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Capital

Mesmo com o maior orçamento, Saúde deixa paciente sem médico há 4 meses

Contratos frágeis e escassez de concursos públicos "afastam" médicos da rede municipal de saúde

Aline dos Santos e Jhefferson Gamarra | 03/02/2023 15:21
Unidade básica de Saúde nas Moreninhas está sem médico há 4 meses, (Foto: Marcos Maluf)
Unidade básica de Saúde nas Moreninhas está sem médico há 4 meses, (Foto: Marcos Maluf)

Dona da maior fatia do orçamento municipal, a Saúde tem deixado o campo-grandense na penúria. Há caso de posto sem médico há quatro meses e de paciente que precisou pedalar uma hora em busca de atendimento.

Com pressão alta, Lucinara Castro Silva, 45 anos, já precisou pedalar uma hora do Jardim Canguru, bairro onde mora, até às Moreninhas para conseguir atendimento médico efetivo. Ela conta que foi à UBS (Unidade Básica de Saúde), mas o médico achou normal a pressão de 16 por 8. Liberada, mas sentido desconforto, rumou até a unidade 24 horas, onde foi medicada.

“Em condições normais, venho do Canguru para as Moreninhas em quarenta minutos. Nesse dia, fiz em uma hora. Quando cheguei, precisei descansar um pouco”, diz.

Na manhã desta sexta-feira (dia 3), ela e os filhos, de 5 e 7 anos, estavam de volta às Moreninhas, mas desta vez o motivo foi o lazer, por lá ter a pracinha.

Lucinara já precisou pedalar um hora do Canguru até às Moreninhas para ter atendimento. (Foto: Marcos Maluf)
Lucinara já precisou pedalar um hora do Canguru até às Moreninhas para ter atendimento. (Foto: Marcos Maluf)

Perto da unidade 24 horas das Moreninhas, um dos mais populosos de Campo Grande, fica a UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família). No meio entre as duas estruturas, há um setor abandonado. O pátio tem resquícios de madeira queimada, lixo e uma sapatilha abandonada. Olhando do chão para o alto, surgem vitrôs quebrados, que permitem ver salas vazias.

Na última terça-feira (dia 31), quem procurou a UBSF, que faz parte da chamada atenção básica e é a porta de entrada do atendimento em Saúde, mais uma vez perdeu a viagem.

Pátio abandonado no trajeto entre a UBSF e a unidade 24 horas nas Moreninhas. (Foto: Marcos Maluf)
Pátio abandonado no trajeto entre a UBSF e a unidade 24 horas nas Moreninhas. (Foto: Marcos Maluf)

“Não tinha médico e nem enfermeiro para atender. Já faz quatro meses que não tem médico para a gente se consultar. Não sabem quando vai ter médico”, conta Claunice Alves Dauzaker. Ela precisa levar para o médico os exames dos rins, preventivo e colonoscopia.

A paciente relata que perguntou se tinha um enfermeiro na unidade. A reposta foi de que não tinha enfermeiro naquela terça-feira, mas talvez tivesse no dia seguinte.

Por determinação legal, a Saúde é a pasta que fica com a maior fatia do orçamento de Campo Grande. Para 2023, a previsão é de R$ 1,7 bilhão, que corresponde a 32,7% do orçamento municipal de R$ 5,4 bilhões.

Posto de Saúde do Mário Covas, o mais próximo dos moradores do Jardim Canguru. (Foto: Marcos Maluf)
Posto de Saúde do Mário Covas, o mais próximo dos moradores do Jardim Canguru. (Foto: Marcos Maluf)

Umas das situações que agravam ainda mais a delicada situação de atendimento da população na rede municipal de saúde são os encerramentos dos contratos de médicos recém-formados que abrem mão do vínculo com o município para fazer residência médica em outros locais, que na maioria das vezes tem início no fim de janeiro e início de fevereiro.

“Como muitos médicos na prefeitura são contratados e com pouco tempo de formação, eles saem para fazer residência, justamente nessa época do ano, e acabam desfalcando o quadro municipal. É muito ruim essa situação porque a maioria dos médicos da prefeitura são contratados, com um vínculo profissional muito fraco, que tem de ser renovado a cada seis meses, então acaba não tendo médicos fidelizados junto à prefeitura”, explicou Marcelo Santana, médico nefrologista e presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos do Estado de MS).

No entendimento do sindicato, a solução para fortalecer o vínculo do médico com a prefeitura e, consequentemente, melhorar os atendimentos em unidades pública de saúde, é a realização de concursos públicos e a publicação do plano de cargos e carreiras da categoria.

“Os contratos deveriam ser apenas para situações emergenciais. A prefeitura deve sempre fazer concursos públicos para que os médicos sejam fidelizados e ainda por cima a previdência do município ser valorizada. Hoje os médicos contratados destinam os rendimentos para o INSS, já os concursados fortalecem a previdência municipal”, acrescentou o representante da classe.

Em agenda realizada na manhã de hoje (3), a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, minimizou os problemas relatados pela população e pelo sindicato dos médicos. De acordo com a chefe do Executivo, o quadro de médicos para atender a rede municipal está completo e não há previsão de redução nos atendimentos.

“Foram chamados na semana passada quarenta novos médicos, estamos com o quadro de médicos completo e agora a gente avança para melhor atender a população. Não vamos diminuir atendimentos nas unidades e vamos prestar com excelência esse serviço, o secretário de Saúde tem visitado todas as unidades para solucionar todos os problemas. Problemas tem, mas vamos resolver”, afirmou Adriane Lopes.

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