Com paralisações, canteiro de obras vira depósito de material desperdiçado
Resultado de inúmeras suspensões de trabalhos, materiais e equipamentos estão esquecidos e à mercê do tempo.
Entre estruturas metálicas e concretos já erguidos, o mato toma conta de praticamente toda a área do canteiro de obras do Centro de Pesquisa e de Reabilitação da Ictiofauna Pantaneira, o Aquário do Pantanal.
Destinado a ser importante atrativo turístico de Mato Grosso do Sul, o espaço no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, atualmente não passa de um depósito de materiais de construção e equipamentos em avançado estado de deterioração, reflexo do abandono e das incessantes paralisações das obras.
O empreendimento, que teve início em 2011, tinha previsão de ser entregue inicialmente dois anos depois, mas a construção foi interrompida diversas vezes. A última foi publicada nesta terça-feira (28) no Diário Oficial, envolvendo o contrato com a empresa Clima Teck Climatização.
Com isso, o local fica completamente vazio e "jogado às traças". Basta dar uma volta ao redor do canteiro de obras para observar materiais como telhas, tijolos, placas metálicas, fios e caixas de sistemas elétricos, além de muitas lâmpadas, completamente abandonados, à mercê do tempo. Ao relento, estão aço, ferro e até aparelhos de climatização.
Em uma pequena área coberta, um capacete de obra é o que ainda revela que já houve, ali, atividade de operários. Diversas manilhas estão largadas no pátio lateral, abaixo da estrutura elevada onde seria construído um bar e restaurante.
“Lembro que dizia para meu filho que iria trazê-lo para ver peixes, espécies exóticas, que ele iria adorar. Era um sonho para ele. Agora ele está com 9 anos e nem pergunta mais sobre o aquário; esqueceu”, conta o chef de cozinha Dirceu Borges da Silva Rocha, 30 anos.
“Acho um verdadeiro fiasco, um baita elefante branco. Tenho certeza que essa obra não vai para frente. Vai ficar aí, abandonada, como um museu proibido de entrar”, lamenta Dirceu.
“Essa obra parada é resultado de má gestão. Nem sei se seria necessário esse empreendimento. Temos tantas outras prioridades. Agora está aí, construído pela metade”, comentou, durante caminhada no parque, o aposentado Carlos Herculano da Costa, 65 anos.
Manutenção - Funcionário terceirizado, responsável pela segurança do canteiro de obras, afirmou que há guardas vigiando a área 24 horas por dia. Sempre em dupla, o revezamento contempla a segurança na guarita e rondas ao redor da área do Aquário.
“Muita gente vem perguntar se pode entrar, se o Aquário está pronto, quando a obra será concluída. Mas não sabemos o que responder”, conta o segurança, que pediu para ter a identidade preservada e não permitiu a entrada da reportagem.
Ele afirma ainda que não há vandalismo no interior do Aquário, e que, pelo menos duas vezes por semana, agentes de saúde ligados ao Governo fazem vistoria para evitar proliferação do mosquito Aedes aegypti. "Mas o mato não é cortado. Está muito alto e invadindo tudo", disse.
O Campo Grande News solicitou informações à construtora Egelte Engenharia Ltda, cujo contrato foi prorrogado em fevereiro deste ano, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto.
Falta de recurso - O secretário da Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura), Marcelo Miglioli, afirmou durante agenda pública ontem pela manhã que, enquanto o governo não tiver uma solução para a obra, não tem porque continuar com os contratos.
Sem poder acrescentar mais verbas no contrato principal, firmado com a construtora Egelte no valor de R$ 84 milhões, a busca agora é para firmar parcerias privadas para conclusão do empreendimento. A obra já consumiu pelo menos R$ 230 milhões.
O custo já foi aditivado em 25%, o máximo permitido pela legislação, por isso a obra está parada, já que o governo precisa de mais recurso para o término do empreendimento. Para isso, o investimento deverá ser de mais R$ 50 milhões, além dos R$ 18 milhões que a secretaria tem em caixa para destinar à obra.