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Capital

Mãe diz que não usa drogas e quer de volta guarda de filha estuprada pelo pai

Mulher detalha história que começou quando ela aceitou R$ 100 e um sacolão para transportar drogas e terminou com estupro da filha

Luana Rodrigues | 03/06/2017 07:15
Mãe conta história que resultou em estupro da filha, ainda criança. (Foto: Luana Rodrigues)
Mãe conta história que resultou em estupro da filha, ainda criança. (Foto: Luana Rodrigues)

Uma história triste e complexa. Apontada como negligente e usuária de drogas, a mãe de uma adolescente de 14 anos que denunciou o próprio pai à polícia de Campo Grande por agressão e estupros recorrentes, diz que há anos busca socorro para a filha. 

Ao Campo Grande News, a cozinheira, de 37 anos, conta que já não é mais usuária de drogas, trabalha e ainda cria o filho de 22 anos, que tem deficiência mental.

O relato da mulher começa com o que houve há dez anos. Ela perdeu a guarda dos sete filhos, depois de se envolver com drogas, no ano de 2007, e acabar presa por tráfico, durante um ano e oito meses.

“Eu criava meus filhos sozinha, um dia me ofereceram R$ 100 e um sacolão para buscar uma droga no Guaicurus e trazer até o Santo Amaro. Eu aceitei e fui presa”, conta.

Fora da cadeia, a mulher começou a usar drogas e, em 2011, foi proibida de conviver com os filhos. As sete crianças, incluindo a menina estuprada pelo pai, que na época tinha 7 anos, foram levadas para abrigos, onde ficaram por um ano e depois foram 'divididas' entre as tias, irmãs dela.

Em 2012, com o correr do processo, a Justiça decidiu dar a guarda de algumas das crianças aos pais. Foi quando a menina passou a morar com o auxiliar de serviços gerais, o próprio pai que, mais tarde, começaria a agredir, abusar e até praticar estupros contra ela.

Neste período, a mãe diz que nunca perdeu contato com a filha. “Ela me ligava e eu sentia meio tristonha, mas ela sempre dizia que estava bem”, conta.

A mulher diz que também não desistiu dos filhos, foi até a Defensoria Pública, mas ouviu de um defensor que eles não poderiam fazer nada, pois o histórico da mulher não era bom. Dos sete filhos, ela só conseguiu reaver a guarda do mais velho, um garoto, hoje com 22 anos, que tem deficiência mental.

Sempre em busca de notícias da filha, em 2014, a mulher disse que conseguiu ouvir da menina os primeiros relatos de maus-tratos e abusos praticados pelo pai. “Vi ela toda roxa, marcada, e fui delegacia, fiz o boletim contra ele”, diz.

Diante das marcas de surra e da denúncia de estupro, a menina foi levada para um abrigo e viveu bem por alguns meses até que, segundo a mãe, soube que voltaria a viver com o pai e fugiu do local.

“Chegue em casa do trabalho, tarde da noite, ela estava dormindo na minha cama. Fiquei preocupada e acordei ela. Ela pediu pelo amor de Deus, chorou e disse que sabia que iria ter que voltar a morar com ele(pai)”, conta.

Por 18 meses a mãe “escondeu” a filha com a ajuda da madrinha. “Eu via o quanto aquela menina estava sofrendo, decidi ajudar, ela ficou na minha casa, ia para escola certinho, estava bem”, conta a madrinha, autônoma de 48 anos.

E foi justamente o fato de a criança ir à escola que ‘entregou’ o ‘esconderijo’ onde ela estava, era ano de 2015. “Pela escola eles (Justiça) descobriram onde eu morava, a polícia foi lá e arrancou ela de mim, nunca foi esquecer daquele dia, da minha filha chorando, pedindo pra ficar comigo, mas eles levaram ela”, diz.

A menina voltou para o abrigo, no entanto, meses depois foi devolvida ao pai, enquanto à mãe a Justiça acusou de desobediência, já que a mulher não poderia ‘esconder’ a filha.

A filha deu um jeito e voltou a conversar com a mãe. Contava sobre os maus-tratos, as surras, mas nunca mais havia mencionado os estupros. “Em fevereiro ela fugiu dele e passou 15 dias lá em casa. Falou que apanhava muito e ele o tempo todo ameaçando a gente, dizendo que ia me matar, matar ela, os irmãos dela, até que conseguiu levar ela de novo”, relembra a mãe.

Mensagem enviada pelo pai ao celular da garota. (Foto: Reprodução)
Mensagem enviada pelo pai ao celular da garota. (Foto: Reprodução)

Dia das mães - Depois de viver por anos como esposa do próprio pai, a garota viu no Dia das Mães a melhor data para contar o que vinha sofrendo.

“Ela me ligou e disse que estava machucada, que precisava conversar. Me contou tudo e eu fiquei sem saber o que fazer, porque eu já tinha procurado a polícia e a Justiça tantas vezes e nada. Eu nem sabia o que dizer, foi quando ela me disse que tinha um vídeo que ele tinha gravado”,diz.

Mãe e madrinha orientaram a menina a fazer uma cópia da gravação. A adolescente salvou tudo em um cartão de memória e levou até a mãe.

“Quando eu vi, a vontade mesmo era de matar ele. Eu entrei em choque, não aguentei. Mas arranjei força e falei para ela: vamos na delegacia agora”, relembra.

O vídeo do abuso, que hoje, para a mãe, é motivo de choro e resignação, foi o que fez com que, pela primeira vez, fosse decretada a prisão do estuprador.

"Ele nunca achou que fosse ficar, tanto que continuava ameaçando a gente, mandando mensagens, espero que agora a Justiça seja feita", revela.

Hoje, a adolescente está abrigada novamente, mas o desejo da mãe, que mostra exames médicos para provar que já não usa droga há alguns anos, e ter a guarda da filha de volta.

“Eu não nego que fui presidiária, eu não nego que fui usuária de droga, mas eu refiz minha vida. Crio meu filho sozinha, estou montando um comércio, como vão deixar minha filha sem mãe se ela tem a mim? Eu não aceito, nunca vou aceitar”, reafirma a mãe.

A mãe é representada pela advogada Micheli Saracho, que pretende entrar na Justiça com um pedido de tutela da adolescente.

“Estamos entrando com um pedido de guarda para que possamos acompanhar o processo como assistente da acusação e também vamos buscar a Justiça contra o Estado que devolveu uma inocente a um estuprador”, diz.

O Campo Grande News procurou a titular da Vara de Infância, Juventude e Idoso de Campo Grande, que também é coordenadora da Infância e Juventude do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Katy Braum, por mensagem, a juíza se limitou a dizer que: 

“Infelizmente a Lei Orgânica da Magistratura me impede de falar sobre os processos que estão sob minha jurisdição”, e completou solicitando que a reportagem entrasse em contato com a assessoria de imprensa do TJ.

A assessoria respondeu que o caso segue sob os cuidados do juiz Marcelo Ivo, da 7ª Vara Criminal, e que ele não poderia comentar as circunstâncias do processo, pois está em segredo de Justiça.

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