Massacre no Amazonas faz medo de conflitos crescer em presídios do MS
Detentos estão avisando familiares para não irem visitá-los neste final de semana e há relatos de que objetos cortantes estão escondidos para que rivais do PCC sejam assassinados
A tensão vivida no Amazonas, onde 56 detentos foram mortos após rebelião em presídio de Manaus, no último dia 1º, gerou um clima de instabilidade nas cadeias do Mato Grosso do Sul para este final de semana. Familiares de presidiários estão sendo avisados por telefone para não comparecerem na visita com medo de que haja motins.
“Falam que a cadeira ‘vai virar’ (gíria de presidiários para rebelião), que vão fazer de tudo. Ficamos com medo”, disse a mulher de um detento do Estabelecimento Penal de Segurança Máxima de Campo Grande, que prefere não se identificar.
O clima tenso é confirmado por funcionários. “Está todo mundo apreensivo, com medo. Aquilo foi muito forte, vai dar repercussão no Brasil todo. Só a gente ficar de alerta não vai adiantar”, disse um agente penitenciário.
O motivo de tanta precaução, na verdade, é simples: a maioria dos 56 mortos no Amazonas são integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). A facção está em guerra desde 2015 pelo controle do tráfico de drogas no rio Amazonas com a FDN (Família do Norte), bando que tem maioria no controle dos presídios amazonenses.
A Polícia Federal aponta que o Mato Grosso do Sul, principal caminho de transporte de drogas e armas do Paraguai e Bolívia para estados como São Paulo e Rio de Janeiro, é controlado por líderes importantes do PCC.
Além da capital, a facção criminosa também estaria em sinal de alerta em pontos importantes do interior. Relatos repassados aos familiares pelos próprios presos dizem que há boatos de gente armada com objetos cortantes para matar desafetos.
O clima de tensão ficou visível na noite da última terça-feira (3), quando detentos da Penitenciária Estadual de Dourados (a 233km de Campo Grande) iniciaram um motim após um drone pousar no pátio do pavilhão um.
O local abriga presidiários ligados aos rivais do PCC, o Comando Vermelho, e o temor era de que seria um ataque. Na verdade o objeto levava celulares para o interior do presídio.
O diretor da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Ailton Stropa Garcia, negou mudanças no cronograma de visitas dos presídios neste final de semana, mas ressalta que a Pasta está em alerta. “Avaliamos a situação minuto a minuto para monitorar mudanças”, disse.
Desde o fim do último ano a Pasta também realiza operações pente-fina dentro dos presídios do Estado para evitar motins. Operação do tipo realizada no Instituto Penal de Campo Grande, na última quarta-feira, localizou 48 aparelhos celulares, 34 carregadores de baterias, 38 fones de ouvido e 29 chips.