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Capital

Criar estratégias para não "enlouquecer" com violência é rotina no Aero Rancho

Homicídios na última semana chamaram atenção para crimes no bairro, que é o mais populoso da Capital

Aletheya Alves | 09/09/2020 11:45
Viatura do Batalhão de Choque da Polícia Militar no Aero Rancho. (Foto: Kísie Ainoã)
Viatura do Batalhão de Choque da Polícia Militar no Aero Rancho. (Foto: Kísie Ainoã)

Acostumados com viaturas da polícia pela região, os crimes também fazem parte da rotina no Aero Rancho, bairro mais populoso de Campo Grande. Chamando atenção para homicídios na última semana, a novidade por ali não é a violência, mas a forma de lidar com a rotina de insegurança.

Logo no início do mês, Vanderlei Carlos Ghidini, de 39 anos, foi morto a tiros na rua José Gilberto Abuhassan. O crime, que chamou atenção para a região durante a noite do dia 2, foi mais um presenciado pela comerciante Emylly Souza de Lima, de 21 anos.

Ela conta que o cotidiano é feito de ocorrências policiais desde que nasceu, mas que a grande diferença tem sido aprimorar o jeito de encarar cada situação com o aparente aumento da violência.

Eu vi o cara morto na rua, depois que deram os tiros. A criminalidade é tão normal que a gente nem pensa mais, quem mora aqui tem que entender que faz parte do dia. Se não fizer isso, fica doido e não dá para viver.

Rua José Gilberto Abuhassan, em que Vanderlei Carlos Ghidini foi morto a tiros. (Foto: Kísie Ainoã)
Rua José Gilberto Abuhassan, em que Vanderlei Carlos Ghidini foi morto a tiros. (Foto: Kísie Ainoã)

Se preparando para ter o primeiro filho, ela explica que o medo precisou ser abandonado para continuar a vida. “Eu nem ligo mais, a gente aprende a viver com isso porque não tem como mudar. O tráfico e as outras coisas estão na nossa cara, no nosso nariz. Tem criança, adulto, jovem, todo mundo envolvido”, disse.

Corpo de Vanderlei na José Gilberto Abuhassan. (Foto: Direto das Ruas)
Corpo de Vanderlei na José Gilberto Abuhassan. (Foto: Direto das Ruas)

Vizinho do local em que Vanderlei morreu, Álvaro Barbosa, de 58 anos, conta que em 21 anos morando no Aero Rancho percebeu que a violência chama mais atenção de quem vive fora do bairro. Diminuindo a intensidade do depoimento dado por Emylly, ele argumenta que mortes, por exemplo, são mais raras.

Mesmo assim, para o comerciante, algumas práticas precisam ser seguidas para que o dia-a-dia siga sem surpresas. “Aqui a gente não deixa criança ir e voltar da escola sozinha, tem o costume de buscar. Precisa ficar atento com as coisas também porque se não prestar atenção é furtado ou algo do tipo”.

Álvaro Barbosa, de 58 anos, diz que alguns métodos precisam ser tomados para seguir na vida sem "surpresas". (Foto: Kísie Ainoã)
Álvaro Barbosa, de 58 anos, diz que alguns métodos precisam ser tomados para seguir na vida sem "surpresas". (Foto: Kísie Ainoã)

Cuidado de dia e de noite  - Morador do bairro há quase 50 anos, Aparecido Melo Barbosa só ficou sabendo sobre o assassinato de “Karolzinha” por burburinhos. A jovem, de 23 anos, foi morta com quatro tiros na manhã do dia 31 de agosto, a poucas quadras da casa de Aparecido.

Oito dias depois do crime, o “manual de sobrevivência” do morador permite ficar sentado na rua Independente, em que a morte aconteceu, enquanto não anoitece, mas sempre de olho no entorno.

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Às vezes tem coisa maior, que não é normal, mas acho que tem piorado nos últimos anos. Fico aqui de dia, mas quando dá 18h já entro para casa e vou dormir, melhor prevenir porque a gente sabe que acontece crime mesmo.

O morador explica que há anos tem escolhido não abusar da sorte, “acho que não tenho medo porque aquele lá de cima protege, mas a gente fica atento”.

Desde que ficou sabendo sobre as últimas mortes, Rosa Pagani, de 47 anos, diz que a nova medida tem sido restringir a saída de casa. “A gente tá acostumado e fica com medo quando isso acontece, mas precisa seguir vivendo. Tento andar pelas ruas com mais gente e só durante o dia, acho que isso já faz diferença”, explica.

Mesmo com o medo conduzindo as atitudes e produzindo maneiras de prevenção, Rosa conta que não se vê saindo do bairro, “isso tem em todo canto, não adianta se mudar porque vai continuar na rotina do mesmo jeito. Todo mundo sabe disso”.

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