Investigado por desvio de dinheiro, hospital recebe milhões em doações
Só em 2011, Hospital do Câncer recebeu R$ 2,3 milhões doados por moradores da Capital
No centro de denúncias de superfaturamento e alvo de operação da Polícia Federal, o Hospital do Câncer conta com a solidariedade para se manter de portas abertas. Em 2011, a unidade hospitalar, administrada pela Fundação Carmen Prudente, recebeu R$ 2.355.531,64 em doações e patrocínios.
O dado é do Sicap (Sistema de Cadastro de Prestação de Contas). O mesmo levantamento mostra que no período o SUS (Sistema Único de Saúde) repassou R$ 15.493.148,82. Em sua maioria, as doações são captadas por meio de ligações telefônicas e os valores são recolhidos pessoalmente, que vão desde R$ 10 até onde pesar a boa vontade do doador.
Na semana passada, o MPE (Ministério Público Estadual) requereu à Justiça o afastamento da cúpula do hospital: Adalberto Abrão Siufi (diretor-geral), Blener Zan (diretor-presidente) e Wagner Miranda (diretor-financeiro). "É certo que nenhum doador se sentirá seguro a saber que parte de sua doação está sendo revertida para as empresas dos requeridos", enfatiza a promotora Paula Volpe. Sem posicionamento do judiciário, o Conselho Curador do Hospital afastou a direção na noite de ontem.
Conforme a denúncia, Siufi fez manobra para manter contrato com a empresa Neorad, do qual é proprietário, e rendia, em média, R$ 3,1 milhões por ano. Pressionado pelo Conselho Curador, o contrato com a Saffar & Siufi Ltda (nome oficial da Neorad), que perdurava desde 2004, foi rescindido em agosto do ano passado. Contudo, em março deste ano, sete meses depois, o Ministério Público recebeu a informação de que a sucessora no contrato foi a Siufi & Saffar Ltda.
Apesar dos nomes invertidos, as empresas tem o mesmo quadro societário. Além de Adalberto, a Siufi & Saffar pertence a Issamir Farias Saffar. Entre 2007 e 2010, a Saffar & Siufi recebeu R$ 12,7 milhões. O detalhe é que o contrato previa o pagamento do valor estipulado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mais acréscimo de 70%. Siufi também é questionado pelo pagamento de altos salários parentes. Já a Blener e Wagner são donos da Elétrica Zan, que, entre 2002 e 2011, recebeu R$ 26.408 do Hospital do Câncer.
Sangue Frio – Na terça-feira, a PF apreendeu documentos na casa de Adalberto Siufi, na Neorad, Hospital do Câncer e Hospital Universitário. São investigados crimes de superfaturamento, corrupção, formação de quadrilha. A operação Sangue Frio terminou com a apreensão de R$ 200 mil e armas. Siufi chegou a ser preso pelo porte ilegal, mas foi solto ao pagar fiança de R$ 30 mil. O diretor do HU, José Carlos Dorsa Vieira Pontes, foi afastado por 60 dias.
Ontem à noite, o conselho curador da Fundação Carmem Prudente afastou os diretores investigados pela Polícia e aprovou a indicação de uma nova diretoria executiva para gerir o Hospital do Câncer.