Frio entra por frestas do barraco, mas doação da campanha do agasalho não chegou
Campanha do Governo do Estado ainda vai demorar uma semana para chegar às famílias
O frio apareceu com força, mas em alguns casos as doações ainda vão demorar a chegar. Só nesta segunda-feira (27) o Governo do Estado apresentou o balanço de arrecadações da Campanha Seu Abraço Aquece. De 120 mil peças de roupas e cobertores em 2023, este ano o número saltou para 186 mil peças que vão para 310 instituições de Mato Grosso do Sul. O problema é que esse repasse só será feito a partir de junho.
Nesta semana de frio, as famílias só vão poder contar com doações diretas da população e de agasalhos coletados pelas prefeituras. É o caso de quem vive na Favela do Mandela, na região do Coronel Antonino em Campo Grande. Depois do incêndio de novembro as doações pararam e, sem agasalhos, as crianças até faltaram às aulas hoje.
Mãe de quatro crianças, sendo duas gêmeas de pouco mais de 1 ano, Elaine Zandomineghe, de 34 anos, pegou os poucos cobertores que tinha para fechar os espaços entre as madeiras da casa e pedaços de espumas foram colocados no telhado. Agora, todos precisam dormir juntos para que os cobertores restantes aqueçam durante a noite.
"Estamos dormindo todos juntos para conseguir dividir as cobertas, pois são muito finas e não aquecem direito. Os meninos menores estão usando duas cobertas que eles ganharam recentemente e enrolando, como charutinho, para não pegar muito vento”, compartilha a mãe.
Para que os dependentes não passem frio longe dela, Elaine preferiu que a filha de 9 anos ficasse em casa nesta segunda-feira (27). “A minha filha não foi na escola hoje porque está muito frio, preferi deixar ela em casa para ela ficar mais quente. O que precisamos são de calças, agasalhos, principalmente para crianças e cobertas de verdade, porque aqui o frio é dolorido".
Com as paredes e telhados feitos de material metálico, Maria Aparecida da Silva, de 62 anos, não tem condições de pagar para arrumar os buracos e proteger as cinco crianças que vivem ali. Hoje, seu coração ficou apertado ao ver a filha recém-empregada sem roupas para trabalhar.
"Precisamos de casacos para adultos, porque eles saem cedo para trabalhar. A minha filha ficou dois meses desempregada e agora ela conseguiu trabalhar, mas hoje foi um dia difícil pela falta de casacos. Eu até tenho casacos, mas eles são todos finos", desabafa a idosa.
A casa que Gislaine Santana, 41, mora com o marido e a filha de 2 anos é às margens de um pequeno córrego, que torna a sensação térmica ainda mais fria, quase impossível de ser amenizado pelas paredes de lona.
"Eu trabalho vendendo pão para conseguir comprar comida. o meu marido está sem trabalhar porque operou para tirar uma hérnia. Aqui precisamos de casacos maiores, porque o que recebemos são pequenos e na comunidade tem muita gente mais gordinha que fica sem casaco", conta.
Para a líder da comunidade, Greiciele Argilar, a sensação é que eles foram esquecidos após a grande comoção em novembro, mas as dificuldades continuam e nem todos vão conseguir mudar para as casas que estão em construção.
"Na comunidade nós precisamos de doações de roupas de frio para crianças e adultos. Depois do incêndio as doações reduziram 90%, parece que nós nem existimos mais que todos saímos daqui. Temos muitos barracos às margens do córrego e da área de mata e é onde parece que o frio dobra. Hoje um rapaz veio e deixou algumas roupas, mas todas de calor", reforça.
Atrasado - Segundo o secretário de Administração, “infelizmente a previsão do tempo não é exata. Pensamos nos momentos que normalmente faz frio no Estado”, justifica Frederico Felini.
Apesar de desde a semana retrasada a meteorologia emitir alerta de queda brusca, o governo do Estado ainda vai demorar uma semana para a triagem e repasse às famílias. Na tentativa de agilizar, 40 servidores foram destacados para agilizar o trabalho de separação de roupas por tamanho e finalidade.
O lado positivo é que, mesmo com o foco de arrecadação para ajudar a amenizar a tragédia do Rio Grande do Sul, o governo garante que a população abraçou as duas campanhas, ambas com sucesso.
“Essas duas frentes para atender sul-mato-grossense e os gaúchos, necessitou abraço maior e conseguimos. Conseguimos ajudar tanto aqui quanto o Rio Grande do Sul”, comemorar a primeira-dama Mônica Riedel.
O governador também agradeceu o engajamento e minimizou o fato dos agasalhos ainda demorarem para chegar às famílias que passam frio. “Só está iniciando a temporada de frio. Ela segue por junho, julho e agosto e nesse momento já vão estar atendidas. Já foi, inclusive, antecipada para que começasse na primeira semana de junho”.
Em Campo Grande - Já a prefeitura de Campo Grande está distribuindo cobertores desde o dia 10 de maio. O Serviço Especializado em Abordagem Social também passou a abordar pessoas em situação de rua e oferecer a remoção para abrigos.
No ano passado foram recolhidas 27 mil peças de roupas e cobertores e para 2024 a meta é arrecadar, pelo menos, 37 mil peças. No último fim de semana foram entregues 50 cobertores no Jardim Veraneio, além de 12 pares de calçados, 95 casacos, 28 peças de roupa em geral, roupa de cama e toalhas.
A campanha do agasalho do FAC segue aberta até 20 de julho, em mais de 200 pontos de coleta das doações (em todas as secretarias, escolas municipais e EMEIs, além do Colégio Master – Rua Jeribá, 653 – Chácara Cachoeira e Colégio Status – Rua Pedro David Medeiros, 210 Jardim TV Morena).
Quem deseja doar diretamente para as famílias da Favela do Mandela, entre em contato com a Greiciele pelo telefone (67) 99346-7696 ou (67) 99205-6047.