Em despedida, amigas de Michelli pedem justiça: "ele não pode sair impune"
Michelli tinha 36 anos e morreu depois de ser atropelada por motorista bêbado na Avenida Fábio Zahran
A sexta-feira está sendo de despedida para amigos e familiares de Michelli Alves Custódio, de 36 anos, morta atropelada por condutor bêbado na madrugada desta quinta-feira (13), em Campo Grande. "O que me dói é o medo da impunidade, nós queremos justiça. Não é justo ele ficar solto, ela era trabalhadora, com dois filhos pequenos para criar”, disse a nutricionista Edvanea de Moura Nogueira, que acompanha o velório nesta manhã.
Edvanea conta que Michelli era rodeada de amigos e por onde passava roubava a cena. “Sempre muito arrumada, na faculdade até o chinelo que ela ia era enfeitado, muito engraçada e ainda tentava apaziguar as brigas entre a turma. Ela era inexplicável, sempre ajudávamos todo mundo".
Edvanea perdeu o marido em 2020 em um acidente de carro e agora pede justiça para a amiga. “Meu marido bateu o carro porque ele aquaplanou, foi um fator ambiental e da pista, agora a Michelle não, ela estava na casa dela e um irresponsável que escolheu beber tirou a vida dela”, disse.
Michelli era formada em nutrição, mas atualmente trabalhava na Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), onde fazia a identificação de autores infratores e dava os pontos da multa. Para a secretária adjunta do setor, Maria Cristiana, de 56 anos, ficou um vazio no local. "Hoje cheguei para trabalhar e vi a mesa dela, com as coisinhas dela e ficou aquele silêncio, não queremos nem mexer por enquanto”, lamentou. "A Michele era extrovertida, brincalhona, sempre maquiada e alto astral", descreveu Cristiana.
A amiga de faculdade, Kellyn Guedes, de 37 anos, lembra também da humildade de Michelle e conta que ela sempre ajudava a quem pedisse. "Era uma amiga muito querida, sempre pronta pra ajudar qualquer um. Na faculdade fez de tudo para ajudar uma menina que ganhou bebê".
No dia do acidente, Kellyn afirma que Michelli estava aquele horário na rua porque a amiga Samantha bateu pedindo ajuda. "A Michelle era assim, ela ajudava sem julgar. Para a Samantha ela levava roupas e comida direto. No último aniversário dela fez de tudo e levou ela em um restaurante para almoçar. Eu até agora não estou acreditando no que aconteceu, é muito triste, esse homem não pode sair impune”, finalizou.
O caso - O acidente ocorreu na Avenida Fábio Zahran, esquina com a Rua Ouro Branco, na Vila Carvalho, em Campo Grande, por volta de 1h40 da madrugada de ontem (13). Michelli foi chamada no portão pela travesti Samantha a quem prestava ajuda e enquanto conversavam na frente da casa, foram atropeladas pelo Renaul Sandero. Os filhos dela, de 8 e 10 anos, presenciaram o crime e desesperados, acreditando que a mãe estava viva, pediram socorro a um vizinho.
Charles de Goes Júnior, de 30 anos, ainda tentou fugir e um familiar de Michelli chegou a subir no capô para impedi-lo, mas também ficou ferido. O condutor só foi preso porque o carro parou de funcionar uma quadra depois da batida. Teste do bafômetro resultou em 0,83 miligramas por litro de ar expirado.
Interrogado, Charles confirmou que bebeu por mais de nove horas seguidas antes do acidente e foi embora de carro. No trajeto, afirma que o pneu estourou e ele se envolveu no acidente. Segundo ele, após a batida "não viu nada" e não sabia que atropelou pessoas, sendo avisado por uma colega que estava no carro pediu para que ele parasse.
Contudo, perícia contesta a versão do condutor e aponta que o pneu estourou quando o carro bateu no meio-fio e subiu na calçada, entortando o aro. A Polícia Civil também afirma que não é possível que Charles não tenha visto o acidente "nem mesmo a pessoa que subiu no capô tentando detê-lo, vez que entrou na primeira curva e parou um pouco adiante, provavelmente quando acabou o óleo do carro e o mesmo deixou de funcionar". Conforme a polícia, havia muito óleo derramado em todo o percurso e ele ainda dirigiu uma quadra inteira após os atropelamentos.
No pedido de prisão preventiva, a delegada expõe a gravidade do caso. "(...) deixou duas crianças órfãs e traumatizadas por verem o corpo da mãe inerte, envolto em grande quantidade de sangue em frente a sua residência, tal cena jamais sairá de suas mentes, terão que conviver com a dor da perda daquela que lhes supria as necessidades físicas e emocionais, aquela que trabalhava para lhes garantir o sustento", destacou a delegada Joilce Ramos.