Corte de energia clandestina divide opiniões entre pagadores
Ação da Energisa e PM cortou "gatos" de moradores de área invadida
Quem vive no entorno da área invadida da construtora falida Homex, no bairro Jardim Centro-Oeste, região do Jardim Paulo Coelho Machado, sul de Campo Grande, tem opiniões divergentes sobre a força-tarefa realizada nesta manhã (11) para retirar as ligações de energia clandestinas, os “gatos”. Há quem apoie a retirada por achar injusto uns pagarem pela luz e outros não, mas também há quem entende a situação vivida pelas famílias da favela torce para que tudo seja regularizado.
Dona de um studio de unhas próximo da área onde aconteceu a invasão, Renata Campos de 31 anos relata que apoia a operação. “É injusto eu pagar R$ 500 reais de energia com a minha casa fechada o dia todo sem ninguém, e eles com luz de graça sendo que alguns ali tem condições de pagar”, reclama.
A empresária ainda afirma que toda vez que isso acontece os moradores voltam a fazer gatos. “Mas acredito que dessa vez vai ficar mais difícil, parece que eles trocaram a fiação. Acho que não vão conseguir puxar de novo”, conta.
Antônio Gonçalves da Silva, de 44 anos, tem uma mercearia na frente de casa. Esse mês a conta de energia paga veio R$ 350 reais. Apesar de estar regular e com as contas em dia ele explica se se sensibiliza com as famílias que ficaram sem energia hoje, por entender e ver o que eles passam. “Há uns 3 anos mais ou menos o local era abandonado, ficou melhor depois que eles vieram para cá. Quanto a energia, acho que deveria legalizar. Ali tem criança, pai de família, trabalhador. Eu entendo a situação deles”, lamenta Antônio.
A ação envolveu 120 pessoas, com um exército de eletricistas, 70 veículos da Energisa e equipes da PM (Polícia Militar) e do Batalhão de Choque.
De acordo com o gerente comercial da Energisa, Ercílio Diniz Flores, são cerca de 80 pontos de ligação clandestina e que o problema se arrasta por mais de dois anos. “Não é uma ação de combate ao furto de energia, mas para preservar a vida. Temos vários princípios de incêndio nessa região. A cada quinze dias, queima de três a quatro transformadores”.
Histórico - A área invadida é remanescente do projeto milionário da Homex, que veio a Campo Grande com a promessa de construir 3 mil casas. A chegada foi precedida por tensão entre a Prefeitura e a Câmara. O ano era 2010 e um projeto para permitir a vinda do grupo, que anunciou investimento de R$ 200 milhões, foi votado com trâmite acelerado.
As mudanças eram para reduzir o tamanho mínimo do terreno, passando de 360 para 250 metros quadrados e aumento da quantidade de casas por condomínio. Mas, já em 2013, o projeto foi abandonado. E os terrenos da empresa, que receberiam os residenciais, foram invadidos. Imóveis ainda no térreo logo foram ocupados e servem de moradia e comércio, como salão de cabeleireiro e conveniência.
Quem comprou os apartamentos e mora nos imóveis concluídos também enfrentou problemas e ações cobram indenização da Homex e da Caixa Econômica Federal.