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Capital

Da brincadeira ao “choro” no violino: retratos da infância perto do lixão

Aline dos Santos | 09/03/2016 13:43
Keila faz da tristeza música em meio à remoção de favela. (Foto: Fernando Antunes)
Keila faz da tristeza música em meio à remoção de favela. (Foto: Fernando Antunes)
Parquinho improvisado é única opção de lazer para crianças de favela. (Foto: Fernando Antunes)
Parquinho improvisado é única opção de lazer para crianças de favela. (Foto: Fernando Antunes)

“Quando lá choram na deserta rua, as cordas vivas dos violões chorosos”. A poesia de Cruz e Souza descreve em palavras as lágrimas que Keila Márcia Surubi Severino, 10 anos, preferiu verter em música. Triste e preocupada em ter que deixar a favela Cidade de Deus, onde mora boa parte de sua família, ela fez "chorar" as cordas do violino que ganhou em um projeto social.

A vida na favela, que hoje ganhou assédio da imprensa após ser capa de jornal, passa longe do prateado da roupa que vestia para aparecer na televisão. “Eu tenho medo, porque não sei a hora que a vem a chuva e o barraco parece que vai cair”, conta a menina.

O instrumento musical, na verdade uma viola d'arco, aparentada do violino, foi presente em um projeto social. Ela faz aulas desde o ano passado. Mãe da menina, Marina Surubi, 34 anos, vende cremes e lingerie. A renda chega a R$ 400 por mês, mas ela conta que apesar das dificuldades incentiva Keila. “Sou mãe e pai. E digo sempre que é bola para frente”, afirma.

No centro da favela, surge o parquinho nascido do trabalho do mecânico Eriberto de Oliveira Silva, 51 anos. “Fiz para que as crianças saíssem do rio, era muito perigoso. As pessoas pensam que favela é só coisa ruim. Mas tem gente boa também”, diz.

No espaço, alheio ao vai e vem de caminhões e às dúvidas dos adultos, as crianças se divertem na casa de boneca, escorregador e balanços improvisados. A realidade é de moradias precárias, iluminadas pelos perigosos “gatos” e cercada de lixo

A operação de retirada de 390 famílias começou na segunda-feira (dia 7). A medida cumpre decisão judicial de reintegração de posse solicitada pela prefeitura de Campo Grande.

Os moradores serão removidos para outros terrenos. Por enquanto, 25 famílias foram levadas para área no bairro Vespasiano Martins. Os demais endereços são mantidos em sigilo pela gestão municipal, que alega risco de os terrenos serem invadidos. A área, perto do lixão, terá que dar espaço a uma cortina arbórea.

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