Medo da dengue é unanimidade do começo de ano nas ruas
Orientação das autoridades de saúde é que o sentimento se transforme em ação para prevenir doença
A cada dia de 2013 cerca de 377 pacientes com sintomas de dengue são atendidos em Campo Grande. Os postos de saúde estão lotados, e uma pessoa já teve a morte confirmada. O quadro na cidade é de epidemia, situação que tem se repetido a cada dois anos. Nas ruas, como não poderia deixar de ser, todo mundo está com medo da dengue.
“Eu morro de medo de pegar dengue. Onde eu moro, no Nova Bahia, está tendo muitos casos da doença”, alerta a dona de casa Cerinha Agune, de 56 anos, que ainda não teve a doença.
O medo apenas não é o recomendado pelas autoridades de saúde, mais sim a atitude de prevenção. A reportagem do Campo Grande News foi, então, às ruas para saber se as pessoas realmente estão cuidando do seu quintal e tomando as devidas precauções contra o temido mosquito da dengue, o Aedes Aegypti, ou ainda desmerecem os riscos de deixar os criadouros.
“Eu cuido do meu quintal, dos meus cachorros, não deixo acumular água e faço tudo que estiver ao meu alcance na minha casa para evitar o mosquito”, garante o policial militar João Lopes, de 50 anos.
Atenta à epidemia, típica dos períodos de chuva e calor, a cozinheira Ana Paula Batistas, de 29 anos, diz que está preocupada. “Na minha casa faço o possível para manter tudo limpo, sem nenhuma garrafa, vasilha ou outra coisa que possa acumular água”, diz.
Dona Cerinha também lembra que o perigo vai além dos quintais e está nos terrenos vazios. Ela reclama que o poder público “não está se preocupando como deveria”.
Mas a dona de casa Maria Bezerra de Lima Santos, de 66 anos, faz questão de ressaltar que apesar do perigo iminente a todos, ainda é grande a negligência por parte dos moradores com os criadouros do mosquito.
“Faço a limpeza do quintal de casa, mas muita gente não tem educação e deixa tudo sujo. Não se importa”, frisa a realidade.
Repelente – Na luta contra a dengue, vale também espantar o mosquito que já nasceu. Simone Aparecida Charon, de 38 anos, diz que passa repelente nela e nos três filhos “o dia todo”. Ela já pegou dengue duas vezes e ainda foi vítima de leishmaniose.
Já Dona Cerinha prefere os antídotos naturais contra o mosquito. “Sempre procuro na internet tudo que é natural para espantar o mosquito. Uso citronela e, além disso, passo repelente na casa”, ensina.
Apesar de ninguém admitir, o descaso ou até o descrédito sobre o poder de um típico criadouro do mosquito ainda existe. De 5 a 10 de janeiro, foram identificados 1.884 focos do Aedes Aegypti. A impressão é de que em alguns casos só depois de se tornar a “próxima vítima” é que a dose de realidade chega.
Dona Maria já viu de perto o poder do mosquito: no ano passado perdeu uma amiga, que morreu diagnosticada pela dengue. “É uma doença que se der muito forte pode levar a morte”, alerta.
Nos postos de saúde, as vítimas de doença lotam os bancos de espera. Os sintomas e as dores são os mesmos: na cabeça, no corpo, no olho, fora as manchas vermelhas, coceira e moleza.
A estudante Andréia de Souza Azambuja, de 35 anos, foi até o UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Universitário nesta manhã para fazer o exame da dengue. “Vou volta à noite para saber o resultado”, diz.
Ela diz que esperou 2 horas para ser atendida, mas que isso é “pouco” comparado ao dia em que ficou 4 horas. Ela avalia que os postos de saúde não estão preparados para enfrentar a epidemia.
“Uma pessoa que chega lá aqui com os sintomas e ainda tem que ficar esperando horas para ser atendido, é muito tempo”, reclama.
Outra vítima, a comerciante Maria Helena Rodrigues Ferraz, de 52 anos, sofre com a epidemia dentro da própria casa. Ela está fazendo exames para confirmar a doença e a filha de 22 anos teve dengue hemorrágica diagnosticada.
“Vou fazer os exames pela segunda vez e enquanto isso o médico receitou tratamento como se fosse dengue”, diz.
Epidemia – De acordo com relatório da Secretaria Municipal de Saúde, Campo Grande registrou 4.910 notificações de casos de dengue nos 13 primeiros dias de 2013.
O avanço da epidemia é intensificado com a circulação do tipo 4 da doença, ao qual a maior parte da população está suscetível. O coordenador do programa Saúde em Educação, Victor Rocha Pires de Oliveira, pede a colaboração dos campo-grandenses.
“Os focos estão dentro de casa”, afirma. Desta forma, as pessoas devem limpar os quintais e tampar as caixas de água.
A Prefeitura vai intensificar o número de fumacês, veículos que borrifam veneno. O total passará de quatro para dez. Três veículos e os equipamentos serão cedidos pela SES (Secretaria Estadual de Saúde). Os outros carros pertencem à Prefeitura.
Foi ampliado o horário de atendimento nos postos do Coronel Antonino, Coophavila, Vila Almeida, São Francisco, Tiradentes, Moreninhas, Dona Neta e Albino Coimbra. Segundo o coordenador, a medida pretende agilizar o atendimento aos doentes. É cogitada a abertura de mais unidades de saúde.