Dona de oficina presa com droga consegue provar inocência, mas relata traumas
Caso aconteceu em agosto do ano passado em um galpão localizado na Avenida Tamandaré
A dona de uma oficina mecânica localizada na Avenida Tamandaré, em Campo Grande, presa em agosto de 2022 sob suspeita de envolvimento com tráfico de drogas, conseguiu provar inocência, mas alega que o caso destruiu sua vida.
Ao Campo Grande News, a empresária, que prefere manter a identidade em segredo, contou que no dia anterior aos fatos, um cliente assíduo da oficina levou uma caminhonete no local e pediu urgência no conserto dela.
Por conta disso, o marido, que é mecânico, e outros funcionários, trabalharam até às 20h para que o serviço fosse terminado. Como entregariam o veículo na manhã do dia seguinte e o esposo dela não poderia estar presente para entregar o carro ao cliente, entregou a chave para o rapaz e disse que assim que buscasse a caminhonete, deixasse a chave do galpão na oficina da família, localizada a 1 km de distância.
No dia seguinte, as polícias Civil, Federal e Militar realizaram uma Operação para encontrar as drogas que estavam sendo investigadas. Antes de entrar no galpão pertencente à oficina do casal, foram em outros dois locais.
No galpão, os agentes afirmaram que encontraram uma caminhonete preparada para receber os entorpecentes e duas toneladas de droga distribuídas em diversos tabletes encostados próximo a uma parede. A mulher disse que o galpão era utilizado para estacionar os veículos que estavam em conserto na oficina.
Como não havia ninguém no local na hora da descoberta das drogas, encontraram uma conta de água e ligaram para a titular. Aos policiais, a dona do galpão afirmou que alugava o espaço para o casal e passou o nome e endereço da oficina do casal.
Os agentes se deslocaram, então, para a oficina e encontraram a mulher. Quando confirmaram a identidade, a levaram até o galpão e deram voz de prisão em flagrante.
A mulher foi levada para a Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), onde o caso foi registrado. O advogado da família, Luiz Kevin Barbosa, contou à reportagem que a prisão foi realizada de forma equivocada, pois o flagrante só aconteceria se a mulher estivesse no galpão, no momento que os policiais invadiram o espaço.
Além disso, afirmou que o galpão não estava sendo investigado previamente e que os policiais sequer tinham o nome do casal como suspeitos, que só tiveram acesso à identidade deles porque a dona do local passou para eles.
O trauma - Após ser presa, o caso foi divulgado na imprensa e, nos dias seguintes, começou a afetar diretamente a rotina da família, uma vez que o casal possui dois filhos de 10 e 12 anos. Na escola, colegas descobriram que a mãe deles havia sido presa suspeita de tráfico e passaram a realizar bullying contra as crianças.
“Eles já não queriam ir, choravam pra não ir para a escola. Quando estavam afastados, uma coordenadora foi até a sala do meu filho mais velho e explicou pra turma dele, que ele não estava mais indo, pois gente com a índole dos pais deles não podiam ter filhos lá na escola. Isso um amiguinho dele ligou para ele para contar o que a coordenadora tinha falado na sala. Aí eles não quiseram ir mais”, contou a mulher.
Após passar 22 dias presa, a mulher foi solta, mas teve que utilizar tornozeleira eletrônica. Entretanto, quando saiu, fez questão de tentar se reerguer, pois afirmou que sabia não dever nada à Justiça em relação ao ocorrido.
“Não pensei em mudar de endereço, nem de casa, nem da oficina. Eu não devo nada, saí da cadeia no sábado e na segunda-feira já estava com a oficina aberta. Ela tinha ficado 15 dias fechada. Perdi muito cliente por causa disso, muita gente chegava aqui e falava: a oficina do jornal. Outros eram mais discretos, chegavam aqui falando que tinha uma oficina por perto que tinha sido fechada por drogas. Eles sabiam que era aqui”, relatou.
Porém, o pesadelo que parecia ter passado voltou a rondar a família no final do ano passado, quando o marido dela foi preso, após um mandado de prisão ser expedido contra ele.
O advogado alega que, em uma das audiências, argumentou que era preciso apresentar provas concretas da investigação, quando à participação do casal no caso, o que até então não havia ocorrido. Como resposta, ouviu do juiz que “não importa como a droga foi pega, importa que pegamos”. Por conta da fala, recorrerá na Justiça, pois para ele, como a droga foi apreendida importa, sim.
Além disso, no processo, consta o nome do cliente que deixou a caminhonete na oficina, mas que desde o dia da apreensão, ele não foi mais localizado.
“O galpão não estava sendo investigado porque a polícia não tem foto desse rapaz chegando no galpão, saindo. Eles não têm prova de quem foi que deixou lá, quem foi buscar, como a droga entrou no galpão”, disse a defesa.
Por conta de tudo que aconteceu, os filhos do casal estão com o psicológico abalado, principalmente pela ausência do pai.
“Tudo mudou do dia pra noite, minhas filhas, que eram umas crianças tranquilas, só choravam todos os dias. Reprovou na escola no ano passado, sendo que era uma ótima aluna, não conseguia ter desempenho na escola e eu nem pude cobrar dela”, disse a mulher.
Sete meses depois utilizando uma tornozeleira, a empresária passou novamente por audiência de custódia e, nesse dia, contou novamente por tudo que passou. O juiz do caso entendeu que ela não possuía relação com as drogas e a inocentou.
O marido, entretanto, teve a pena de seis anos em regime semiaberto decretada. Mas, até o momento, ele ainda não conseguiu deixar o presídio. “Se eles tivessem uma quantidade de drogas como essa, a situação financeira da família seria outra. Também sabem que a caminhonete não tem nenhum vínculo com o casal, e não apresentaram relatório de investigação”, contou o advogado, que relatou a situação financeira da família.
“Meu cliente aceitou quebrar o sigilo bancário e telefônico, justamente para provar o padrão de vida deles. Eles têm um carro popular, tem dívidas”, disse. Agora, a defesa tenta anular a sentença para livrar o homem da acusação de tráfico.
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