Em ação da Defensoria, moradores do “Carandiru” relatam dificuldades
Defensoria Pública fez mutirão neste sábado para contabilizar quantas pessoas vivem no local
Neste sábado (05), a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul realizou atendimento no condomínio Atenas, conhecido como “Carandiru”, com objetivo de contabilizar quantas pessoas vivem no local. As ações recorrentes no local ocorrem após a Operação “Abre-te Sésamo” da Polícia Civil cumprir mandados de busca e apreensão.
A cada atendimento feito era uma lembrança do dia 6 de junho, quando 273 policiais entraram no condomínio, localizado na Mata do Jacinto. Medo, preconceito, falta de luz são algumas das consequências que ainda rodeiam os moradores.
A dona de casa, Dionísia de Oliveira, de 65 anos, é uma das que ainda está sem luz em sua casa. Atualmente, ela vive com R$ 600 de auxílio, do Governo Federal, e há 2 anos sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
A moradora do “Carandiru” conta que como alternativa usa velas e lanterna para iluminar e compra pouca comida para não estragar.
“Não tenho água gelada, se eu sentir calor, corro para o chuveiro. As pessoas fizeram gambiarra, mas eu não vou fazer, não quero sujar meu nome. Antes eu pagava energia normal”, comentou.
Sobre a operação, ela lembra de cada detalhe. “A cena está gravada na minha cabeça. Eu lembro deles [policiais] falando: ‘mão na cabeça, deita no chão’. Revistaram meus filhos, que estavam aqui em casa. Fiquei desesperada. Aqui tem pessoas boas, tem crianças, tem muita família”, pontuou.
Durante a ação, a dona de casa, Keliane da Silva, de 25 anos, lembrou-se das consequências que ainda passa e dos preconceitos enfrentados. Faz dois meses que não consegue arrumar a geladeira por ter ficado sem energia.
É uma situação triste, porque estragou a geladeira por ter ficado sem energia e as pessoas tem preconceito em vir aqui arrumar. Tem gente que chega aqui na frente, quando vê onde é, vai embora. Ficam com medo, acham que tem bandido”, lamentou Keliane.
De acordo com Keliane, ela comprou o apartamento em um acordo “boca a boca”, sem nada documentado. Em 2018, ela e o marido pagaram R$ 1,5 mil. “Na operação, a gente tentou sair daqui e alugar uma casa, mas estava bem caro”, disse.
Atendimento – Conforme explica a coordenadora do Nufamd (Núcleo da Fazenda Pública, Moradia e Direitos Sociais), defensora pública Regina Célia Rodrigues Magro, o objetivo do mutirão é realizar um levantamento dos ocupantes existentes no local.
“Viemos fazer um levantamento de quem está ocupando a área. Queremos diálogo com a Prefeitura e o Estado para ver se encontram uma solução de encaixar essas pessoas na política habitacional”, ressaltou.
A Defensoria Pública também garantiu durante audiência na 16ª Vara Cível de Campo Grande, no dia 10 de julho, a suspensão por 90 dias do processo de reintegração de posse dos imóveis da Construtora Degrau LTDA.
Neste período, a empresa deverá apresentar uma proposta de indenização às famílias que moram no local. “Se não apresentarem nada, vamos dar continuidade ao processo”, completou Regina.
Invasão – A história do “Carandiru” já se arrasta há 18 anos. Conforme a advogada da Degrau Ltda., Hilda Priscila Corrêa Araújo, já contou ao Campo Grande News, a obra do condomínio paralisou no início de 2002, pouco depois de a empresa entrar em crise financeira. No dia 3 de outubro de 2005, tiveram suas primeiras invasões.
Antes disso, a história da empresa começou em 1981 e em 1994 começou a construir. Em 1999, quando o Brasil passou pela crise monetária, a construtora quase teve inadimplência generalizada e alta demanda de cancelamentos. Em 2001, entrou em crise financeira.
Operação – No dia 6 de junho, a Operação “Abre-te Sésamo” da Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em 46 apartamentos nos três blocos inacabados.
Além de buscar alvos ligados a furtos e roubos, também foram enviadas equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Energisa e assistência social do Município para averiguar as condições dos imóveis e das famílias que ali residem.
Naquele dia, as ruas ao entorno do condomínio foram fechadas. Estavam no local 273 agentes da polícia, perícia, assistência social, bombeiros e até um helicóptero.
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