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Capital

Em Campo Grande, 340 imóveis não podem ser alterados ou demolidos

Toda manutenção precisa ser informada ao Poder Público e caso haja danos, podem ocorrer sanções

Lucia Morel | 25/09/2021 09:57
Casa ao fundos do "Alemão" teve que ser reconstruída. (Foto: Kísie Ainoã)
Casa ao fundos do "Alemão" teve que ser reconstruída. (Foto: Kísie Ainoã)

Com cerca de 340 imóveis em área de preservação do patrimônio histórico, nenhum deles pode ser alterado em sua estrutura ou demolido. Para quem mora ou mantém comércio nesses espaços, as dificuldades são grandes, já que toda manutenção precisa ser informada ao Poder Público e caso haja danos, podem ocorrer sanções.

Um dos casos que teve grande repercussão, foi a demolição iniciada pelo empresário Edson Barbosa de Araújo, 59 anos, dono da Conveniência do Alemão, na Avenida Calógeras. Imóvel ao fundo do local começou a ser derrubado para ampliar área de estacionamento, mas logo foi visado pelos entes municipais, que orientaram a recuperação idêntica do que já havia sido derrubado.

“Eu queria deixar acabar, mas me obrigaram a arrumar. Hoje, eu vejo com outros olhos, porque é um benefício pros meus filhos, netos e bisnetos”, analisa, lembrando que arcou com R$ 120 mil para recuperar o prédio. “Tive que recolocar o forro, arrumar todo madeiramento da época, os vidros e tudo do jeitinho que era. Tive que trazer material de São Paulo”, contou.

Segundo ele, se ele tivesse cuidado de tudo sem deixar acabar, teria sido mais vantajoso financeiramente e revela que até um ou dois anos atrás, falar do assunto era algo que o deixava revoltado, no entanto, hoje ele afirma que é um privilégio ter algo histórico preservado.

“As pessoas elogiam, os mais antigos principalmente acham bonito e me parabenizam por ter arrumado, mas confesso que não era essa a minha vontade”, diz, informando que atualmente usa a antiga casa como espaço para reunião com fornecedores e recepção. “O cliente olha e elogia”, revelando que muitos, inclusive, queriam alugar o espaço para cafés ou queijaria. “Mas aí teria que abrir mais vagas de estacionamento e não quero”.

Ali ao lado, brechó em imóvel de época alugado pelo comerciante Eliedson Mello, de 65 anos, também não pode ser alterado. No local, segundo ele, funcionou a primeira Câmara de Vereadores de Campo Grande. “Está tudo do jeitinho que era. As únicas coisas que podemos fazer é pintar, arrumar um forro”, relata.

Para ele, é importante preservar, mas o Poder Público deveria dar uma contrapartida ou incentivos para que os proprietários preservem. “Podiam dar desconto no IPTU”, avalia. Segundo ele, que aluga o espaço há oito anos, se o imóvel é antigo e está desmoronando, a prefeitura deveria ajudar o dono.

Em brechó dentro de imóvel histórico, janelas ainda são preservadas com madeiramento original. (Foto: Kísie Ainoã)
Em brechó dentro de imóvel histórico, janelas ainda são preservadas com madeiramento original. (Foto: Kísie Ainoã)

Recentemente, o Campo Grande News revelou que em acordo com o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, família dona de antiga casa – hoje demolida – na Rua Barão do Rio Branco, vai pagar R$ 300 mil pela destruição do bem que pertencia a parente que tentou fazer do local um estacionamento. O valor será usado na reforma do Obelisco e também na conservação de arquivos da Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande).

Outro caso de grande repercussão, é de casa localizada na esquina das ruas Antônio Maria Coelho e 13 de Maio. A Vivenda Ignácio Gomes, imóvel mais conhecido como a casa tombada do ex-vereador Paulo Pedra, foi vendida por ele à igreja Palácio de Deus e o caso segue na Justiça, onde briga é travada pela restauração do local.

ZEICs - Vale ressaltar que não são apenas os bens tombados que são impedidos de passar por alterações arquitetônicas ou demolições, mas todos localizados em quatro áreas de Campo Grande chamadas de ZEICs (Zonas Especiais de Interesse Cultural). Segundo o Plano Diretor da Capital, tais espaços “devem ser preservados visando evitar a perda ou o desaparecimento de suas características”.

As quatro áreas são a ZEIC 1, formada por 30 bens entre tombados e não tombados em vários bairros, como o Obelisco, o Museu José Antônio Pereira, a Casa do Artesão, a Escola Estadual Maria Constança, além das estações ferroviárias.

Por todo o Centro, prédios ainda preservam características originais. (Foto: Kísie Ainoã)
Por todo o Centro, prédios ainda preservam características originais. (Foto: Kísie Ainoã)

A ZEIC 2 é formada por 294 imóveis que, segundo o Plano Diretor, estão “isolados ou dentro de um conjunto arquitetônico, urbanístico ou paisagístico que possuem valor histórico e ou arquitetônico relevantes para os movimentos nacionais de arquitetura em Campo Grande - ecletismo, art déco, modernismo, relevantes para a memória e identidade local, regional e nacional; constituindo exemplares únicos ou um grupo construído em sua época e com condições de restauração, os quais precisam de incentivos para montar o poliedro cultural da cidade”. Há bens em várias ruas e bairros.

A ZEIC 3 possui bens “caracterizados por sua qualidade histórica para a cidade” e a 4, “espaços que se destinam ao resgate e à preservação da memória coletiva dos lugares onde ocorreram fatos de valor histórico ou legendário”, como a Feira Central, o monumento Cabeça de Boi, a Praça do Preto Velho, entre outros.

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