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Capital

De x-salada a teto no Noroeste, casal que dormia ao relento ganha ajuda

"Essa noite, desde que estamos aqui, foi a mais maravilhosa. Dormimos quentinhos", diz homem após reportagem

Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 29/06/2021 10:24
Emocionada, mulher grávida e marido agradecem com abraço a construtor que cedeu casa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Emocionada, mulher grávida e marido agradecem com abraço a construtor que cedeu casa. (Foto: Henrique Kawaminami)

O abraço registrado é dado pelo casal, ambos de 39 anos, que há um mês dorme acampado em um canteiro da Avenida Vereador Thyrson de Almeida, a um construtor que nesta manhã ofereceu um teto para eles morarem. Agradecidos por toda a solidariedade recebida depois da reportagem do Campo Grande News, o homem não se conteve ao dizer que teve a melhor noite desde que chegaram à Capital.

"Essa noite, desde que estamos aqui, foi a noite mais maravilhosa. Dormimos quentinhos, agasalhados, o pessoal ajudou muito. Só temos que agradecer", disse.

O rapaz tem 39 anos, a esposa também. Juntos, eles vieram de Miranda, a 201 quilômetros da Capital, onde lá deixaram quatro filhos. Aqui a mulher está grávida de cinco meses.

Ontem, com a sensação térmica de 3ºC, o Campo Grande News bateu na barraca deles para descobrir a razão do casal morar ao relento. Na reportagem, eles contaram que foram assaltados e bandidos levaram os R$ 1,6 mil trazidos para a Capital. A ideia era alugar uma casa, se estabelecer aqui e buscar os pequenos que ficaram com a avó.

Depois de reportagem, doações chegaram com colchões, edredons, roupas de cama e cobertores. (Foto: Henrique Kawaminami)
Depois de reportagem, doações chegaram com colchões, edredons, roupas de cama e cobertores. (Foto: Henrique Kawaminami)

O homem que hoje também pediu para não ser identificado disse que nunca se imaginava viver numa situação dessas, e que também se surpreendeu com tamanha ajuda que chegou.

Colchão, edredom, travesseiro, roupas de cama, cobertores, alimentos, roupas. Sacolas e mais sacolas agora lotam a barraca do casal. "Ganhamos lona nova, x-salada, cachorro quente, sopa, dois amigos trouxeram um frango que tinham acabado de fazer, estava muito gostoso. Sobrou comida até para o almoço de hoje", comemora o rapaz.

Também lhe ofereceram uma diária em uma vidraçaria no Indubrasil e só faltava o passe para chegar lá.

Café e bolacha também foram dados a casal para tomar café da manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)
Café e bolacha também foram dados a casal para tomar café da manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com um garrafa de café nas mãos, bolachas e um colchão, dona Maria de Lourdes, de 69 anos, trouxe o que podia de casa para ajudar os dois. "Me sensibilizei com a reportagem, pensei com esse frio, a única coisa que eu tenho para ajudar é o colchão. O ser humano tem que olhar para o outro, temos que procurar fazer o bem, é pouco, mas se cada um der um pouco tudo fica melhor", reflete. Hoje ela garantiu o café da manhã deles.

Enquanto a equipe esteve na barraca do casal, uma equipe da SAS (Secretaria de Assistência Social) chegou ao local para apresentar as unidades de acolhimento. Educadora social, Gislaine Gonçalves explicou que além de refeições diárias, lugar para dormir e atendimento social, o casal se aceitasse ir para um dos centros, poderia ser encaminhado ao mercado de trabalho.

"Mas tem que querer ir, não podemos forçar. Como eles recusaram, passamos orientação de que é perigoso ficar aqui, eles estão passando frio, mas é a opção deles", reforça a educadora.

Juntos, eles se negaram a ir para abrigo e depois receberam notícia de casa cedida. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juntos, eles se negaram a ir para abrigo e depois receberam notícia de casa cedida. (Foto: Henrique Kawaminami)

O casal de fato recusou ir para um abrigo. Mais receosa, a mulher esbravejou que desde ontem eles não tiveram mais paz. "A assistência social esteve aqui, falou que a gente tinha que sair, engraçado que quando a gente mais precisou, quando meu marido apanhou de pau e colocaram faca no meu pescoço, quando fomos assaltados e levaram tudo o que a gente tinha, ninguém veio ajudar a gente. Então não vamos para lugar nenhum", deixou claro.

Entre o ir e vir de doações e assistência social, de repente chega a surpresa maior. Um construtor, de 40 anos, que também pediu para não ser identificado, veio oferecer um casa num condomínio para a família "Eu tenho essa casa que eu alugo, e como eles estão nessas condições, até se estabilizarem, podem ficar lá", explicou.

Emocionado, homem chorou ao ver gesto de solidariedade. (Foto: Henrique Kawaminami)
Emocionado, homem chorou ao ver gesto de solidariedade. (Foto: Henrique Kawaminami)

Recebido com um abraço, o construtor disse ainda que viu a reportagem e se sensibilizou, justamente porque já passou por algo parecido. "Uns anos atrás, quando eu fui com a cara e a coragem para o Paraná, lá eu encontrei pessoas que também em ajudaram. E hoje eu posso ajudar, é o mínimo que eu posso fazer", resumiu.

A casa está toda mobiliada com cama, sofá, geladeira, fogão e já tem água e luz. Para o casal, ficou a alegria e a emoção de pensar que a próxima noite vai ser melhor que a passada.

"É muita emoção, estou muito feliz. Se Deus quiser, vamos buscar os nossos filhos. Que Deus abençoe muito ele", disse o homem.

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