar perdas, decidiu fazer a vila de casa numa parte mais alta do terreno. Segundo ela, a construção lhe rendeu multa de R$ 20 mil. Por ano, Zélia relata que paga cerca de R$ 19 mil com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Ela guarda fotografias da enchente de 2006, sendo o último alagamento há cinco anos.
“A enchente foi feia e só consegui ver todo o estrago depois que a água baixou. Nos 32 anos que moro aqui, já contei umas dez enchentes” afirma Rosa do Nascimento, que é auxiliar de creche na Santa Casa.
A sequência de perdas em alagamentos a levou a adotar estratégia de já manter guarda-roupas, armários da cozinha e estante da sala elevados. Mas hoje, as medidas preventivas não evitaram que perdesse uma cama box. Rosa culpa o lixo pelo alagamento. “A primeira causa que a gente imagina é que seja pelo lixo que se acumula na tubulação”, diz.
O casal Rosana e Jefferson Rezende acordou com a casa revirada nesta quarta-feira. “Tive que jogar fora as compras, porque tenho medo de o alimento ter sido contaminado pela água”, afirma o pedreiro Jefferson, 44 anos.
A pedagoga Maira Alves de Oliveira, que contabiliza perda de móveis como cama e sofá, diz que a principal preocupação foi com o seu filho de três anos, que é especial.
“Os bombeiros disseram que a viatura estava vindo, mas não apareceram, quando foi 7h30 da manhã, veio um caminhão de incêndio, mas deu o balão e foi embora”, relata. Sobre a força da enchente, narra que um carro chegou a boiar e parou em cima da calçada.
Com longo histórico de alagamentos, a Vila Popular passou por obras com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com remoção de famílias e criação do parque linear do Imbirussu.
Pancadas - No período de duas horas, a estação do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), registrou 45,4 milímetros de precipitação. Às 5h e às 6horas, foram duas pancadas de chuva. A estação fica localizada na saída para Aquidauana, mesma região da Vila Popular.
Equipe da prefeitura de Campo Grande só chegou à Vila Popular às 9h30. O titular da Sisep (Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos), Rudi Fiorese, e o prefeito Marquinhos Trad (PSD) estão no local.
A assessoria do Corpo de Bombeiros informa que atendeu quatro atendimentos de retirada de água em residências e que o procedimento no caso de chamado é encontrar o solicitante, se nao for localizado, a equipe retorna para a base.