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Capital

Enquanto mulher é presa por "vista grossa", estuprador nem sequer foi julgado

A mulher foi presa por equipes da 7ª Delegacia de Polícia Civil no Jardim Santa Emília nesta terça-feira

Geisy Garnes | 19/05/2021 18:27
Autoridades responsáveis por operação contra pedofilia, que teve uma mulher presa entre 20 pessoas. (Foto: Marcos Maluf)
Autoridades responsáveis por operação contra pedofilia, que teve uma mulher presa entre 20 pessoas. (Foto: Marcos Maluf)

Após a condenação de sete anos, a Operação Araceli mandou para a prisão mãe que consentiu com o estupro da filha. A mulher de 53 anos foi levada para a delegacia e de lá para o presídio nesta terça-feira (18), mas enquanto ela paga pelo crime, o próprio autor do estupro ainda aguarda em liberdade pelo julgamento.

A história por trás da condenação começa a ser desenhada quando a filha da presa tinha ainda 5 anos, idade na qual perdeu o pai. Um ano depois, a mãe se casou novamente, se envolveu com um servente de pedreiro. Não demorou muitos para os abusos começarem.

Dos 6 aos 12 anos a menina foi molestada. Na adolescente, a violência piorou. Foi quando a mãe soube e consentiu com crime. Ao descobrir que a enteada estava namorando, o homem se apoiou na religião da mulher para ter “autorização” para o estupro, jogou uma bíblia na mesa e afirmou que a partir daquele dia ficaria com a adolescente.

A jovem foi vítima do padrasto até os 16 anos, mas só conseguiu denunciar o crime que viveu em 2014, quando já tinha 24 anos. O caso passou por todo processo legal, primeiro de investigação na delegacia e mais tarde foi enviado a justiça. Em 2017 o autor e a mulher, com que, não era mais casado, foram denunciados pelo Ministério Público.

Na terça-feira, operação prendeu também homem condenado por abuso. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na terça-feira, operação prendeu também homem condenado por abuso. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por decisão judicial, o processo foi desmembrado. A mãe da vítima foi julgada pela omissão e consentimento com o crime e condenada a 7 anos de prisão no regime semiaberto.

A ação envolvendo o autor, no entanto, seguiu outro caminho. Por um tempo o réu “desapareceu”, não foi encontrado pela justiça e por isso o processo ficou suspenso. Anos depois foi reativado. A prisão preventiva do autor chegou a ser decretada, mas logo foi revogada. Com a pandemia as audiências do caso foram mais uma vez adiadas. Somado a isso, o suspeito se mudou de Campo Grande para Santa Catarina, o que tornou mais burocrático os procedimentos.

Agora, enquanto a mulher começa a cumprir sua pena, a família espera pela primeira audiência do processo do autor, que está prevista para acontecer no próximo mês, no dia 28 de junho. No entanto, é inevitável o receio de que algo a impeça novamente. “É uma imensa contração. Quem cometeu o crime está impune e quem se omitiu está atrás das grades”, relevou o marido da vítima, de 34 anos, a reportagem.

Enquanto o desfecho não vem, a vítima e toda família sofre com cada nova decepção e revive anos de descaso e violência.

Operação - Conforme apurado pela reportagem, a mulher foi presa por equipes da 7ª Delegacia de Polícia Civil no Jardim Santa Emília e levada para a unidade policial na terça-feira (18). Seu nome estava na lista dos mandados de prisão expedidos pela 7ª Vara Criminal de Campo Grande contra condenados por crimes praticados contra crianças e adolescentes, a maioria por abuso e exploração sexual.

Agentes do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), policiais civis e militares foram às ruas de ao menos 10 bairros de Campo Grande “à caça” de 27 alvos, dos quais 20 foram localizados.

A operação foi deflagrada no Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, 18 de maio, “Dia D” do Maio Laranja.

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