Famílias farão manifestação contra violência policial em Campo Grande
Ato ocorre no Parque dos Poderes, na quarta-feira, sob alegação de que há mortes ocorridas sem justificativa
Instituto Anjos da Liberdade, organização social que desenvolve projetos na área de direitos humanos em todo Brasil, realiza nesta quarta-feira (12), em Campo Grande, manifestação contra a violência policial, na entrada do Parque dos Poderes, na Avenida Mato Grosso, a partir das 13h. O ato deve reunir cerca de 100 manifestantes, com famílias de mortos por policiais.
Ao Campo Grande News, uma das manifestantes, que preferiu não se identificar, explica que o protesto visa demonstrar o sofrimento que pessoas próximas a vítimas de ações onde há uso indevido de violência. “Os problemas que vítimas pretas, brancas, pobres ou não - independe de raça, cor e religião - têm enfrentado por parte de quem deveria nos proteger”.
“Se a gente não fizer barulho, vai continuar assim, A polícia simplesmente está chegando e atirando, em alguns casos. Foram muito jovens, inocentes, pais de famílias ou filhos que não foram noticiados. É como se essas pessoas não existissem. A gente quer que as famílias dessas vítimas sejam vistas, ouvidas e lembradas. E que as autoridades tomem algum tipo de providência, seja o secretário de Segurança, a Corregedoria ou o governador. Alguém precisa nos enxergar dentro dessa situação”.
Segundo dados divulgados pelo Monitor da Violência, Mato Grosso do Sul mais que dobrou o índice de mortes provocadas por agentes vinculados à PM (Polícia Militar) - foi de 21 para 45 -, o maior crescimento em todo Brasil, que no geral, teve tendência de queda na maior parte das unidades federativas.
Com base apenas nos dados da corporação, o número passou de 17 para 34. Em nota, a instituição havia ressaltado que a comparação entre os anos de 2020 e de 2021 não é “adequada”, já que o ano anterior foi o primeiro da pandemia, quando havia maior restrição de mobilidade urbana; ainda que os demais estados tenham tido números decrescentes.
Comparando, conforme números da PM, nos anos de 2019 e 2021, haveria decréscimo de 38%.
De acordo com os dados fornecidos pela corporação à reportagem, entre 1º de janeiro e 7 de julho deste ano, foram registradas 40 ocorrências com a denominação "homicídio decorrente de oposição a intervenção policial" e um total de 47 vítimas. A instituição também afirmou que os casos são investigados para verificar se houve ilicitude.
"Para cada uma das ocorrências é instaurado um inquérito policial militar que visa esclarecer todos os fatos atinentes a ocorrência, bem como, ao seu término, apontar se houve ou não indícios de cometimento de crime ou se a ação policial esteve respaldada por uma das excludentes de ilicitude, cabendo ao Poder Judiciário a análise final de todos os procedimentos instaurados", ressaltou a PM.
Mortes em Campo Grande - Segundo a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), 49 pessoas foram mortas em confrontos por policiais militares entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2023 na Capital.
Em 2021, a PM matou 17 pessoas em Campo Grande e, no ano seguinte, o número foi para 19.
Neste ano, confrontos entre policiais e suspeitos ou criminosos resultaram em pelo menos 18 mortes no Estado, contabilizadas pelo Campo Grande News. Em todos os casos, a versão dada pela polícia é que houve confronto e que os agentes apenas reagiram contra a ação criminosa.
Conforme boletim de ocorrência, Thiago Firmo Mendes, 38, morreu baleado após disparar contra agentes no Jardim São Conrado. Com passagens criminais, Marcos Antônio Alves dos Santos, 32, morreu a tiros após, segundo a polícia, ter resistido à prisão.
Wender de Figueiredo Aguiar, 38, foi morto em abril - segundo os policiais, ele estava com uma arma dentro do banheiro, quando foi surpreendido por agentes do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros).
Otávio Augusto Pereira Martins, 18, morreu no mesmo mês no Jardim Samambaia, em Campo Grande. Investigações começaram a partir da suspeita de que ele usava um Fiat Fiorino branco para roubar. Registro policial consta que ele atirou primeiro, antes de ser atingido e morrer na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Tiradentes.
Entre janeiro e março, este jornal identificou 14 mortes provocadas por policiais militares apenas em Campo Grande. Nesse período, Cleiton Bezerra morreu a tiros em Chapadão do Sul.
O entendimento de participantes da manifestação é que os casos divulgados pela polícia - que acabam por receber repercussão da imprensa - são os em que foi alegado existir passagens criminais prévias por parte de quem morreu ou confronto direto, iniciado pelo suspeito.
Neste ano, mulher de aproximadamente 30 anos, que não teve o nome divulgado, estava morta dentro de uma camionete que era de propriedade de um policial militar. Ela foi encontrada na estrada que dá acesso ao Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, presídio que fica na área rural de Campo Grande. Atualizações do caso não foram repercutidas.
(*) Matéria editada às 9h23 de 11 de julho para acréscimo da resposta da PM.