Denunciado por barulho, terreiro de umbanda aponta intolerância religiosa
Os áudios enviados ao dono do imóvel, que mora em São Paulo, tem teor preconceituoso
Terreiro de umbanda, localizado no Jardim Leblon, em Campo Grande, denuncia intolerância religiosa. De acordo com a Mãe Mari, uma vizinha reclama de perturbação de sossego, algazarra e gritaria. Porém, ela nega as situações e informa que tem todos os alvarás para funcionamento, inclusive para celebrações até 22h.
Para comprovar que somente essa mulher se incomoda, Mari apresentou abaixo-assinado em que os demais moradores relatam não ter problemas com as atividades no local.
“Não consigo trabalhar direito, fico com o emocional afetado. Tenho medo que faça alguma coisa contra nós”, diz a religiosa.
Vice-presidente da Associação Casa de Oração Caboclo Pena Branca, Beatriz Gabriele da Silva Rodrigues Batista afirma que a vizinha enviou áudios para o proprietário do imóvel, se oferecendo para comprar a casa e exigindo a expulsão dos inquilinos. Ela também registrou Boletim de Ocorrência em 23 de março contra a casa de oração e, na última quarta-feira, a PM (Polícia Militar) foi ao local após reclamação de perturbação de sossego.
“A vizinha fala que é um inferno viver ali, que não tem paz e nem sossego, que as pessoas são mal encaradas. Ela já fez imagem do nosso quintal durante o dia”, afirma Beatriz.
Os áudios enviados ao dono do imóvel, que mora em São Paulo, tem teor preconceituoso, com menções a “tirar esse povo daqui” e medo de “jogar macumba”.
Conforme Beatriz, o imóvel é sede da associação, que funciona 24 horas e faz trabalho social, e também do terreiro. As celebrações acontecem das 19h30 às 22h, em três dias da semana: segunda, quarta e sábado. As atividades no local acontecem há cinco anos e as reclamações começaram em novembro de 2022. A associação foi fundada em 2014.
“Na umbanda, a gente utiliza o canto e o atabaque, mas nada estridente. Na mesma rua, tem vizinhos que escutam som alto, mas a polícia nunca apareceu. A varanda tem isolamento acústico e temos laudo de engenheiro que foi medir a questão do som. Já existe preconceito com religião por ser de matriz africana e tomamos todas as providências possíveis”, diz Beatriz.
Segundo ela, a vizinha é a única que reclama. Na ultima quarta-feira, ela conta que a PM chegou ao local às 21h30. Até às 22h, é permitido barulho de 70 decibéis. Rádio no volume alto, por exemplo, tem média de 80 decibéis.
Presidente da associação, Simone Silva Medina afirma que fará registro de Boletim de Ocorrência na próxima segunda-feira (dia 4). A entidade atende crianças e também distribui marmitas em bairros e para morador de rua.
Conforme o artigo 208 do Código Penal, é crime “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.
O Campo Grande News tentou contato com a vizinha, mas a reportagem não encontrou ninguém em casa. Os dois lados, a vizinha e os frequentadores, nunca se procuraram para dialogar.