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Capital

"Foi a pior tragédia da minha vida", diz mãe de menina de 11 anos assassinada

Inezita Ramos é julgada por abandono de incapaz e Maykon Araújo por homicídio e estupro de "Estrelinha"

Por Silvia Frias e Bruna Marques | 28/08/2024 10:26
Inezita, acusada de abandono de incapaz, presta depoimento durante julgamento (Foto: Marcos Maluf)
Inezita, acusada de abandono de incapaz, presta depoimento durante julgamento (Foto: Marcos Maluf)

Com fala lenta, Inezita Ramos de Oliveira Araújo, 40 anos, disse que foi choque muito grande ter perdido a filha de 11 anos. “Foi a pior tragédia que podia ter acontecido, hoje fiquei louca, tomo remédio, fiquei debilitada”.

Inezita está no banco dos réus, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, acusada de abandono de incapaz, crime cometido contra os três filhos, em Campo Grande. À distância de duas cadeiras está Maykon Araújo Pereira, 32 anos, denunciado por homicídio qualificado e estupro da menina de 11 anos, conhecida no bairro Nossa Senhora das Graças como “Estrelinha”.

O crime aconteceu no dia 11 de dezembro de 2022. O corpo da menina foi encontrado no chão da cozinha. Tinha sido espancada e estuprada.

Inezita exerceu o direito parcial, respondendo apenas ao defensor público. Antes, o outro réu foi retirado da sala.

No depoimento, contou que tem 4 filhos, um deles, já maior de idade. À época do crime, em 2022, somente os três mais novos moravam com ela: a menina de 11 anos, outro de 3 anos e um bebê. Na casa do Nossa Senhora das Graças morava há três anos. “Ninguém me ajudava”, diz. A única renda garantida era os R$ 900 do Bolsa Família.

Maykon (branco) é retirado da sessão do júri antes do depoimento de Inezita (Foto: Marcos Maluf)
Maykon (branco) é retirado da sessão do júri antes do depoimento de Inezita (Foto: Marcos Maluf)

“Para complementar eu fazia programa”, disse Inezita, porém, afirmou que nunca atendeu os clientes em casa. Também oferecia serviço de capinagem. Admitiu que deixava os filhos sozinhos, pois não tinha condições de pagar babá. “Falei para ela não abrir a porta para ninguém, ela respeitava”, lembrou.

Inezita rebateu as críticas que recebeu. “As pessoas só olham o lado deles, não olhavam o meu; diziam ‘ah, a casa estava suja’”, disse, no único momento que a fala lenta deu lugar à ironia. “Não me diga, mas com uma criança de três anos e um bebê”.

Sobre o acusado pela morte, disse apenas que o “indivíduo era bem tratado em casa” e que não entendeu o motivo dele ter feito isso.  Na investigação, consta que Maykon já havia feito vários programas com ela.

Lembrou que a filha era “livre, alegre, estudiosa e responsável” e, por isso, ficava com os irmãos, sendo a sua “mão direita”.

Depois da morte da filha, Inezita diz que perdeu tudo. “Com nome sujo na praça, ninguém me dá emprego, aí me sujeitei a fazer novos programas, baratos, já tinha perdido as crianças mesmo. Passei a usar droga”.

Em julho de 2023, Inezita foi presa ao tentar invadir uma casa e se passar por outra pessoa. Hoje, está detida no presídio de São Gabriel do Oeste.

No depoimento, pediu nova chance. “Me deixa em liberdade para um novo recomeço, uma mãe como eu merece um novo recomeço, se puderem ter coração, vou fazer diferente desta vez”, garantiu.

Logo depois, o juiz Aluízio Pereira dos Santos, pediu para fazer pergunta sobre o encontro com o réu. Inezita lembrou que foi na rua, a caminho do mercado. "Ele perguntou se eu ia estar em casa mais tarde, ele disse que talvez passaria lá".

Em seguida, seria a vez de Maykon Araújo prestar depoimento, mas ele preferiu ficar em silêncio, até mesmo para o defensor público Rodrigo Stochiero.

O crime - A menina foi assassinada em casa, na noite de domingo. Ela foi encontrada caída no chão da cozinha, com sinais de agressão física e sexual. A perícia informou que a garota sofreu traumatismo craniano.

No dia seguinte, a polícia prendeu Maykon Araujo Pereira que confessou ter matado a menina. Ele foi até a casa da família para programa sexual com a mãe dela e encontrou a criança que cuidava dos irmãos. Ele justificou o crime, dizendo que havia bebido demais. Negou o estupro afirmando que “apenas passou a mão” na criança.

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