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Capital

Com discurso de “socializar o índio”, coordenador chama PF na Funai

"Essa coisa de que vai prejudicar a cultura indígena é coisa de esquerdopata”, disse José Magalhães Filho

Izabela Sanchez e Danielle Errobidarte | 05/02/2020 12:24
Policial federal guarda vista onde indígena leva a mão na cabeça na sede da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Policial federal guarda vista onde indígena leva a mão na cabeça na sede da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Na estreia como coordenador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Campo Grande, o Capitão reformado do Exército José Magalhães Filho “adiantou-se” e acionou a Polícia Federal até a sede da Fundação, na Rua 7 de setembro. Temendo “invasão” do local por indígenas, fez discurso e declarou que o principal objetivo da gestão será “socializar o índio”.

No local, policiais federais disseram que foram chamados “por uma suspeita de que ira ter uma manifestação”. O novo coordenador afirma que a instrução vem direto de Brasília, “uma recomendação da Funai”.

Em discurso na sede monitorada pela PF, Magalhães anunciou reunião com parte da comunidade indígena da área urbana de Campo Grande na segunda-feira (10), às 14h.

Viatura da PF em frente à sede da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Viatura da PF em frente à sede da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Socializar o índio – O capitão reformado é conhecido pelos brados ao megafone no Centro da cidade. A nomeação ao cargo, feita pelo Ministério da Justiça, foi divulgada ontem (4) no Diário Oficial da União, indicação que veio pelos laços “bolsonaristas” do militar. O novo cargo sacramenta a aposentadoria do megafone, usado há 20 anos para discurso contra políticos.

Ao discursar sobre o futuro da coordenação, disse que o novo lema será “integração sem desintegrar” e que o foco “é ter uma socialização dos índios”. Disse que o objetivo final “é que o índio entre na escola urbana”, ainda que vários alunos das redes municipais de Campo Grande e outras cidades do interior, assim como da rede estadual, sejam indígenas.

“Indígena tem que produzir, mas a terra não precisa ser dele. Essa preparação passa pela educação, tem que ter uma socialização do índio, para que ele entre na escola urbana”, declarou.

Sobre o contanto anterior com as etnias indígenas de Mato Grosso do Sul – 2º maior população indígena do país - disse que o único contato “foi na época das eleições quando saiu candidato a deputado estadual”. Disse ter ido em uma casa, onde viu uma família indígena que o apresentou a outras pessoas. “Terreno fértil”, nomeou, sobre o “cenário” encontrado.

O Capitão reformado do Exército e novo coordenador regional da Funai em Campo Grande José Magalhães Filho (Foto: Marcos Maluf)
O Capitão reformado do Exército e novo coordenador regional da Funai em Campo Grande José Magalhães Filho (Foto: Marcos Maluf)

Coisa de esquerdopata - Velho conhecido do Brasil desde a época colonial, o discurso de integração voltou ao espaço público com a atual gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), mas contraria o modelo de "Estado pluriétnico" que culminou no Estatuto do Índio presente da Constituição Federal. 

“O índio fala de cultura nas suas festas, mas quando chega lá a festa é só comida, essa coisa de que vai prejudicar a cultura indígena é coisa de esquerdopata”, disse José Magalhães Filho.
O novo coordenador ainda disse que, entre as comunidades, “a aceitação é boa”. “Tenho a compreensão de que eles vão me dar crédito paras que aconteçam as coisas. Prioridade dos índios está dentro dos objetivos do governo”, afirmou.

Sem recursos – Magalhães admitiu que a Fundação está sucateada. Disse ter percebido “que a Funai só paga conta de água e luz” e que “funcionários pagam do próprio bolso para realizar viagens”. “A gente precisa mostrar que as ações para os índios gastam dinheiro” e comentou que espera ter apoio da bancada federal de Mato Grosso do Sul para a coordenação.

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