“Horrível”: a dor da viúva ao ver manobra adiar júri de réu por assassinato
Igor César de Lima Oliveira ganhou novo defensor faltando dois dias úteis para julgamento
“Pra ser sincera, é horrível”. Precedida por um suspiro, a afirmação da viúva Karine Pereira Baron escancara a dor para quem espera Justiça e vê uma manobra da defesa cancelar o julgamento do assassino do marido.
O júri popular de Igor César de Lima Oliveira, que em 13 de maio do ano passado matou o motorista de aplicativo Rafael Baron com dois tiros, estava agendado para terça-feira (dia 15) e marcaria o retorno dos julgamentos após suspensão de seis meses forçada pela pandemia do novo coronavírus.
Mas ontem, sexta-feira, às 16h38, um documento foi anexado ao processo de 590 páginas para pedir o cancelamento da sessão do júri. A defesa informou que estava assumindo o caso e justificou o cancelamento numa sequência de motivos: pouco tempo para analisar o “intenso conteúdo do teor processual” e outra audiência agendada no dia 15 em outra comarca.
Às 19h03 de ontem, o juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, Carlos Alberto Garcete de Almeida, cancelou o julgamento. Não sem antes lamentar a manifestação da defesa, que chegou a dois dias úteis do júri.
Até então, o réu era representado pela Defensoria Pública. “Traz transtornos enormes ao Poder Judiciário, especialmente à organização de preparação de todos os trabalhos preliminares para que uma sessão de julgamento seja viabilizada, envolvendo inúmeros servidores judiciários”, afirmou o magistrado na decisão.
O juiz lembra que há custos, arcados pelo Poder Judiciário, e que um membro do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se deteve a estudar o caso e é surpreendido com o cancelamento. No episódio, 35 mandados de intimação para jurados foram perdidos. Quando for marcado o novo júri, outros 35 mandados serão expedidos.
Já Karine Pereira Baron retrata o custo emocional de ver o julgamento cancelado pela segunda vez.
“A gente tem aquele baque, vai acontecer. Depois, não vai mais acontecer. É difícil. A gente precisa se preparar emocionalmente para reviver tudo isso. O sentimento de dor e perda”, diz Karine.
Com a mesma voz tristonha, conta que conseguiu voltar a estudar, cumprindo um desejo compartilhado no passado com o marido e em busca de um futuro melhor para o filho de 3 anos.
O réu – Quando cometeu o homicídio, Igor estava foragido do sistema prisional e se apresentou à polícia três dias depois. Na ocasião, alegou ter atirado porque ficou com ciúmes da esposa.
Num “cochilo” das autoridades, não chegou a ser decretada a prisão pela morte de Baron. Igor voltou à prisão para cumprir pela por outro crime. Pouco depois, conseguiu o benefício da progressão de regime e aproveitou para fugir.
O pedido de prisão pelo homicídio só ocorreu 100 dias depois da morte do motorista. Igor foi recapturado no dia 9 de fevereiro de 2020. O Campo Grande News não conseguiu contato com a defesa do réu.