Fim de uma era? São Bento entrega últimas farmácias para credores
Com 74 anos de tradição, rede teve 80 lojas em 23 cidades. Agora, informa que terá uma farmácia só
A rede São Bento, que chegou a ter 80 lojas em 23 cidades e 74 anos de tradição, desapareceu das esquinas de Campo Grande. O grupo, que enfrenta recuperação judicial, ainda mantinha duas lojas abertas na Capital: na Avenida Guaicurus e na Rua Ceará. Porém, as farmácias foram fechadas nas últimas semanas.
Localizado na esquina das ruas Amazonas e Ceará, imóvel foi entregue em pagamento ao Banco do Brasil. Na segunda-feira, a reportagem verificou que o local ainda tinha adesivos da farmácia, mas recebia material de campanha política.
A informação repassada ao Campo Grande News é de que uma nova farmácia será aberta na Rua Arthur Jorge. O endereço mencionado à reportagem é pequeno, está fechado e ainda sem identificação. Por outro lado, a administradora judicial não encontrou loja aberta e questionou o grupo.
De acordo com o advogado Carlos Almeida, que representa a São Bento, já foram levadas as prateleiras e o estoque está em transporte. Nesta etapa, também há a regularização da documentação.
“Boa parte dos credores já receberam o imóvel doado para pagamento. Outros estão em fase de recebimento e alguns imóveis estão indo a leilão a pedido de credores que iriam receber os mesmos”, afirma.
Ainda segundo Almeida, o grupo tem interesse de continuar no ramo, reerguendo as farmácias São Bento. “Mas, neste momento, estão focados em pagar e honrar o plano de recuperação aprovado. Para assim quitar as dívidas que há com os credores”.
Representante da administradora judicial nomeada Real Brasil Consultoria, Fernando Abrahão informa que foi pedido esclarecimento a São Bento.
“Em vistoria de fiscalização realizada pela administradora judicial nas últimas semanas, não foram identificadas lojas abertas, o que foi objeto de pedido de esclarecimentos às recuperandas”, afirma
Já no cruzamento da Afonso Pena com a 25 de Dezembro, antiga loja vai passar por obras para ser novamente farmácia, mas de outro grupo.
Esquina da Saúde – Em 1948, a primeira São Bento foi aberta por Adib Assef Buainain na esquina da Rua 14 de Julho com a Marechal Cândido Mariano Rondon. Com slogan “Esquina da Saúde”, a loja se tornou uma rede e, no ano de 1982, houve sucessão familiar para os cinco filhos do fundador.
“Foi, então, com estrutura robusta e pronta para atender a demanda de seus clientes, que a Drogaria São Bento passou a figurar no cenário local e nacional como uma das maiores redes de farmácias do Brasil”, destaca a empresa no processo de recuperação judicial.
O grupo chegou a contar com lojas em 23 cidades de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, 1.200 colaboradores. Nas farmácias, portfólio contava com mais de 17 mil itens entre medicamentos, produtos de higiene, beleza, perfumaria e cosmético.
Mas de sinônimo de sucesso e crescimento, a São Bento chegou em 2015 com dívidas de R$ 73,9 milhões e entrou com pedido de recuperação na Vara de Falências, Recuperações, Insolvências e cumprimento de cartas precatórias cíveis em geral de Campo Grande. A medida foi para salvar a rede da falência.
No cenário dos problemas, o grupo apontou dificuldade econômico-financeira após investimentos em reforma e troca de plataforma tecnológica, num contexto de crise mundial, alta carga tributária e a alta taxa de juros. A empresa foi comprometendo os pagamentos rotineiros com fornecedores, parceiros e bancos.
Ainda segundo a rede, desde 2010 as farmácias enfrentaram concorrência desleal dos maiores grupos nacionais, que contariam com “incentivos fiscais exclusivos”.
Plano de recuperação - No ano passado, o plano de recuperação judicial da São Bento foi homologado pelo juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva. Até o momento, o endividamento consolidado da recuperação é de R$ 88 milhões. O montante é distribuído entre créditos trabalhista (R$ 11.857.062,44), garantia real (R$ 36.925.803,70), quirografário (R$ 38.508.638,00) e micro e pequena empresa (R$ 97.782,11).
Garantia real abarca bancos e credores com bens em garantia, enquanto quirografário é credor que não possui um direito real de garantia.
De acordo com Fernando Abrahão, o Grupo São Bento vem cumprindo o plano aprovado pelos credores. Como se trata de pagamento por meio de dação de imóveis, o juiz vem deferindo, ao poucos, os ofícios aos respectivos cartórios para que proceda a transferência.
“Quanto aos credores trabalhistas a recuperanda ainda não encaminhou nenhum documento de quitação ou prestou contas e informação quanto aos respectivos pagamentos. Lembrando que o quadro de credores trabalhistas apresentado vem sofrendo retificações em razão de novos créditos habilitados após a sua apresentação do quadro geral de credores pelo administrador judicial, o que também depende de análise e homologação pelo magistrado do processo”, informa Abrahão.