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Capital

Medicamento chegou tarde para professor que foi intubado junto com os pais

Mauro morreu um dia depois que o antibiótico Polimixina chegou e 10 dias após a morte do pai

Paula Maciulevicius Brasil | 10/05/2021 15:21
Mauro ao lado dos pais Hermelinda e Maurício. Professores, pai morreu dia 27 de abril e filho 7 de maio. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mauro ao lado dos pais Hermelinda e Maurício. Professores, pai morreu dia 27 de abril e filho 7 de maio. (Foto: Arquivo Pessoal)

"A própria médica, quando pediu, disse: 'esse remédio está difícil em todo o País, mas a gente pede com esperança de que alguém consiga". Foi agarrada nesta expectativa que a artesã Lígia Cintra Soloaga, de 58 anos, moveu mundos e fundos junto com a família para salvar o afilhado Mauro Martinez Guimarães, de 36 anos. Professor de Português em um assentamento de Sidrolândia e também em Campo Grande, Mauro morreu na Capital um dia depois que o antibiótico Polimixina chegou e 10 dias após a morte do pai, também de covid-19.

Mauro havia ido para a casa dos pais, também professores, em Ribas do Rio Pardo, depois de tirar um dente. Infectados lá com a covid-19, todos vieram transferidos para internação hospitalar em Campo Grande. Por falta de vagas, cada um foi para uma UTI. O pai Maurício Soares Magalhães, de 64 anos, foi para a Santa Casa e a mãe Hermelinda Martinez Magalhães, de 62, para o Hospital da Cassems, ambos transferidos no dia 9 de abril. Mauro para o Hospital Regional no dia 11, um domingo.

"Desde que eles chegaram, lutaram de tudo quanto foi jeito", descreve a comadre. Maurício morreu na Santa Casa no dia 27, a esposa segue internada na Cassems, mas já apresenta melhora e passou pela extubação.

Saudável, jovem e feliz, Mauro morreu aos 36 anos, vítima da covid-19. (Foto: Arquivo Pessoal)
Saudável, jovem e feliz, Mauro morreu aos 36 anos, vítima da covid-19. (Foto: Arquivo Pessoal)

Intubado no Regional, Mauro precisou da Polimixina, um antibiótico que também tem sido usado para combater infecções decorrentes da covid-19, e que está em falta no hospital e em todo País. Quando a a família foi informada da necessidade, no dia 23 de abril, passou a correr atrás. "Movemos mundos e fundos, conseguimos do Pará, mas chegou e ele faleceu. A gente não conseguiu encontrar antes", lamenta a madrinha do professor.

Lígia procurou o Campo Grande News para levantar a questão da medicação, argumentando que o hospital deixa a cargo da família. "Quando eu ligava lá, eles só diziam que não tem no Brasil. Eu mesma liguei no próprio laboratório que produz, e me falaram que faltava insumo e estava difícil mesmo", conta a artesã.

A família passou a pedir Polimixina para todos os os hospitais possíveis. "Quando encontramos, lá no hospital tal tem, mas só vende para hospital. Eu ligava no Regional e explicava, vocês que têm que fazer o pedido e era sempre uma desculpa, a gente só conseguiu depois de eu pedir clemência", completa.

O pedido da médica foi feito no dia 23 de abril, mas a família só conseguiu ter o remédio no dia 6 de maio, vindo do Pará. A medicação que custou cerca de R$ 7 mil reais chega a ser comercializada por R$ 15 mil no Paraná, e em alguns casos, a venda é bem suspeita. "Sem nota, sem nada, o que parece desvio de medicação", acredita Lígia.

Com o remédio em mãos, junto da embalagem e da nota, a família entregou ao hospital. "Ele mal chegou a tomar, se tomou, foi uma dose e nós vamos lá pegar essa medicação. Levou mais de 10 dias para a gente conseguir",

Mauro morreu no dia seguinte à chegada do remédio, última sexta-feira (7). Correndo atrás das burocracias de funeral, não foi possível a família pegar de volta a medicação. No sábado (8), tentaram falar com o hospital, mas Lígia foi informada de que só nesta segunda-feira (10), porque o setor estava fechado.

"E tem gente pedindo se eu tenho, uma medicação que tem gente precisando e vai levar 48h porque está fechado? Isso devia ter um plantão, é um absurdo", questiona.

Nas palavras da madrinha, Mauro era um menino jovem, bonito, esforçado, trabalhador e sem nenhuma comorbidade. "Tem que cobrar o Estado sobre a medicação, se está faltando, tem que cobrar", frisa Lígia.

O Campo Grande News questionou o Hospital Regional sobre desde quando a medicação está em falta, quando seu uso é indicado, qual tem sido o processo de informar a família para tentar conseguir a Polimixina e se há uma previsão de chegada, mas até o fechamento desta reportagem não obteve respostas.

Este é o terceiro caso noticiado pelo Campo Grande News da falta do medicamento. Em abril, familiares de Lilian Gonçalves de Souza, de 35 anos, que teve de passar por uma cesariana para tirar o filho Arthur fizeram campanha das redes sociais. No entanto, a mãe veio a óbito sem nem conhecer o filho.

Na semana passada, também contamos o caso dos filhos que foram até o Paraná buscar o antibiótico, mas a mãe, Maria Izabel Moura Dortas, de 64 anos, morreu antes, de pneumonia.

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